sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PENSAMENTOS VARIADOS





Pensamentos


" Se não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão, não morre o educador, que semeia vida e escreve na alma"Jean Piaget"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".(Guimarães Rosa)"Assim como uma única isca não pode atrair qualquer tipo de peixe, uma metodologia única não é capaz de alcançar diferentes tipos de alunos."( Monica Valéria ,minha amiga)" O vento é o mesmo mas sua resposta é diferente em cada folha"Cecília Meireles“Contaram-me e EsqueciVi e EntendiFiz e Aprendi”ConfúcioQuem pensa muito faz pouco. As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.(Lilian Tonet)... Quem sabe faz a hora, não esperaacontecer...Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar. (Thiago de Melo)O melhor educador é aquele que conseguiu educar a si mesmo(Sabedoria oriental)"Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as idéias."Victor Hugo"Eduquem os meninos e não será necessário castigar os homens"(Pitágoras)“Um livro é como uma janela: quem não o lê fica distante dela e só pode ver uma pequena parte da paisagem."(Kahlil Gibran, escritor indiano)"Não se pode ensinar nada a um homem. Pode-se apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo."(Galileu Galieli, cientista italiano)"A tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer."(Albert Eisntein, cientista alemão, Como Vejo o Mundo)"Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre."(Paulo Freire, educador brasileiro)"Perigoso não é o homem que lê, é o que relê."(Voltaire, filósofo francês)"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."(Cora Coralina, poetisa brasileira)"Ser educador é ser um poeta do amor. Educar é acreditar na vida e ter esperança no futuro. Educar é semear com sabedoria e colher com paciência."Augusto Cury“Longo é o caminho do ensino por meio de teorias; breve e eficaz por meio de exemplos.” (Sêneca, filósofo romano - Epístolas )"Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las"(Voltaire)"Procure ser um homem de valor, em vez de procurar ser um homem de sucesso."(Albert Einstein)"Tratai os bons com bondade e os maus com justiça"(Confúcio)"Educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo ...".Paulo Freire"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã.(Rubem Alves)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Museu da Língua Portuguesa: Pífio Padrão Global





Museu da Língua Portuguesa:

