terça-feira, 11 de outubro de 2011

Errações, de Silas Correa Leite, autor do Romance DESJARDIM


















ERRAÇÕES (Auto-Retrato Testamental)





Breve e agudo, epigramático, irônico, cara e coragem verbalizando

Esperança-utopia sempre – um outro mundo (as letras! as letras!)

Idílios pastoris, epifanias, e cortes na própria carne. Ai de mim!

Corte seco na linguagem espandongada, verve satírica, contundente

Resíduo cru da Geração 45 ainda (misticismo poético), nos Anos 60

Condensações – essências e medulas – eis o estilo quando não desenfreado

Às vezes a metralhadora dialética – sai de baixo; os vazamentos gerais

Às vezes o paradoxal, enxuto, anti-retórico – os versos – e os véus

Haiquases, microcontos, twitter-poemas, alma-olaria – a alma-nau

A palo seco vez em quando (vice-versos) – rigor concreto (neoconcreto)

Lucidez verbal; jorro neural - polaridades – chorumes em verso e prosa

Visibilidades, pertencimentos – humanismo de resultados, goya-marx

Remontagens de vocábulos – pensadilhos, trilhas, urbes, hangares, o caos

Jogam-se palavras no macadame das idéias, mixórdias, consertos críticos

Paródias, refabulações, letras de rocks e blues, hinos, louvações gerais

Desmontagens de palavras, parágrafos, trocadilhos, kamikazes urdidos

Ideologia-guaraná, signo não verbal, vanguarda, e-book, morte à matéria

Ficção-angústia: e chistes espirituosos, cracas, contentezas, barulhanças...

Volúpia, paixão de escreviver: estrelamentos, ilhamentos-crusoés na web

Prazer lúdico: jogo palavreal – o avesso do haver-se (palavras cruzadas)

Neologismos-chistes: salmos contemporâneos, existir dói o sobreviver

Romance com loucura-lucidez, vários finais, técnicas de lesmo com asas

Contraposições – desvairados inutensilios, bem-te-vi, bem-te-ri, aleluias

Significados e metalinguagens: metáforas etílicas, carpideiro cervejólogo

O que o poeta no fundo é? Errações & erranças – sal da terra oxidado

O inconsciente: clarificações – campo de trigo com corvos – porta-lapsos

O sentido de sobreviver, o retiro letral: ensaios-estúdios, homem-cerveja

Ensaísta de ocasião, resenhista e outros istmos. Ilhações-cibalenas: diques

Rações de subvida: existencialismo com placas de capturas: range a rede

Santa Itararé das Letras, Cidade poema, terra-mãe, auto-exilio íntimo

O pântano da condição humana - desterro de pasárgada: shangri-lá...

Sagrado coração de ser-se: inventário de partilhas, testamento-vazão

Escrever é éter, é ter, é ter-ser(se): código de barros macunaímicos

Épico-cético: o cínico estado mínimo, ai de ti neoliberalismo-câncer

O antivida: exílio literário, ócios do oficio nas enlivrações-bastilhas

Lacônico ou exagerado: complexo, obstinado, transliterário-purgação

Abismal subjetivo, declínio e levitação, aqui jazz o que se escreveu pra ser

Itararé-mãe: o neomaldito - fuga do ser de si em verbos-cálices, fermentos

O poeta finge a dor: solidão-coivara, solidão-albatroz, surrealismo ópio

A provinciana metrópole: Samparaguai, roubismo desde os bandeirantes

Neo século: ansiedade, Rosangela musa-vítima: salvação da lavoura

Onírico: fantasmas, fantasias e espiritualidades – consciência-remorso

Sacrifício, fome, dormir na rua, máscaras mortuárias, escombros de ler

Poemetos-feições. Prêmios, midia, tv – escrever é fuga do não se achar

Prosa cênica: Provocações (Pan-Abujamra), tudo a ler. Escrita catarse

O grotesco, a sozinhez da alma – geração teflon em infovias efêmeras

Vestígios de ausências. Guardados incontidos, poesilhas e entretextos

Não necessariamente nessa ordem o testamento letral do inferno agosto

Surrealismo, realismo fantástico, meio século-banzo: inquietudes.

