sexta-feira, 28 de maio de 2010

Bob Dylan, o Blues-Man da América Agônica






Bob Dylan, o Maldito Blues-Man Rompendo Sombras e Escuridões


(Improviso para uma Crônica-homenagem)


“Quando ouvi Bob Dylan, pensei:
Então ainda não chegamos ao fim da linha...”

Allen Ginsberg, Poeta dos Beatniks



Robert Allen Zimmerman do Minnesota, oeste Americano, judeu peregrino que cantou suas marés altas e baixas, violão e gaita de boca, alma desterrada do Mississipi, poeta denuncista, humanitário, louco sonhador, chuva varrida pelo vento. As pedras rolarão. As chuvas cairão. Com ele, Bob Dylan, os loucos reaprenderam a sonhar.

Um mito dos Anos 60/70/80/90... E não existe outro. O maior poeta da rica música norte-americana. A verve de Faukner, era determinado e destemido na sua sozinhez de tímido gritante, válvula pulsante, gigante. E nunca lucrou muito com seus trabalhos. Lenda vida, espírito-que-anda do rock, subiu, desceu, foi ateu, cristão, judeu, mirabolante experimentou tudo o que pôde para permanecer ele mesmo, carne e coragem.

Hippye pop com sua metralhadora musicoletral, atacando as guerras lucrativas-infames, contra elas todas, os podres poderes; fugiu de armadilhas e não se assinou dono da verdade, qualquer verdade-vaidade. Não aceitou becos ou guetos, bandeiras. A contracultura não como cofre cheio, mas com seu ascoletral contra totens. Poesia nas letras, obsessão, sarcasmo, regurgitando o que via, fio terra, sacava – a realidade é um revólver quente, (parafraseio The Beatles) - cantava, lia, ouvia, sentia e declinava para permanecer mutante, música braba na corrente sanguínea.

Trabalhava a língua-linguagem. E profetizava enquanto poeta do caos (e pré-caos ou pós-caos) arrancando do enraizado country-folk puro e simples para fazer escalas e escolas, cifras & partituras. Escrever sobre Dylan é um perigo. Benzadeus. Rios, braços, correntes, nosso capitão. Inspirado nele faz tempo escrevi Negredos:


“Negredos e Correntes” (Poema)


Libertar, eles libertaram, pelo menos no papel entre moinhos e arados/
Mas se indenizaram; indenizaram os escravocratas de roubos vezeiros/
Em vez de nos indenizarem; à nós, os trabalhadores afrobrasileiros/
E de alguma maneira ainda estamos a uma coivara Acorrentados/
Os pés presos a terra, os tornozelos, os braços, os punhos cerrados/
Os olhos viajam, a mente abstrai e o espírito nos traz de longínquos degredos/
Mesmo que na nossa negritude de amalgamados/
Sejamos agora os Negredos/
Pobres Negros abandonados/
Depois de levas de escravizados/
Temos nossas memórias, lamentos, banzos e medos/
Dos filhos deste solo de mestiços com seus forcados/
Mas os olhos, a boca, os sentidos, as mãos, os dedos/
Ainda gritam contra os dezelos sociais deste Brasil de acorrentados.

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Nunca teve um sucesso dando lucro em primeiro lugar no hit parade. Não se deu lucro como seu meio. Influenciou Caetano e Belchior, o que por si só diz tudo e mostra a grandeza de ter sido o que foi e é & sempre será. Alma bem alimentada de raízes. Um branquelo judeu cor de mandioca vassourinha descascada cantando musica negra feito um pré-rapper?. A alma! a alma!. Já pensou?

Pretos, pobres, prostitrutas, moradores de rua, lutadores de boxe, gatos pardos, doidos, atirados, todos lavavam a alma no seu cantorio feito um folk-pop-banzo anglo-saxônico norte-americano. A América é um blefe? Deu vida aos miseráveis, feito um Walt Whitman pássaro preto da música em pé de guerra e letramentos contra uma América rica e injusta e amoral. Sentir dói. Testemunha de nódoas cantou-as, pulso a pulso. Um gênio na essência da palavra e também literalmente falando (por isso mesmo) tirou de letra.

Fizeram-no um mito mas ele se humanizou o mais que pôde. Não se perdeu como outros tantos, entre drogas e egos insarados nas insofrências. Não quis aura ou signoficante. Merece e faz tempo um Prêmio Nobel da Paz, da Literapura, qualquer coisa joiada assim.

Seu canto contra a guerra:

SENHORES DA GUERRA
Bob Dylan
"Vós, senhores da guerraQue construís canhõesQue construís aviões da morteQue construís grandes bombasQue vos escondeis atrás de murosQue vos escondeis atrás de secretáriasQuero que saibamQue vejo através das vossas máscarasVós, que jamais fizestes outra coisaPara além de construir para destruirJogais com o meu mundoComo se fosse um brinquedoDais-me uma arma na mãoE escondeis-vos do meu olharE virais as costas e fugis bem depressaQuando as rápidas balas cruzam o arComo o velho JudasMentis e enganaisQuereis que acrediteQue uma guerra mundial pode ter vencedorMas vejo para além dos vossos olhosE vejo para além da vossa menteComo vejo através da águaQue escorre pelo meu cano de esgotoVós preparais os gatilhosPara que outros os puxemDepois recostais-vos e apreciaisQuando o número de mortos aumentaEscondeis-vos nas vossas mansõesEnquanto o sangue escorreDos corpos dos jovensE se mistura com a lamaVós espalhastes o pior pavorQue poderia ser lançadoO medo de trazer criançasAo mundoE por ameaçar meu filhoNão nascido e sem nomeVós não valeis o sangueQue corre em vossas veiasEu sei de muitas coisasPara falar fora da minha vezTalvez me chameis de jovemOu de ignoranteMas há algo que seiEmbora seja mais novo que vósMesmo Jesus jamaisPerdoaria o que fazeisQuero perguntar-vos algoSe é vosso dinheiro que valePara comprar vosso perdão?Se achais isso possívelPenso que descobrirãoQuando a morte vos chegarQue todo dinheiro ganhoNão vos devolverás a alma"
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(Tradução livre de "Masters of War", do álbum "Freewheling Bob Dylan" de Bob Dylan, lançado em 1963, tempo de guerra dos EUA contra Vietnã)
Cortou a carne da América, na sua própria. Era parte branca e opressora dela, como também era filho de imigrantes (russos-lituanos) e sabia a dor da saga, de cada um com sua diáspora, cada ser-ilha com suas mensagens de socorro em garrafas, palavras, sons, enfrentações e enfrentamentos íntimos fechados, ciclais.

Parafraseando o próprio Bob Dylan, quando o ouço, em seu sussurro vento-singer, penso que tudo o mais é sacrilégio e a minha alma voa. Uma forte chuva vai cair?

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Silas Correa Leite, Itararé-SP, Brasil
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design
Site:
www.portas-lapsos.zip.net



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