Pífio Padrão Global


Não acredito em arte


Que não seja libertação


Manuel Bandeira


-Como todo cidadão comum, tomei um ônibus na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, linha Estação da Luz, e lá fui, com a musa-vítima açodada pela propaganda, ver o tal Museu da Língua Portuguesa na Praça da Luz, centro velho roto e abandonado de São Paulo. Expectativa enorme, claro, muito mais para um poeta que estuda a língua-mátria, como diz o Caetano Veloso. Fui na onda midiática do momento. Fui interessado lá - comprovante número 5202 - ver o tal Museu da Língua Portuguesa, torcendo para vibrar com o sucesso aventado, crendo que iria adorar. Pobre e ledo engano. Infelizmente. -Desci no lado da Cásper Líbero (ponto final da linha do péssimo serviço de transporte coletivo urbano piorado demais) e, SURPRESA!. Desci e fiquei sem saber pra que lado era o tal lado do tal não apresentável estético Museu. Nenhuma placa, nenhum sinal, nenhum aviso, nada de nada. Incompetência estrutural, inclusive para incautos Turistas desavisados. Entrei na Estação perdidinho. Gente de monte, sujeira, correria, uma loucura - a pobre gente brasileira e a nefasta propaganda enganosa vendendo gato por lebrea - e nada de placa, sinal, aviso, gerenciamento. Quase atropelado fui em busca de uma só possível autoridade vigiadora ou informante local. Lá pelas tantas, um guardinha muito mal humorado, cara de azedo deu a dica com um humor risível irônico: -A filona é ali, sapecou ele, rindo do trouxa perguntador e curioso de uma figa. Sim, interessados em cultura, ao lado, sentido da Praça da Luz, num local lotado de camelôs verdadeiramente achacando eventuais clientes-patos, a fila enorme e vergonhosa. De dar dó. Ao lado carros mal-estacionados, ônibus de excursões sem estrutura, montoeira de vendedores de tudo quanto é bugiganga. Nenhum fiscal, policial, sequer os da indústria de multa. Descaso público total. Crianças, jovens, idosos, estatutos ético-humanistas à parte, foram na fiuza da propaganda enganosa e ali estavam perdidos e entregues aos desmandos generalizados, mais o preços-roubos dos vendedores mal-encarados em contrabandos informais ou no neoescravismo das terceirizações invadindo cafundós, filas, ermos e sombras. E os direitos humanos dos fileiros interessados em cultura?. Vão sacando.Quase uma hora na fila da incompetência estrutural. Sol de rachar mamona, calor doentio, perdição de tudo quanto é tipo, poluição humana dos piores elementos mercadores possíveis, mau cheiro de fedô e chega gente perdida, sai gente frustrada, quando, a bem da verdade, nem poderia em tão pouco tempo e pouco espaço organizacional ter ônibus do interior em tamanha bagunça técnico-administrativa. Deveria ser proibido. Era pegar ou largar. Desordem e reclamos. Chegando ao lugar do filtro com catraca, fila mal arrumada pra pegar um bendito tíquete, quando uma moça nervosinha da silva e amadora para o contexto também pouco funcional, queria tirar-me a bolsa de mão na marra, como se fosse mochila. Tive que, cidadão-contribuinte peitá-la sob o vezo ético. Degradante. Constrangedor. Não sabia a diferença entre uma coisa ou outra. Cabide de empregos desproposital? Aliás, não podia nada quando tudo é cultural e educação faz gosto. Ver pra crer.Aí era esperar o elevador-dinossauro. Sem ascensorista, um guardinha que ia e vinha, coitado, entre atropelos, avisou depressinha e sufocado pela mixórdia generalizada que era para irmos direto e reto pro primeiro andar que o segundo e terceiro estavam lotados. Acredite se quiser, mais o bicho velho subiu diretinho rangendo o peso morto exatamente para o terceiro andar e ninguém apertou nada. Inaugurar obras de supetão para mostrar que é o que não é, é ridículo. Os desgovernos tucano-liberais nunca fizeram nada pela cultura, nem pela educação, porque aquela obra populista e eleitoreira então? Mas ali estávamos e fomos ver o desboque. Uma ou outra coisa trivial e comum que prestasse, ainda assim mal-e-mal visto de passagem. O inédito e supostamente novo, nem é tão novo, pioneiro, inédito ou de vanguarda assim. Confusões de sons e letramentos como macadames. Gírias imperfeitamente