Neruda-Lorca-Whitman-Rilke-Maiakovski-Jorge de Lima, Lispector

Alma-vida insana, precariedades, olhar-furacão, tez chão, ultrapássaro

Luz sobre as trevas: eu estive lá-aqui-mesmo: condenação a viver é isso

Escrever cetras e carbonos, vagações e poemas, contos, nas errações

Dei testemunho de mim escrevendo. Corto os pulsos com poemas, singro

A literatura como tábua de carne da vida. Condenaram-me a sobreviver

Destilo prosas e versos, pastoreio poemas, delato, testemunho, assino só

A passagem pela vida como se arrastasse a dor, a tristeza e a solidão

Escrever válvula de escape: A vida é um erro? Fermento odes-errações

Na tábua de carne da vida, onde me sirvo em penúria do existencialismo

Possível; quase cárcere de tentativa. Olhando os martírios das lavrações!

-0-

Silas Correa Leite – Augusta Sampa/Santa Itararé das letras

E-mail: poesilas@terra.com.br - Site: www.itarare.com.br/silas.htm

Blogue: portas-lapsos.zip.net

sábado, 24 de setembro de 2011

GENTE POBRE, OBRA PRIMA DE DOSTOIEVSKI









“Gente Pobre”, Primeiro Romance de Dostoievski
A marca do gênio já no nascedouro literário

Silas Correa Leite

"Gente Pobre" é o romance de estreia de toda a importante obra literária de Dostoievski, e que o revelou de imediato como escritor de grande futuro, inaugurando um estilo introspectivo-psicológico sem igual até o seu tempo histórico.

“A vontade de escrever é tão forte quanto a aversão pelas palavras.
Odiamos as palavras porque demasiadas vezes encobrem o vazio
e a vileza. Desprezam as palavras porque empalidecem diante da emoção
que nos atormenta. E, no entanto, outrora, a palavra significava dignidade
humana e era o melhor bem do homem – um instrumento de comunicação
entre pessoas” - Gustaw Jarecka



O romance Gente Pobre, escrito quando Fiodor Dostoievski tinha apenas 25 anos, é um poderoso livro de crônica social e entreditos, marco de um início que seria uma carreira literária retumbante. Duas personagens centrais, um humilde funcionário público e uma costureira que trocam correspondências entre si. “Jovem Dostoieviski: a síntese da arte e da verdade” (Bielinsk). Uma caracterização da pobreza à moda russa, daqueles tempos tenebrosos muitas vezes depois retratados com outras tantas tintas. Em São Petersburgo, os problemas diários relacionados com a habitação, a comida e o vestuário, e todo o sombrio entorno decorrente clarificado na obra marcada. O frio e a frieza de uma sociedade que ignora os pobres. Crítica social contundente, comendo pelas beiradas narrativas. Segundo alguns historiadores, uma das obras que mandou o autor para a cadeia siberiana.

Obra aparentemente sentimental, num entender primário que seja, em narrativa que propositalmente parece ser de simples crônicas, feito trocas de cartas (sentimentos, sonhadores, gente pobre; tristezas retratadas com primor), entre Makar Aleksieivitch, servidor público, e Varvara Aleksieievna, órfã desonrada – mais o subsolo da vida, inflexões, inquietações; a intimidade sagrada da penúria compartilhada. O miniobscuro retratado por miseráveis anônimos, essa gente miúda, anômalos, entre minitristezas, desavessos, a quase ralé no subúrbio de uma São Petersburgo. Cartas-janelas abertas entre escombros de sombras, zombarias, desprezos, toda uma obscuridade material. A agudeza de percepção já então determinante.

Gente Pobre é o inicio do ciclo literário geral de Fiodor Dostoievski (Noites Brancas, Os Irmãos Karamazov, 1879), o maior escritor do mundo de todos os tempos. Eram os 25 anos de um gênio então já se apurando na escrita, despertando assim, para sentir seu tempo e as humilhações da época, desesperos; um olhar sobre todas as coisas da sofrida gente. E ainda as citações: O russo, o mais rico dos dialetos eslavos, porque se conhece sua origem (Mikhail Lomonorov), “a riqueza, a expressividade e a concisão do latim e do grego”. As anotações do exímio e cult tradutor Luis Avelima (que também é poeta, escritor, jornalista e já traduziu François Villon, Henri Lefebre, Aristófanos, Mikhail Bulganov) à guisa de apresentação, enriquecem em muito o historial datado da obra, agora em primorosa nova edição (lançamento comentado por Manuel da Costa Pinto na Revista São Paulo, da "Folha de São Paulo") da Editora LetraSelvagem.

