quarta-feira, 27 de maio de 2009

Romance A Mulher, o Homem e o Cão, de Nicodemos Sena




Artigo/Resenha Crítica


ROMANCE “A MULHER, O HOMEM E O CÃO”,
UMA ‘NEVERLAND’ NA HILÉIA AMAZÔNICA

Por Silas Correa Leite*

“Com o que não te digo/
Teço um enigma/
O que digo sempre/
Nega o evidente(...)

Inconfesso, Antonio Mariano
In, Guarda-Chuvas Esquecidos
Editora Lamparina


Para falar do novo livro do escritor paraense radicado em Taubaté-SP, Nicodemos Sena, “A Mulher, o Homem e o Cão” (Ed. LetraSelvagem, 2009, Coleção Gente Pobre, 152 pág.) não teria como não me reportar ao sucesso que foi a portentosa obra “A Espera do Nunca Mais” (Ed. Cejup, 1999), um caudaloso romance elogiado pela crítica, “que faz meio-termo entre ficção e realidade (...); alto estilo, demonstrando vigor e consciência estética(...)”, segundo Ronaldo Cagiano (in Opção Cultural). A amazônica como um todo, resgatada e retratada, do rural-agreste e ermo aos ‘anos de chumbo’ da ditadura militar (o escritor é um retratista de seu tempo e das amarguras de seu tempo?), no letral, literal, e lítero-culturamente sob todos os aspectos. “Uma aula de Amazônia (...)”, diz Oscar D’Ambrosio (in Caderno de Sábado, Jornal da Tarde).
Coloco pra mim, entre os dez melhores romances brasileiros, não necessariamente numa ordem linear, “Dom Casmurro” ( Machado de Assis), “Grande Sertão: Veredas” (Guimarães Rosa), “Vidas Secas” (Graciliano Ramos), “Incidente em Antares” (Érico Veríssimo), “Crônica de Uma Casa Assassinada” (Lúcio Cardoso), “Macunaíma” (Mário de Andrade), “O Cortiço” (Aluisio de Azevedo), “Dona Flor e seus Dois Maridos” (Jorge Amado), “O Cais da Sagração” (Josué Montello), e, entre todos os do Autran Dourado (que é ótimo em tudo o que escreve), o recente romance “A Mulher, o Homem e o Cão”, de Nicodemos Sena, certamente o maior romancista brasileiro contemporâneo, pouco pop e naturalmente muito cult, diga-se de passagem.
Como gosto de ler um livro de fio a pavio (e nas entre/linhas), como se comesse uma iguaria pelas beiradas, defeito-qualidade de um glutão de letras e gastronomias de quilate, já sondei a orelha de um dos maiores críticos brasileiros de todos os tempos, o Oscar D´Ambrósio, que aponta Nicodemos Sena como um grande contador de histórias com mitos que se cruzam com o mundo fantástico do autor, acordando o gigante adormecido da capacidade de raciocinar enquanto ser humano (picadeiro de dilemas, enigmas e desafios do verbo existir). Vá vendo. Quero dizer, vá lendo. Deguste.
Depois, o prefácio da doutora Christina Ramalho (UFRJ), que nomina a obra como um “... caleidoscópio com tantos significados próprios, metamorfoses sobrenaturais plurissignificativas (...).” A floresta invadindo a obra do autor, que deixou a Amazônia, mas a Amazônia não o deixou, ou seja: vai com ele por onde ele for, sendo ele, é ele, selva-metáfora, o homem em busca de si mesmo, na selva urbana exaurida, dentro de si, no escre-Viver. Por aí.
No posfácio, Dirce Lorimier Fernandes (doutora em História e da APCA), fala do rico mundo encantado de criação, mistérios e encantamentos na obra de Nicodemos Sena. A inutilidade da existência (por isso escrevemos, criamos, deixamos nosso documento-identidade em sons, palavras, símbolos, crenças, devaneios, enigmas e artes loucas?). O autor rasga o véu da alma-mente-espírito, e numa treva branca destila-se, o tudo sentir, o sobre/Viver. Eis o homem.
Por fim – antes de entrarmos nos ramos qualificados da obra propriamente dita – uma surpresa: Um pós-posfácio do próprio autor (Acerca de “A Mulher, o Homem e o Cão”), falando de seu solilóquio, monólogo interior, desconfianças; encerrando assim: “... basta dizer que a selva, onde vivem as personagens (e onde eu nasci), é, no livro (...) apenas a metáfora de todas as solidões terrenas”. Lindo.
O romance-livro realmente é de linda floração cultural e envergadura literária (qualidade técnico-editorial de primeira, capa de James Valdana, desenho de capa e miolo Olga Savary); de se pegar e não largar mais. Cativador na elegante fruição, entre subidas e descidas aos céus (todos os céus, não se sabendo se o céu – qualquer um – veio até Nicodemos ou ele é que foi até ele). Elogiado pela crítica especializada, esse autor paraense tem um jeito todo próprio de narrar, ir e vir nas orações, levar e trazer o leitor, cativando, encantando, sacudindo-o. Grande estilo.