incorretas e politicamente obtusas. Os poemas pintados num corredor demasiado estreito até que ficarem bem, apesar das escolhas poéticas bem suspeitas e também até umas letras de mpb bem jecas totais. Pior: o padrão global tornou pífia a minha expectativa. Já pensou? Tevês e tevês. Nada de novo no óbvio. Pouca tecnologia de ponta que causasse interesse, nem ninguém para ordenar interesses de usuários curiosos. Poemas nos tijolos entre lixões. Coisa bobinha de dar dó. Não acrescentou nada a nada. Plínio Marcos iria morrer de ir. Pobre Sampa. O tal olho mágico que mostrava o diferente no longe foi razoável, mas, acreditem, algo pueril no lúdico de percurso entre tarecos. O espelho de se ver o texto ao contrário na água foi uma boa idéia pingada ali no contexto todo. Criações em saquinhos pendurados no ar. Não acrescentou interesse aproveitável que fosse. Telas-panos corrigidas do Guimarães Rosa. Por que não as consertadas, páginas especiais, com mais historiação sobre um dos maiores autores brasileiro? Para não dizer que faltou Machado de Assis e grandes poetas em exposições por atacado. Esperava mais. Mas não mais do mesmo. Ninguém para ciceronar. Sons e imagens numa mistura ruim para o ler/ver (pensar/sentir) literatura, palavras, sons. Um achado fraco e o pessoal que criou o tal museu não foi fundo, com suspeitíssimos nomes (artes?...) ali de quem chegou indagora, talvez, num crescendo nem chegará perto do Machado e Guimarães, mas já estava inserido ali de alguma maneira suspeita, e assim também esteve bolando o projeto em que se incluiu. Difícil acreditar, não é?. Tráfico de influência ou intermediação de foro íntimo e interesse próprio, midiático-editorial, via padrão global por isso mesmo no geral rastaquara, bobinho na resultante final, nota seis, se tanto. O espaço até exíguo, assim mesmo exigia mais capricho, coragem limpa, lúcida, criativa. Criação fora de série não faz mal a ninguém. Museu que já nasceu velho. Da Língua indizível que ali foi prostituída de alguma forma. Portuguesa mas nem tanto. Um museu de blefes, chinfrim mesmo. Oswald de Andrade e Mário de Andrade, da semana da Arte Moderna (1922) teriam vergonha. Faltou palavras. É um Museu a la Faustão: grande e vazio, esteticamente sofrível e vernacularmente arigó. Na mídia, mas, só tamanho não é documento artístico-cultural-humanista, nem cult. Por que a UBE-União Brasileira de Escritores não peitou o açodado projeto, se tem mais cabedal histórico, acervo e lastro?. Eu não gostei. Senti uma frustração geral entre pessoas da classe A e B, com a C e D acreditando mais na propaganda do que na arte e na cultura e na língua propriamente dita. Aconselho os amigos interessados em qualidade cultural, a visitarem a maravilhosa Pinacoteca. O tal Museu da Língua Portuguesa, perto da Pinacoteca é um beco de nadas e ninguéns, um cortiço de toleimas pseudocriativas imprestáveis na geléia geral, grosso modo, um gueto de modernosos que, depois que deixar de ser moda nodal, entrando uma gestão cultural séria, visionária - ai de ti paulicéia desvairada - vai demolir tudo e mandar recomeçar do zero, pois, afinal, depois que vi o ralo e raso e, portanto, claro, não vi algo de nada, fiquei com a impressão que fui logrado por algum motivo, de alguma maneira. Grátis é caro. Entrar na fila quilométrica para ver um amontoado de imagens e palavras que não colam, tudo aquilo com a cara do Fantástico pareceu-me um ledo engodo. Faltou luz criativa ali em frente a Estação da Luz. Será que tem gente que não enxerga no claro?Em ano de Copa do Mundo, de brasileiro no espaço e de eleições, parece discurso ímprobo jogado fora (como erário é espaço público inaproveitado - e falsa cultura literária também jogada fora), cabeças vazias pensando que são o que não são, jogo de cena para ganhar espaço na mídia com arte que não pára em pé. Bola fora mesmo. Pariram um elefante branco lítero-cultural. O lixo não pode ser pseudopop com erário público.E ainda ouvi dizer (ou ouvi sentir, ouvi soar em ouvidos de mercadores) que a sagrada Maria Bethânia podia ser captada na balbúrdia da feira declamando Fernando Pessoa. Será o impossível? Quem gostou é mal formado.