A “alma” das dores reinantes. A “alma” dos medos. A “alma” das inquietudes. A humanidade de seu tempo caprichosamente retratada desde a repartição pública viciada, à espelunca encardida frente a uma humilhação sobrevivencial. Vítimas preenchendo espaços do cenário literal. Gente Pobre é o retrato dessa gente humilde que nutre as injustas sociedades e são a verdadeira “alma humana” delas todas, de todos os vieses, tempos e ideologias multifacetadas. O humanismo possível? “Apesar de tudo, é verdade que tais homens (...), homens de peso, só existem na Rússia(..) Têm a verdade de seu lado, e esta e o bem triunfarão sempre sobre o vicio e a maldade” (Nascimento de um Escritor/1877, Diário de um Escritor, Dostoievski).

É claro que não seria um livro com o feitio criacional de Fiodor Dostoievski se uma carga psicológica - implícita ou não - não carregasse as tintas das personagens retratadas com especificidades contundentes, onde os seus passados pessoais se misturam com os seus feitios e reações, sequelas até. Frederico García Lorca já tinha se manifestado sobre o maior escritor do mundo depois reconhecido: “O insigne escritor russo, Fiodor Dostoievski, foi muito mais pai da revolução russa do que Lênin”.

Gente Pobre é o romance de estreia de toda a importante obra literária de Dostoievski, e que o revelou de imediato como escritor de grande futuro, inaugurando um estilo introspectivo-psicológico sem igual até o seu tempo histórico. Baseado na correspondência entre duas pessoas extremamente pobres que se amam numa relação terna mas infrutífera, sem perspectiva de consumação, um platônico de beijar paredes, para lembrar Clarice Lispector. Triste narrativa pungente da condição humana em torno desses dois personagens, como vítimas de fatalidades da vida numa sociedade onde poucos conseguem realmente sair do ramerão, e onde muitos se movem numa crueldade austera entre si, forçadas pelas inóspitas condições em que vivem. Makar e Varenka vivem um amor idílico ensombrado pelo que os circunda (Makar é muito mais velho que Varenka), agravando as suas próprias condições a um nível desesperador e quase doentio, mas sempre com alguma perspectiva de esperança fundadas em ilusões muitas das vezes patéticas, algo falsamente ingênuas, ilustrativas, no entanto, ao alcance do coração humano que tudo pode sonhar, sem se importar com as verdadeiras condições em que se encontra, principalmente nessas condições por assim dizer desprezíveis. A percepção no delinear a realidade que então sentia, pensava e proseava sobre. Aguda consciência de seu tempo percorre as narrativas trocadas...

O retrato social das camadas pobres de São Petersburgo em meados do século XIX, numa sociedade agonizante em que até os diferenciados sobrevivem em condições de penúria, então retratados de forma realista com episódios e personagens reveladoras dos desesperados e dos sem recurso, quase párias. E você vendo esses tempos atuais repetindo o passado, com quadros de dramas sociais e individuais, mais as vítimas de burocracias, desgraças várias, e também o egoísmo ou despotismo, próprios do ser humano pouco ser e ainda muito pouco humanus. Nada mudou. Nada mudará? O que foi será de novo, o que foi erração continua sendo, e o devir ainda é sombrio como as noites da Rússia de antigamente. A sustentação da narrativa do autor, situação de questionamento tácito, compreender quase o invisível... nas arestas do sobreviver de cada parte evocada em situação de penúria existencial. Próprio de gênio.

Dostoievski: a sentença de ser grande desde o começo. O preço de. A sina de ser genial. O destino de ser considerado para muitos o maior escritor do mundo, um mito que, já em Gente Pobre, vai revelando o artista comprometido com a causa humana: de retratar a sobrevivência possível, a alma humana respirando as sofrências pela perspectiva da esperança como inteligência da vida. Dostoievski compreendeu mais a alma humana do que a própria alma humana compreendia a si mesma. Escrever, criar, revela a nossa própria alma, disse Demétrio. Com Dostoievski a lucidez então emergente no achadouro de entender as essências do subviver, a flor da consciência, o território da contemplação, restaurando nos quadros narrativos a própria busca da dignidade humana. O dialogo entre pobres seres solitários, na miserabilidade pungente de vidas efêmeras, entregues... a consciência da incompletude e a ciência que não há final feliz no dezelo humano...

Acima de toda a desgraça e pobreza adjacentes, sobrepõem-se as poucas alegrias que justificam a existência e todas as mágoas dela decorrentes, quando momentos sonhados aparecem lampejos cruciais de que os outros não são assim tão maus quanto parecem, tentam sobreviver com as amarras decorrentes do custo de estarem vivos. A história de amor não acaba de forma feliz nem infeliz. Não há felicidade ou infelicidade, e sim de uma forma realista que dá ainda mais valor ao romance, com amor e momentos sublimes de pura emoção descritos de forma única, como se não terminasse, sim, talvez até se prolongue através dos tempos, com as vítimas da realidade e dos acontecimentos que forçam os destinos e acabam destemperando momentos e artes, fugas e desencontros, incompletudes e impropriedades. A realidade da vida retratada com maestria e a sabedoria de ter um olhar que paira sobre a triste condição humana, desde esses remotos tempos.