Aqui e ali, um personagem (personagem?) meio malazártico, numa narrativa bem macunaímica, sua narrativa às vezes nos remetendo à literatura fantástica (personagens bizarros até), de um anarquista misterioso, estilo utópico, B. Traven (Chicago 1890, México 1969), que teve na sua obra, como pano de fundo, a floresta mexicana (“O Visitante Noturno” entre outra criações de relevo), ficando um triângulo de Nicodemos Sena entre Macário de B. Traven, Macondo (de Gabriel Garcia Marques, do qual Nicodemos carrega aqui e ali parecenças) e o “espaço” floresta amazônica no livro, um não-lugar, um lugar-nenhum-todo-lugar/qualquer lugar, ele mesmo, o autor, Nicodemos Sena impregnado de talento, criatividade e técnica densa de narrar com veias e variações, as propriedades e impropriedades de suas origens, raízes, matrizes, mãe(s)-Terra/rio. O fado do destino humano sujeito a incongruências mesmo... Será o impossível?
Sim, a nova obra do autor, “A Mulher, o Homem e o Cão”, tem o sígnico da relação homem-terra, homem-rio, homem-celestidades, homem-demônios (e fantasmas) da terra, rio (e céus?); triângulo com o macho, a fêmea e o sobrenatural. Paradoxalmente ao que o próprio autor diz no livro (pág.25), é na escreveção que os homens sensíveis se refugiam da loucura. A loucura é santa? “Deus usa os loucos para confundir os sábios?”.
Coisas visíveis e invisíveis se metamorfoseiam nas narrativas cativantes, só que o leitor tem que estar bem enlivrado, por assim dizer, para ir, aqui e ali, sacando inteiro e completo, recebendo outro novo inédito enfoque concomitante ou adjunto (histórias na história), a árvore-janela, o cão-passarinho, o homem-peixe, o Deus que não é deus, o enlevo, a catarse, o onírico, colheitas de mitos retraduzidos e retrazidos. E o autor diz na contação da recontação literária em graça de prosa poética:
“É esse, senhor, o efeito do espanto: o espírito esforça-se por estabelecer uma relação, uma ligação de causa e efeito, mas, achando-se impotente para consegui-lo, sofre uma espécie de paralisia momentânea, e, tão logo se recupera do assombro, sente crescer dentro dele gradualmente uma convicção que clareia a mente e impulsiona o corpo (...). –Roubaram-nos a alma, agora tudo está encantado!”
A mulher-porca, as canoas de serpentes, o rio margem e beira (loucura-lucidez), tudo ciciando devaneios, registros, despojos letrais, acercamento. O rio de nossa infância, nossa origem, anda conosco, viaja conosco, sofre vazamentos, seca, aflui, tem sua derrama espiritual? O domador de mentes o que é? Ladrão de mulher, diria o mote popular parafraseado de um ente de circo.
Livro de peso que tem névoas clarificadas. Que dá gosto ler. Que se passa daqui prali, num sem-pulo, de um tópico frasal para outro, levando e trazendo o leitor boquiaberto, seduzido sim, onde a voz ora é de um (uma), ora de outro (outra... criaturas...). O autor costurando o xale de sua áurea-aura-halo. Incompletudes. Desabandonos. Desespelhos.
Na alegria e na tristeza, na fome e na dor... como um casamento do autor com o dom, a sua terra, o seus rios (lacrimais), agonias, angústias, causos do arco da velha vêm inventariados, inverdades, não mentiras, o próprio ofício de criação com iluminuras de espectros, ressentimentos, passados, transcendências, travessias, veios, cisternas, corredeiras, jorros; palco iluminado para dar voz e vazão a seres e não-seres, num imaginário pra lá de espetacularmente rico, portentoso.
Aqui e ali, paráfrases bíblicas bem situadas (há um Deus), narrativas que lembram recorrências de um Jó bíblico negando-se a si mesmo sem negar o Criador, chuvas, nuvens, paragens, afogadilhos e afogados com lanternas, o repugnante e o sagracial, e entra no historial das contações com barulhanças e tristices, de Nero a Hitler, passando por Herodes, aqui e ali tentando um sentir imenso a partir de um nada sentir (o autor ficou doente depois de escrever o livro?... Mistério... Lenda...).
Os sobre-humanos estão nas páginas do livro, nas páginas de rostos-purgações, de restos-retalhos-retratações-partilhas (histórias do ouvi-dizer, ouvi-viver), ou na própria concepção magistral como um todo da obra?
Pois é: eis a obra, eis o autor, e, cá entre nós, eis uma tentativa de resenha crítica de quem se apaixonou pelo romance “A Mulher, O Homem e o Cão”.
Aliás, falando sério, qual dos três (entre tantos) personagens do tema-obra gostaria de escrever uma história assim?
Nunca se sabe o desfecho de uma fábula. Leia e deguste.