-0-


Poeta Silas Correa LeiteCrítico Social, Jornalista Comunitário

Pós-graduado em Literatura na Comunicação (ECA), e Direitos Humanos e Democracia (USP)

E-mail:
poesilas@terra.com.br
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, 2005

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Se Eu Pudesse Pedir Perdão




::Crônica:
Se eu Pudesse Pedir PerdãoPor Silas Corrêa Leite


Se eu pudesse pedir perdão...por alguma coisa, algum motivo, alguma razão limpa, talvez pedisse ao meu querido pai, principalmente por não tê-lo compreendido exatamente como deveria, e poderia então, pra perdida sorte minha, ter sacado muito bem e antes de sofrer tudo o que sofri; e teria certamente evitado descaminhos, e talvez assim, de alguma forma (doces memórias) e com revisitada imagem dele, os meus destemperos doessem menos no meu peito entrevado, e agora eu tivesse menos marcas das sinuosas trilhas, e assim eu tivesse ainda mais plenamente as asas da saudade dele sobre mim, como uma benção dos céus distantes.Se eu pudesse pedir perdão...por alguma coisa, algum motivo, alguma razão limpa, talvez pedisse perdão à minha pobre mãe velhinha, principalmente por ter deixado o nosso lar-doce-lar muito cedo, cedo demais (cedo para sempre) - cortei minha infância pela metade - e caído afoito nas garras de gavião do destino insano, e, em vez de aprender com gestos, sanções, atitudes e eventuais surras de falácias caseiras, as lágrimas dos céus me aconteceram bem mais cedo do que eu pensava e esperava, e eu pude compreender (e posso traduzir tristemente isso agora em banzos-blues), que o amargurado que me tornei, além de algum eventual improviso de jazz com solo de tristices, foi ter tomado peito muito precocemente para enfrentar a barra de viver (a barra pesada de viver), e ter caído no rocambole do mundo como um inocente puro e simples, mesmo as mãos limpas, o peito arfando, os olhos viçados, isto é, simplesmente uma frágil folha de papel rasa em que a vida pôs a malvada descompostura dela, o que me tornou também sofredor precoce, depois refém da sensibilidade extremada, com muito déficit afetivo, e eu lamentavelmente pude, assim, de alguma forma, ser abatido, predado, sofrido, tornar-me - na fuga! na fuga! - um poeta com sânscrita identidade de humildes como licor de jabuticaba de terceira dimensão em realidade substituta.Se eu pudesse pedir perdão... por alguma razão, loucura, ou macadame de sofrência, eu pediria perdão às minhas adoráveis seis irmãs, não apenas por tê-las amado tanto, mas por não ter tido competência para tê-las defendido como deveria, e também por não estar presente ainda mais como o outro seio secreto delas, amparando as ocasionais angústias e perdas, carregando as sobras de tantas tintas intimas das vaidades exageradas delas, ou colhendo mais dos filhotes-sobrinhos belos e abençoados que me deram quando eu era peregrino fugidor, e por isso, intimamente por isso eu as amei muito, amo-as mais do que posso traduzir, e as amarei muito além do lar infinital do dono do sol, quando, finalmente e então, os meus globos oculares já com saquinhos de chá sobre as pálpebras inferiores disserem de meu quase um século de vida, e eu poder dizer Adeus para ver o remanso do último lírio selvagem da terra, e então poder ir, finalmente, colher estrelas no campo de estrelas do céu com meu finado genitor, porque, assim também, claro, no vislumbre do reencontro, sei que na casa de meu pai há muitas moradas.Se eu pudesse pedir perdão...de alguma forma, de alguma maneira, em algum estágio e devão desse erradio caminho (de caminheiro atiçado pela busca de um farol além da curva do arco-íris), eu iria pedir também que me perdoassem tantas coisas, nesse favo de inventário e partilha, a saber:Um: Eu pediria perdão aTodas as ruas de minha infância, principalmente aquelas com terrinhas cor-de-rosa de minha descalça pegada íntima, na liberdade de ser puro entre aurorais, encantários, ninhais, e, claro, também, mandorovás, camaleões e fantasmas verdes entre beronhas e formigas-saúvasDois: Eu pediria perdão aTodos os quintais das casas de cigano aonde morei, nessa e em outras vidas antigas - ah a aurora que trago da infância! - entre dormentes, trilhos, tatus, canteiros, pardais & cidreiras, porque de eios de água brotaram imaginações saradinhas como cuques de framboesas temporãsTrês: Eu pediria perdão aTodos os milhares de livros que eu li, porque neles, pelo menos assim em tempos de vacas magras, todos os finais eram magnificamente felizes, o Crusoé era uma gaivota santa numa ilha de nascentes limpas, e eu imaginava que, sendo eu mesmo, sempre, teria santerias por atacado nas minhas aventuras de atiçado, sensível, quase um Sentidor da pá viradaQuatro: Eu pediria perdão aTodas as mulheres que eu amei, e que não me amaram, e que assim e talvez por isso mesmo foram infelizes para sempre, como uma desculpa-livramento, um castigo-andaime, uma solidão-palhaço, um prelúdio-talismã. Até porque, confesso, o meu primeiro amor foi uma parede. Que eu trago e tenho comigo, como um íntimo butim, como um alforje de estrelas que despenco cada vez que escrevo. E eu escrevo para não chorar. E eu faço poemas porque não sei morrer sozinho como uma lesma cega cor de leiteCinco: E pediria perdão porTodos os malditos(..) sonhos que eu tive. Eu, tolo, achava que iria crescer e mudar o mundo. Só os imbecis são felizes? Primeiro queria ser presidente, depois poeta, afinal restei-me educador. Como viram, nunca soube me escolher na melhor parte do filé das víboras, nos tapumes dos chacais, nos guizos dos incrédulos. Fui, perdoem, cem por cento eu mesmo e todo emocional como um baú de estimas. Deus sabe com quantas lágrimas faz o castelo de nossas idas e vindas (não há perdão no esquecimento)Seis: Eu pediria perdão aTodos os inimigos, e circunstancialmente os tive em algum lugar ou vareio de palavras, e que por algum motivo me magoaram, me traíram como margens abruptas de um rio inocente. Alguns eu perdoei como se perdoa um esquilo cego por morder seu calcanhar de Aquiles, a outros eu acabei por - moendas do estilo da vida nua e crua - a dar pão e água, e, confesso, muitos eu matei tanto dentro de nim como um surto-circuito, que eles mesmo se anularam com seus nós íntimos, como cactos vítreos de rudezas pegajentas em clãs espúriosSete: Eu pediria perdão aTodos os anjos que me ajudaram, e que devem me perdoar mesmo para muito além do eternamente, porque, aqui e ali, nalguma curva do caminho, sem o saber, sem querer e mesmo sem maldade, eu os abandonei entre um mata-burros, uma pinguela ou um portal. E há lugares (o mundo sombra?) que anjos não freqüentam. E eu atinado fui buscar candeeiro na boêmia, troçando alhures (troféus de mixórdias), trocando flores por cançonetas, amando tardes de chuvas e minguados afetos de ocasião, quase purgando interioridades com primaveras que já deram o que tinham de darOito: Eu pediria perdãoPor todas as preces, todos os brancos lenços de adeuses (até os escondidos), todos os poemas escritos na mais cuneiforme intenção do refluxo do inconsciente - que é quando eu me despojo, me decomponho, pondo a alma para respirar - escrevendo de supetão o rebite de uma idéia, um ideal, entre um copo de leite azedo, um mimo celestial ou uma pestilenta tentativa de abismo que escrevendo evito um poucoNove: Eu pediria perdãoA todas as árvores que fui, de alguma maneira e por algum motivo, medidas as proporções, de groselheiras secas a laranjeiras sem guirlandas brancas, como se um dia, de verdade eu tivesse sido alguma espécie de árvore, noutro século, noutra encantação, e, por algum fruto proibido vim a ser vetado de ser outra vez, depois espiritualmente perdi o sagrado direito de tê-las comigo no DNA, e aqui me deixaram em dimensão-placenta errada, não apenas como um castigo pro carbono virar diamante, ou não, mas para como, tentativa de cicatriz, eu de novo aprender a ser raiz, a ser copa, a ser tronco, a ser pétala, a dar flores & frutos, tudo de novo, tudo outra vez, como uma canga, um pesadelo vivido, no arremate de uma alma superior cerzindo minhas perdas entre ofícios testamenteiros e arrozais de desculpas com azedumes terçãsDez, finalmenteEu pediria perdão, ainda, nesses meus dez mandamentos-testemunhos (?) de desalinho e dor (poetas não têm peças de reposição), a àquilo que fui de alguma maneira, por algum motivo, sem o saber, sem o querer, sem o poder, mas identificando afinidades íntimas:-Cardume: Por ter sido um pouco areal, um pouco atol, um pouco rede, um pouco albatroz no mar de sargaços da vida, então paguei a duplicata da perda a ser isso também me serviu como lima nova em ferrugens adquiridas-Tempestade: Por ter navios fantasmas em mim, ser sobrevivente de naufrágios abismais, trazer estranhas marcas disso, fui isso e me feri de ver o que provoquei em ira insana, atemporal, obedecedor involuntário de desastres e tragédias-Chuva de abril: Por saber que nada me pertence, nada do que me foi dado é gratuito, tudo tem um preço e eu não acredito em valores a não ser o lado pérola da ostra, por isso pago dobrado esse crime de existir em Nau Catarineta errada, indo e vindo, carpinteiro das águas no teatro de absurdo dos ciclos que jamais dominarei-Cisterna: Porque ainda tenho lágrimas para tornear poemas por séculos e séculos, não tendo medida para a minha tristeza terreal, e nem me sabendo livro aberto em página errada, assim nunca poderei ordenar à dor que saia para sempre de mim, mesmo que eu ande pelo vale da sombra da morte...-Deserto: Porque sou solitário como uma nave sideral pirata clonada de outra banda cósmica, e solitário me tenho como ser espúrio em vinagre vencido e injusto dessa existência pagã, então escrevo para não ficar louco, escrevo porque o meu cálice transborda e ninguém tem piedade por eu ser como porta-lapsos em núcleo de paradoxos-Eco: Tudo o que sou, soa alto e claro, o que não sou, não sabendo inteiramente me assusta (cacos do espelho), então eu peço perdão por ter amado de repente quem não devia, dito adeus quando era para ficar estagiário, aprendido ser leitor de tudo quando deveria ser plantador de campos de lavandas em outros mundos em que a morte não existe.-Barco encalhado: Isso eu sou e serei por muito tempo, mesmo não tenho ainda inteireza do que isso me representa ou me servirá, até porque, em frente ao mar eu me sinto o próprio mar, como se a mãe-natureza me fizesse carbono do sal marinho, depois gaivota número um, depois ilha de areia, depois pobre foca, até que eu perdesse asas ou guelras, até que eu pudesse nadar e ser átomo, esporo, pólen, e chover na horta da espécie humana com seu bezerro de ouro, entrando então pela porta dos fundos da existência só para exatamente pôr o dedo nessa ferida acesa que é o tão mal conjugado verbo viverE, por fim, perdoem musas e boêmios, perdoem anjos e vigiadores de quarteirão, eu me resto aqui um aprendiz de tudo, entre um vazio e o vácuo, criando borboletas de palavras, sendo sempre um homem fora do meu tempo.Quando eu era piá de tudo, amava estar com os idosos tão sábios. Agora que estou quase velho, adoro lidar com crianças.Sempre achei, aliás, que iria morrer muito cedo e criança.Espero morrer criança com quase cem anos.E que Deus tenha piedade de nós.À bença, Mãe. Ave Estância Boêmia de Itararé.Porque Hoje é Sábado, aviso aos incautos navegadores de primeira hora: Bolinhos de chuva encharcam com cervejas bentas, e criam mais tecido adiposo nas vaidades herdadas.