Em resumo: a história que se passa num dos bairros miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade vai trocando correspondência com uma jovem costureira que é na realidade a sua vizinha admirável, parece simples assim, triste assim, resgatadora enfim, mas traz o humanismo de coragem, a esperança sustentadora, o retrato de ser simples com contundência. Sim, pobres para se casarem, o amor passa todo por estas cartas onde contam um ao outro os pequenos acontecimentos do dia-a-dia, e onde relatam as suas vidas sofridas, refletindo individualidades quase insignificantes pela miséria, como cartas marcadas de um jogo perdido, como a própria história que é remorso, e que retrata sim, essa GENTE POBRE, que só sobrevive quando uma alma criativa se debruça sobre ela, retratando, dando prismas cênicos, fazendo chorar, tocando corações e mentes, debulhando um ramalhete doloroso de lágrimas e feições humanas, até porque, afinal, por triste que seja, ao término da leitura do clássico Gente Pobre, você fica com um sentido vazio, um gosto de quero mais, de idílio interrompido, uma tristice pegajenta, um cismar amargo, compreendendo que, sim, em toda vida-livro-aberto, há o imponderável “final feliz” em que todos morrem.

A arte vale a vida, o sentido da vida? Nesse caso, ficou a obra inaugural, um marco, feito o autor depois reconhecido mundialmente e consagrado, e ainda o inevitável e triste retrato da penúria de seres que se entrelaçam mas não se consagram, e nem na verdade consumem o amor que é mesmo sempre por isso quase por um triz.

Silas Correa Leite – E-mail: poesilas@terra.com.br
WWW.portas-lapsos.zip.net


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Santa Itararé das Letras: Poema Para Thiago Frederico - EM NOME DO FILHO

Santa Itararé das Letras: Poema Para Thiago Frederico - EM NOME DO FILHO: "EM NOME DO FILHO “Às vezes o importante não é encontrar o nosso “Eu” interior, mas acordar o nosso “Nós” coletivo...” Outro Poema ..."

domingo, 17 de abril de 2011

Oração do Professor Sofrido de São Paulo





Oração de Professor Sofrido do Estado de São Paulo


In Memoriam do Mestre Paulo Freire e de Franco Montoro
(O último governante a valorizar a Educação
pública com respeito, carinho e educação... )



Senhor...
Tende piedade do Professor de São Paulo, pobre Professor
Que nas unidades escolares despreparadas
De uma sociedade consumista no olho do furacão
- E de famílias mal-amadas –
Entre um cínico estado mínimo promovendo muito ouro e pouco pão
Tenta reger as suas tantas duras jornadas
Com um indigno salário pífio, vergonhoso, vão
Trabalhando pesado para suportar a total falta de estrutura na Educação...


Senhor...
Tente piedade do mal-valorizado Mestre, pobre Professor
Também como uma espécie de Sem Teto, Sem Salário, Sem Amor
Que num sistema público sem suporte
Rala como um miserável cão
Mais um holerite desumano, de morte
E a hipocrisia de políticos dessa infame geração
Em que a violência é o Quinto Poder
E o educador atarefado ainda tem que sobreviver
Na falta de justiça e pão...


Senhor...
O Educador para se sustentar
Em vários lugares tem que matar de trabalhar
E da periferia sociedade anônima à escola ser exemplar
Ainda ser assim por isso mesmo digno na docência
Mesmo com o seu triste e desproposital salário de fome
Tem que fazer bicos para prosseguir... continuar
Em Vosso Santo Nome
E o exercício da profissão
Como uma missão; uma luta a travar...


Senhor...
Tente piedade do professor – e dos alunos carentes
Que enfrentam a insensibilidades dos palácios regentes
E sendo filhos desse solo – entre governos insanos, incompetentes
Vão encarando a educação pública com sangue, o suor; essa gente
Sofrendo e seguindo em frente
Com o giz, a régua, o apagador
Sonhando justiça ainda que tardia que valore a educação pública, o seu labor...