*Silas Correa Leite – Autor de Campo de Trigo Com Corvos, Contos, Editora Design, Finalista do Prêmio Telecom, Portugal. Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Conselheiro em Direitos Humanos (SP). E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net – Blog premiado do UOL


BOX

Livro: “A Mulher, O Homem e o Cão”, Romance, Ficção, 2009, 152 pgs.
Editora Letra Selvagem, SP
Autor: Nicodemos Sena
Site da editora:
www.letraselvagem.com.br

E-mail do autor:
letraselvagem@letraselvagem.com.br

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Poema de Um Amor Transcendental





POEMA - Literatura Brasileira Contemporânea


Poema de Um Amor Transcendental


Por Silas Corrêa Leite -


Você não sabe que espécie sou eu.Você só pode ir até aqui.Daqui pra frente tenho que ir sozinho.É meu destino, minha sina, minha lei, meu dever.Você de um lado – Eu de outro.Como um muro de desapontamentos entre nós.Você só me teve por um tempo.Eu fui enriquecendo de seus defeitos para ficar mais forte e eterno, e fiquei mais forte e eterno.Você ficou com as minhas ótimas qualidades e isso é um estimável perigo.Não poderíamos mais ser Um e ser Outro.Venceu o meu e o seu prazo nessa combinação de ciclos.Agora você fica e eu retorno ao meu esconderijo sideral.Sem adeus. Não chore. Sem perdão. Não sofra. Sem ressentimentos. Seja você mesma como sempre foi até agora.Nós nunca lembraremos mais um do outroNem nas próximas vidas, nem mesmo no dia do julgamento.Procure apenas sobreviver com os motivos e instrumentos que eu especializei você.Eu estou rio.Eu estou árvore.Eu estou livre e sozinho como uma coifa.Vencemos a nós mesmos.Perdas e traumas. Lucros e danos. Pensagens e bravatas.Não há céu, não há inferno, só as duas faces de uma mesma moeda falsa.Nunca gostei de ver você se parecendo muito comigo.Você nunca se lembrará de nada.Eu nunca mais serei eu mesmo.Você ficou mais louca vivendo por muito tempo esse triste inverno pessoal meu.O encanto acabou.O amor é uma mentira.Os faróis estão quebrados.Garrafas com mensagens de pedidos de socorro se perdem num mar de sargaços.Vou ter que atravessar agora para o outro lado da vida.Nunca existimos.Isso é o amor depois que acaba.Isso é uma gravação.Tudo se destruirá depois que você aceitar sem seqüelas que tudo acabou e que errou na hora que jamais podia errar.Está consumado: pagamos o nosso preço bilateralmente.O sonho perdeu o prazo de validade.Não há peças de reposição.O sétimo elemento está chegando com o meu sétimo selo de verificação para passaporte de entrada num desjardim muito além dessa minha pobre invisibilidade mórbida.