Silas Correa Leite – Santa Itararé das Letras
E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design
À venda no site:
www.livrariacultura.com.br

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal 2009 - Silas Correa Leite




Mensagem de Natal

DEZ DICAS PARA O NATAL E PARA SOBREVIVER EM 2.010


(Primeiro Tratado de Primordiais Virtudes Básicas)


01)-Lembre-se sempre que você estabeleceu metas antes mesmo de começar a existir.

02)-Nunca respeite seus limites circunstanciais de trajetos cósmicos. Na dúvida ou em dezelo íntimo, aprenda a fazer biscoitos de prelúdios silvestres.

03)-Escolha estrelas-referenciais com alto estilo. Faróis humanos são abençoados, mágicos, brilhantes. Farão você se encontrar em você.

04)-Procure o seu mais puro e devido lugar de muito bem ser, para então ser muito bem e crescer nesse seu espaço todo próprio de se existencializar. Alguns chamam isso de lar. Mas um grande amor também pode ser um lar. O seu melhor lugar-lar é dentro de você mesmo. Seja feliz no seu estar em si.

05)-Não tenha horário para nada. Tenha sintonia. E se tiver, relaxe e goste. Tudo é lição de passagem. Ame amar o amor de cada momento todo seu de ser estar e permanecer-se.

06)-Leve seus assuntos íntimos e pessoais para passear com você, mostre os caminhos, as trilhas, os relevos, e quando for dormir, esgote seus pesadelos entre o vermelhão dos extintores de incêndios dos anjos.

07)-Aceite palpites mas teste-os sempre em você mesmo, no amor e na dor, na alegria e na tristeza, no claro e até no clima ambiental de média luz.

08)-Não acredite em tudo. Desconfie até de você mesmo. Não queira ser o que você não é. Não queira ser o que você não saberia ser, nem agüentaria suportar o tranco de ser no futural. Faça bem para você mesmo, fazendo bem aos outros no entorno. Sempre ficamos em paz conosco quando nos fazemos um bem amplo, humanista e territorial.

09)-O mundo inteiro é seu professor. Saiba ser eterno aprendiz. Seus problemas são seus professores. Aí incluindo inimigos, situações-conflitos de riscos, solidões coivaras, músicas da alma, diferenciais de rotas improvisadas, pragmatismos, atropelos, vazantes lacrimais.

10)-Vida é treino. Viver é estar no apuro do esforço físico, mental, emocional e espiritual de lapidação. Viver é, assim, estarmos sempre afinando instrumentos de capacitações em estúdios abertos de nossos espíritos peregrinos.
-0-
Feliz Natal 2009 – O Ano Que Vem Vai ser Dez
Silas Correa Leite – E-mail:
poesilas@terra.com.br
Site: www.itarare.com.br/silas.htm

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Servidão - Letra de Rock/Poema de Silas Correa Leite





Letra de Rock (Quem Se Habilita a Musicar?)


Servidão


A servidão voluntária dos grupos
Tribais,
Sexuais,
Sociais
Cabeças vazias arrotando culpas
Sintomas de subcretinos insensíveis quase
Canibais


Todos submissos, pífios, incultos
Amorais,
Animais,
Consensuais
Mentes vagando no nada absoluto
Cotas de sem cérebro, hipócritas, janotas
Boçais


A servidão de condomínios insepultos
Letais,
Fecais,
Presenciais
Tribos, grupos, panelas, totens, posudos
Chacais


A solidão voluntária da falta de escrúpulos
A solidão voluntária da falta de escrúpulos
A solidão voluntária da falta de escrúpulos
-0-
Letra de Rock/Poema: Silas Correa Leite
E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.itarare.com.br/silas.htm