E se um dia eu tombar, no exercício da profissão, Senhor
Em que me fiz plantador de sonhos, Educador
Tente piedade do que virá; o próximo Professor
Que ainda virá a se formar...
E que certamente sonhando estará para nos continuar
E também encarar a total falta de incentivo e valor
Como “suBornus” e outras mentiras amorais de governo enganador
Entre tantas hipocrisias
De atitudes falsas, vazias
E dai-nos, pelo menos, o céu de sua recompensa, Senhor
Com uma lousa celeste, e um novo giz, um novo apagador
E uma coroa de glória com novo juízo de valor
Numa lousa de estrelas, pois, seja como for
Aqui na Terra de Bandeirantes com sangue e lágrimas carregamos a nossa dolorosa cruz, de PROFESSOR...

-0-

(Poema da Série “Samparaguai da Força Que Destrói Coisas Belas" – Poemas e Sofrências da Escola Pública, Livro Inédito do Autor)

(*)- Professor de escola pública no estado de SP, o estado mais rico da nação, ganha trinta por cento a menos do que o professor da educação pública do Piauí, o estado mais pobre do Brasil...

Poeta Professor Silas Correa Leite – Origem: Santa Itararé das Artes, Sul de São Paulo, Trabalha e mora em SP, Vila Sonia, Butantã, SP

E-mail: poesilas@terra.com.br

-Teórico e Especialista da Educação (Mackenzie), Coordenador de Pesquisas em Culturas Juvenis (FAPESP/USP), Diplomado Conselheiro em Direitos Humanos (ECA/USP), Jornalista Comunitário, Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, autor de vários livros, ganhou inúmeros prêmios, consta em mais cem antologias literárias em verso e prosa, inclusive no exterior, colabora em mais de quinhentos sites. Site premiado do UOL: www.portas-lapsos.zip.net

terça-feira, 12 de abril de 2011

CANTOS DO MEU CORAÇÃO, Poemas de Daisaku Ikeda




I - Canto da Construção
( Trechos)

Ah! Surge o sol, resplendor
sobre o começo de uma vida nova.
Construtores, combatentes,
já chegam. Vamos cantar
um canto de construção.
Vêm nuvens de sete cores,
toca o sino da manhã.

(...)

A base,
fazer a base bem funda,
e ainda mais funda
para que o fogo sagrado
de tantos kalpas vindouros
possa se elevar em esplendor.

(...)

Olha para a corrente do passado:
as águas de Babilônia
já faz tempo secaram.
A lua se deita sobre a Grécia,
ilumina as ruínas do Egito e de Roma.


O sagrado Ganges mais uma vez enlameado,
as muralhas da China transformadas

(...)

Destruição – uma questão de instantes.
Construção – uma luta de morte.
Inércia é treva, esperança é luz,
recuo é morte, avanço é vida.

(...)

Mas agora, quando o mundo estremece
com a destruição impiedosa,
esta construção não dá lugar a ilusões:
é construir com firmeza
para o bem das multidões.
Quando alguém revela a própria torre,
outro logo levanta
a sua torre também.

Com simpatia e perseverança,
almas bem-dotadas lutam
com gloriosa determinação,
nunca enfrentadas
no passado e no futuro
- jamais o convite à ação soou tão claro.

(...)

Amigos construtores,
Vivemos para a nossa missão.


Bravos construtores,
levem as tochas proféticas.
Na frente, as tochas acesas,
levantadas para o céu.


II - Sons da Inovação
(Trechos)


Se o apelo de um homem de saber sagrado é
verdadeiro
- como uma onda dá origem
a dez mil outras ondas –
no peito de cada um
dos três e meio bilhões de seres
o som desse chamado há de ter eco.
Um chamado da verdade
da sabedoria sagrada:
pode parecer que se apaga
na vastidão celestial
- como as ondas que se espalham
na superfície do mar.
Mas não se extingue, transforma-se
em eco que desperta outros ecos
que afinal se reúnem
em esplêndida sinfonia.

(...)

Sobre as nossas cabeças
o céu escuro deste fim de século.
Mas aqui refulge esplêndida
a tocha da vida.

No céu de sombras do nosso mundo,
com suas rajadas de frio,
os únicos faróis que jorram luz
são acesos pelos nossos encontros noturnos.

(...)

O rumor do pulso da inovação
no céu noturno do fim do século,
suave clama pelo amanhecer:
“Quando a treva é mais profunda,
a alvorada está mais perto.”

(...)

Diálogo vivo:
com o diálogo entre força viva e força viva,
os poderes do passado se esfumam,
valores consagrados se revertem.
É quando começa o renascer das massas.
Inovação é renascer.
Renascimento é força vital em plenitude.

(...)

Homens lutam desesperados
Para voltar a ser homens.
...