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VERBETE BIOGRÁFICO

Silas Corrêa Leite - Educador, Jornalista, Poeta.
Crônica da Série “Amigos Para Sempre São Anjos de Luz”.
Site pessoal:
www.itarare.com.br/silas.htm
Romance ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS
no site
http://www.itarare.com.br/

E-mail: poesilas@terra.com.br

sábado, 2 de maio de 2009

Augusto Boal: Alma do Teatro





Augusto Boal - A Alma do Teatro, o Teatro na Alma


“Atores somos todos nós, e cidadão
não é aquele que vive em sociedade:
é aquele que a transforma”.

Augusto Boal (In Memoriam)



Escolhido pela ONU-Organização das Nações Unidas como O Embaixador Mundial do Teatro; indicado ao Prêmio Nobel da Paz pelo projeto de Teatro como Inclusão Humana, torturado nos bastidores da Canalha de 64 (ditadura militar incompetente, corrupta, violenta e senil), tendo que se exilar, viveu na Argentina, em Portugal e Paris, sempre trabalhando a inclusão cidadã na arte cênica, partindo do pressuposto de que todos os humanos são atores; todos devem sair da opressão da máquina social as vezes pouco ética e muitas vezes mesmo insana, visando buscarem assim a libertação que há na arte de representar propriamente dita. Um mito do melhor do teatro popular brasileiro, Augusto Boal nascido carioca, acabou, promovendo o Brasil, tornando-se por isso também um cidadão do mundo de quilate, baluarte dos oprimidos de todas as terras e urbanidades, ele mesmo bandeira dos excluídos sociais, postulando pela inclusão via arte cênica. Quer mais?

“Inventar outro mundo é possível”, disse Augusto Boal em Lisboa, completando: -“A invenção de outro mundo é possível, construído pelas mãos de todos em cena, no palco e na vida". Este era o desafio do dramaturgo brasileiro Augusto Boal na mensagem internacional que assinala o Dia Mundial do Teatro, completando, ainda: "Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida" – Esse é o mote deixado pelo ensaísta e diretor de teatro brasileiro, fundador do Teatro do Oprimido e que especialistas consideram uma das grandes figuras do teatro moderno contemporâneo. Olhando o mundo "Além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, classes e castas; vemos o mundo injusto e cruel" disse ele, e concluiu: porque, afinal, de uma forma ou de outra, "Somos todos atores”.

Augusto Boal morreu na madrugada de sábado de 02 de maio de 2009, no Rio de Janeiro. Ele sofria de leucemia e estava internado na CTI do Hospital Samaritano. Augusto Boal também era ensaísta e teórico do teatro, ganhando destaque nos anos 1960 e 1970 quando esteve à frente do Teatro de Arena de São Paulo, quando fundou o Teatro do Oprimido, pelo qual foi internacionalmente reconhecido por aliar arte dramática à ação social.