Esforços de homens,
a busca da força vital:
quando alcançam o ponto mais extremo,
eleva-se o grito da santa sabedoria.
Como um simples som põe em movimento
ondas sonoras,
esse grito que se ouve há setecentos anos
já floresceu em milhões de renascimentos.

(...)

Começou a abertura,
a sinfonia do poder da vida
que antes jamais se ouviu.
Bate, estronda o tambor da paixão,
ouvem-se as flautas da sabedoria,
soam as cordas da inteligência.

Que seus esplêndidos sons
se espalhem e alcancem
os confins do céu e da terra.
Ah! Meus companheiros,
amigos da inovação.

Montemos cavalos brancos,
galopemos ligeiros
para chegar onde estes sons se ouvem mais
alto.
Vamos construir faróis possantes
Entregando sua permanente luz,
enfeitando o Japão com suas fileiras de ilhas,
dando a vida nova para o destino de cada um
dos três e meio bilhões de seres humanos.


DAISAKU IKEDA in Cantos do Meu Coração

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fernando Milcores de Itararé


FERNANDO MILCORES MENDES, BOÊMIO DE ITARARÉ, IN MEMORIAM




terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

OS NEGÓCIOS EXTRAORDINÁRIOS DE UM CERTO JUCA PERALTA, Romance Clássico de Sergio Mudado




Pequena Resenha Crítica


Um Romance Fora de Série:
“Os Negócios Extraordinários de um Certo Juca Peralta”
Do Literato Sergio Mudado

Que a literatura moderna é perigosa
é algo inconteste. A única resposta
digna da crítica que ela suscita, é que
essa literatura venenosa exige um novo
tipo de leitor: um leitor que ‘responda’

Paul Ricouer, Pensador Francês

-Eu sou macaco de auditório do médico-literato Sergio Mudado, desde que me deliciei com o livraço Vassalu, que tive o prazer de resenhar e que, acho, vertida para o inglês, devidamente encaminhado para um agente literário dos Estados Unidos daria um filme clássico muito melhor do que Tróia e Gladiador, e que, em tese, trata do mesmo tema, época e idade média da história. Estupenda obra prima.
-Por isso, quando recebi “Juca Peralta”, Romance, custei a me preparar para a leitura que teria que ser especial, prazerosa, e que, certamente iria mexer com meus botões sensoriais. Vivendo época pessoal difícil, de amarga caminhadura, finalmente entrei de vereda na leitura que prometia, aqui e ali parando, indo e vindo, até que finalmente tomei pé definitivo e dali em diante, escolado, salve-se-quem-puder, caí no fluxo narrativo e babei. Baba baby, diria a canção. Pois foi por aí...
-A narrativa de Sergio Mudado cativa, seduz, empolga, pega o ledor feroz pela mão, leva-o para passear no parque temático das contações, uma linguagem ao mesmo tempo em que cult e pop, lembrando aqueles historiadores e cronistas mineiros que deitam falatório e seduzem, aplainam, e, levados da breca, fazem o leitor seduzido curtir, gostar, “cerrir” (como se diz lá em Itararé), e outros prosopopéias de mais um clássico da literatura brasileira que o Sergio Mudado é mesmo o numero um atualmente. Só senti o mesmo prazer quando li O Baudolino do Umberto Eco, Sergio Mudado no mesmo patamar, no mesmo nível.
-Contações com esmero, dados filosóficos e místico-conceituais, passando pela história de Minas e suas semeaduras gerais, do Brasil de muito ouro e pouco pão, do mundo que Brecht rotulou como em tempos tenebrosos, como se o autor inventasse uma toda própria memória recorrente de idas e vi(n)das, alguns dados místicos, e, toma-lá-da-cá, o bendito boêmico personagem principal Juca Peralta que pinta e borda alardeios e mesmo insanidades, e bota suspensório em cascavel, aprontando das suas peraltices, entre prazeiranças e contentezas de um livraço. Muito prazer de ler, acreditem. Sergio Mudado narra com uma baita maestria, que dá o que sentir, curtir, florir-se. O próprio pensador francês Paul Ricouer ainda reafirma, a propósito do livro e de seu prumo literário: “Não temos a menor idéia do que seria uma cultura em que não se soubesse mais o que significa ´narrar,”
-Sergio Mudado dá show. Romance pontuado com causos do arco da velha – o escritor um grande mentiroso? – e o leitor entra de mala e cuia e mente lavada, e vai sendo bombardeado pelo implícito, explicito, internarrativas, ora sob um enfoque, ora sobre outro, na garupa do historial o leitor é conduzido e monta a galope o romance-quase-novela todo. Será o impossível? Pois, a acredite, se quiser, o livro de mais de 400 páginas cumpre a missão maravilhosamente, Sergio Mudado no auge, esmerilhando mitos, lendas, fofocas, mentiras e, claro, o conhecido e magnífico fluxo narrativo que é como se o doutor médico, também aí incluído importante (com prisma todo próprio) também uma persona en-passant no livro, e ainda assim por isso mesmo nos trouxesse mentes, corações, sentimentos, perdas e drenos, sob a sua ótica-criação de primeira grandeza, em belos horizontes, trilhas, errações, contrações e bravezas. Bravo.
E em troca de e-mail com o literato Sergio Mudado, dele tirei dados, pondo pimenta-camari na minha leção: “...No Juca Peralta você chegará a um capítulo no qual Juca e Noel Rosa passeiam pela noite da cidade em (1936), e a atmosfera é de pura magia. O livro, admito, não é de leitura fácil e contém alguns segredos que podem ser desvendados ou não. Noge é o inverso de Egon, e é justamente um alter-ego do grande memorialista Pedro Nava (José Egon de Barros). Ele se torna o senhor do tempo podendo ir e vir, passado e futuro. Cleópatra é Ísis, deusa maior do panteão egípcio. O rádio Matador existiu como foi descrito. A Leitora, que acompanha quem narra, também existiu (e existe) de verdade, acompanhou a feitura do romance. Existe assim um espécie de realismo mágico. O livro começa em janeiro de 1939 e termina em setembro quando inicia-se o II conflito mundial. Nele entram, além de Pedro Nava, Guimarães Rosa, Thomas Mann, Joyce, Proust, Kayan e outros. O universo do romance é complexo, mas não indecifrável.... Bem, eu me diverti muito, escrevendo-o. Minha mulher, que não é leitora "profissional" foi colhida pelo livro, o que me tranqüilizou... (...)”
-Wesley Duke Lee disse que "O que realmente me interessa é a qualidade da ilusão." No caso de Sergio Mudado ainda é a qualidade excepcional da imaginação, sentição, “dom de iludir”, cultura histórica, conhecimento dos descaminhos e configurações interioranas da matreira Minas, dando voz a figurinhas carimbadas de sertões, ruas, bares, quintais e zonas das mulheres de difíceis vidas fáceis, altares, quebradas, monturos, escombros e purezas, como no caso do viajante companheiro que é o Fábio, um aprendiz de Juca em mundos e cafundós.
-Entre magias, feitiços, mágicas, zonas de meretrício, cabarés, bares, crônicas, derramas, poemas, muita MPB e Noel Rosa cifrando todo o livro, mais poemas, insinuações paraletrais de quadrinhos, cantilenas, dados folclóricos, mineirices e pujanças, Juca Peralta pelo seu criador Sergio Mudado vai indicando dados dicas de rincões e suas tipicidades, curas, remédios, purgações, bacilos, pachorras, intermediações, matadores de aluguel, bares, comidas e comilanças, mais acidentes de percurso de amor que é cego e carecido, prostitutas, amantes, perigos, acidentes; um mosaico interiorano dessa Minas que muito bem representa a nossa brasilidade mestiça, entre imigrantes, lugares aonde o Judas perdeu o All-star, e vai por aí o bolero, as acontecências, bravatas e impertinências de percurso, feito um bem-bolado daquele que, certamente, é sim um dos maiores escritores atuais de Minas Gerais, um médico romancista. Já pensou?.