Augusto Boal chegou a se formar em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1950, mas viajou em seguida para os Estados Unidos, onde estudou artes cênicas na Universidade de Columbia. De volta ao Brasil, sua primeira peça como diretor do Arena foi “Ratos e Homens”, de John Steinbeck, que lhe rendeu o prêmio de revelação da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Dirigiu ainda, entre outras peças, “Eles Não Usam Black-Tie” de Gianfrancesco Guarnieri, e “Chapetuba Futebol Clube” de Oduvaldo Vianna Filho. Foi o diretor do espetáculo “Opinião”, com Zé Ketti, João do Vale, Maria Bethânia e depois Nara Leão, que passou para a história como um ato de resistência ao golpe militar de 1964.

O Teatro do Oprimido provou ser importante ferramenta para a conscientização de todos que o praticam. Essa era a ambição de Augusto Boal: que todos os seres humanos, sejam quais forem suas profissões, gêneros, etnias ou condições sociais, instrumentalizando conscientemente o teatro e todas as artes que trazem em si, para que se pudessem alcançar os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Que a Liberdade, a Justiça e a Paz tenham por base o reconhecimento da dignidade intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana(...)”.

Augusto Pinto Boal nasceu em 16 de março de 1931, na Penha, bairro da zona Norte do Rio. Suas técnicas e práticas foram espalhadas pelo mundo inteiro, principalmente nas três últimas décadas do século XX. Foram usadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento de emancipação política, mas, e principalmente também nas áreas de educação, saúde mental e no próprio sistema prisional, tal a qualidade sócio-inclusiva das mesmas. Suas teorias sobre o teatro são estudadas até hoje nas principais escolas de teatro do mundo. O jornal inglês The Guardian, por exemplo, escreveu que "Boal reinventou o teatro político e é uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislavski".

“O Ser Humano é Teatro”, dizia Augusto Boal. Teatro, Dança, Música, Circo, Balé, Literatura, Voz Populi, humanagente, pois. O Teatro de vanguarda de Augusto Boal incomodava, tocava no cerne de questões ético-humanistas (humanitárias), sendo ele um porta-voz da liberdade de criação, da liberdade que é inerente ao ser humano em pleno exercício de cidadania exercitada ao extremo. Sim, Augusto Boal era a alma do teatro. E o teatro era a alma dele. No palco da vida deixou seu brilho, e como o show tem sempre que continuar, ela ainda será cantado em verso e prosa por esse mundão da nova desordem econômica sub-humana, bem ao jeito de uma espécie assim de Brecht moreno-tropical.

Bravo Boal!

-0-

Silas Correa Leite, Itararé, SP
Jornalista Comunitário, Ficcionista Premiado, Conselheiro em Direitos Humanos (SP)
E-mail: poesilas@terra.com.br
Autor de “O Homem Que Virou Cerveja”, Livro de Crônicas Hilárias de Um Poeta Boêmio, Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador, Bahia, no prelo, Giz Editorial
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net
(Um dos dez melhores blogs do UOL em 2008)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Identidade da Dor - Poema Para o Japão





A Identidade da Dor (Poema Para o Centenário da Imigração Japonesa)

Hiroshima ainda está lá
Como um espelho
Uma bomba não mata uma cidade
Uma identidade-povo
Uma idéia-espaço

Nagasaki ainda está lá
E reflete Hiroshima
Não pela radiação mas
Pelo que ambas foram e serão

Restos de Hiroshima
Ainda são Hiroshima
Como escombros de Nagasaki
Têm uma identidade silencial

Ninguém mata Hiroshima ou Nagasaki
Ninguém mata a vida
Ou uma identidade histórica e espacial de vida

A bomba não mata a dor
Do que restou da guerra
E essa dor que doerá infinitalmente
Será Hiroshima
Será Nagasaki
Porque a paz confere a dor
Perpetrada na lágrima
Como um desenho arquitetural na saudade
Que a luz lê em sangue
Nas flores de cerejeiras
Como haicais, no átomo
-0-
Silas Corrêa Leite, Itararé-São Paulo, Brasil
Autor de Porta-Lapsos, Poemas
Autor do Livro “Campo de Trigo Com Corvos” Editora Design
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Site: www.itarare.com.br/silas.htm
Blogues: www.portas-lapsos.zip.net