-Sobre o maravilhoso livro do cavaleiro medieval de Sergio Mudado eu já tinha escrito (fragmento): “A história é uma pedra na consciência da civilização. Van Tieghem diz que a categoria social e a importância do escritor crescem em forma notória. Deve ser isso. Os privilégios dos caminhos da literatura contra os sandeus do absurdo que ainda impunemente viçam e mandam. Milton Hatoum diz que o escritor passa a vida inteira tentando dizer uma verdade profunda através de uma invenção literária. Sergio Mudado acertou e brilha na sua obra. Aliás, o próprio dia de brilhar (ilha de edição?) vive dentro dele, espelha ele, está no romance dele, Vassalo. Carne e coragem. Idade Média destilada como sangria letral. Por fim, como muito bem observou a amiga Maria Ilsen na apresentação do livro no site da Livraria Cultura, só a consciência da finitude explicaria a busca da continuidade muito além da vida, além dos sentidos. Alguns se tornam vassalos desta busca. Outros, plantam árvores, criam filhos, deixam obras importantes como Vassallu, A Saga de um Cavaleiro Medieval (de Sergio Mudado)”.
-Pois “O Negócios Extraordinários de um Certo Juca Peralta” é desde logo um clássico. Já no prefácio Benedito Nunes diz do realismo grotesco de Juca Peralta, e comenta: “Nas conversas dos personagens(...) intercalam-se o tempo todo versos das modinhas de Noel Rosa, também feito personagem. O próprio romance é um híbrido conjunto fragmentado, que é persegue e perseguido pelo Tempo e suas loucuras. Em contraponto com as peripécias de Juca Peralta, estão as idas e vindas da própria narrativa, que se divide em três partes dentro de um período datado – a partir de janeiro de 1939, ano fatídico, já instalado o Estado Novo por Getulio Vargas. Não esqueçamos (...) que essas idas e vindas é o próprio Tempo em seu fluir invisível, que se elabora como matéria prima da própria narrativa,m o Tempo vertiginoso, que tem medida desigual(...)”
-A Orelha de Juca Peralta já alerta a proposta: “Uma parceria – Semeei-te em mim - diz, quem narra e lê”, selando um pacto entre o leitor/narrador/autor, “perigo, musica e perfume(...) a atmosfera do texto”. E explicita ainda na orelha: “O leitor que ousar acompanhar quem narra, terá, se sobreviver aos perigos que o espreitarão ao longo da jornada, a oportunidade única de sair de si mesmo e contemplar outro universo(...). Sentirá no espírito, ao mergulhar neste mundo fantástico mundo de palavras alinhadas, imenso deleite. E,s e for arguto, poderá reconhecer nesses resquícios de literatura uma declaração de amor a palavras e aos gênios que a transformam: Nava, Rosa, Mann, Proust, Joyce... (...) Romance saboroso, regido pelo antigo deus que, ainda hoje, ilumina a existência dos amantes da arte, dos leitores capazes de ouvir no vento de estrelas a sinfonia cósmica do Senhor do tempo, da Magia e da palavra”
-O vendedor-Inspetor Juca Peralta, caixeiro-viajante, o aspirante a vendedor Fábio, o rádio Matador feito uma metáfora que se comunica, fere, brinca e se expande literalmente, mais expressões, doenças, filosofias, mitologias, fantasmas, tudo impregnando as facetas do livro que são várias, vários prismas, vários espaços cênicos, tudo um verdadeiro vislumbre para quem adora literatura de alta qualidade criadora e narrativa impecável, entre tantos personagens que vão, voltam, somam, dramatizam, ironizam, recheiam o livro, com viagens de trens, estações e paragens, baldeações (inclusive trans-narrativas) citações bíblicas, ou outras em latim, francês, um verdadeiro destrinche das facetas dos personagens, técnicas de narrar e mesmo confeito criacional do autor, fora de série mesmo. Não é qualquer um que pode criar uma obra assim. Não é qualquer dia que uma jóia preciosa assim nos cai na graça ledora impertinente de se deixar encantar. Mil maravilhas.
-Tuberculose, loucuras? Juca Peralta é o “jogo de amarelinhas “(Fidalgas...) de Sergio Mudado? "Cada romance tem de ser um objeto único. O enredo ordena a sua forma. A estrutura do relato segue a intensidade da narração.", diz Juan José Saer. Por fim, falando sério, deixo que o leitor procure o seu exemplar do belo livro, corra atrás, vá ser também Juca e Peralta atrás de seu comboio, lugar-tenente de ilusões, culturas e artes lítero-culturais fantásticas, trem noturno ou não. Porque, de uma forma ou de outra, assim na terra como no céu, loucos ou saradinhos – de perto ninguém é normal, cantou Caetano Veloso – somos todos filhos de estações de trens; afinal, já no passado não cantou o Ministro da Cultura Gilberto Gil, sobre o benfazejo Expresso 2222 da Central do Brasil?

-Sim, há um trem para as estrelas... E em Juca Peralta a vida é um comboio engatando acontenças, e a visão pode ser só um ponto de partida ou de chegada. Deste e de outro mundo.

-0-



Silas Correa Leite - Santa Itararé das Artes/Samparaguai, Fevereiro 2011
Poeta, Ficcionista, Teórico de Educação, Conselheiro em Direitos Humanos, Jornalista Comunitário, Premio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor
Pós-Graduado em Literatura na Comunicação (ECA/USP)
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos premiados, finalista do Prêmio Telecom, Portugal, à venda no site www.livrariacultura.com.br
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue premiado do UOL 2009/2010: www.portas-lapsos.zip.net
Site de sua aldeia natal: www.artistasdeitarare.blogspot.com/