terça-feira, 30 de setembro de 2008

My Way




My Way


Um dia você acorda e olha pra trás
E diz: eu não era nada.
E vê toda vida que fez do seu jeito
E pergunta: terá valido a pena?
Você acha que venceu na vida
Mas sabe: o que restou de você?
Talvez muito pouco ou quase nada
Daquilo: uma criança pura.

Um dia você cai em si e teme
O resultado: o que fizeram de você
A luta a dor, as amarguras e
Seqüelas: terá sido uma vitória?
Dentro do seu coração os sonhos
E as escuridões: são os poemas
Que você escreve porque tem medo
De se matar: morrer depois de tudo?
..............................................................
Um dia você não quer olhar pra trás
E nem pra você: foge para a poesia.

(Na escrita há um tempo irreal
Uma ilhota íntima: você em você!)

-0-

Silas Correa Leite, Itararé, SP-Brasil
E-mil:
poesilas@terra.com.br
Blogues: www.portas-lapsos.zip.net ou
www.campodetrigocomcorvos.zip.net

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

DORNA (Poema)




DORNA

Eu procuro seus olhos dentro da noite enferma
Mas é só silêncio e solidão. Sofro.
Os corvos da amargura me rondam.
Como eu queria estar morto agora!

A noite é cinza como a minh´alma.
Ninguém me estende a mão. Vegeto.
Escuto descompassos nos labirintos do espírito
E há passos no porão de minha miserabilidade.

Estou cercado de muros. Beijo o pântano.
Quase habito a quarta dimensão, a minha alma.
Sozinho escrevo ressentimentos velhos
Fantasmas, neuras, desconstruções, ilicitudes.

À margem de mim mesmo; a vida entrevada.
Já não tenho nada a perder. Escrevo.
Neil Sedaka ao longe canta Solitaire ao piano de cauda
Como se espremesse limões nas minhas cicatrizes.

Sou vinho azedo, mosto, na dorna.
Tristices escoam pelo ralo. Cariz.
Talvez ao amanhecer eu esteja finalmente morto
Ouvindo o piano da aurora ornar a crista do sol com meu abandono.

-0-

Silas Correa Leite, Itararé, São Paulo, Brasil
E-mail:
poesilas@terra.com.br Blusões: www.portas-lapsos.zip.net ou www.campodetrigocomcorvos.zip.net



sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Você Merece o seu Animal?




Você Merece o Seu Animal?



-Você faz por merecer o seu bicho predileto que pensa que foi ele quem escolheu você? Você o leva para passear, deixa que ele perca suor, perca peso, tropece no tapete das etiquetas, babe por aquela cadelinha da lanchonete da esquina, ou se insinue para aquela outra zinha do apê vizinha, sempre engaiolada, cara de fuinha atrás de um amante de perdição escondendo o falso rabinho entre as pernas além do silicone no coração?

-Você lhe dá uma porção diária de ração natural de amor viçado, deixa-o pensar que manda e é o tal herói, quando ele faz um rápido cafuné maquinal decorado e depois dispensa tedioso você quintal afora, ou você, na próxima reaproximação, esconde o chinelo do dezelo íntimo dele; ou você saca bem a pequenez do tipo e rói o osso da mediocridade humana, sempre perdoando feito um anjo?. Ninguém merece, não é mesmo?

-E quando o seu animal fede como um gambá, sabe como é, o bicho não é lá muito de tomar banho, tem um sovaco vencido com cheiro de fedô que é um risco de vida pro seu ambiente natural de sensibilidade. Ele também deveria ter um poste pra se enxergar, não é isso, cara? Mas não caia nessa de retaliar. Tenha paciência. E quando o seu animal está no cio – e ele como auto-afirmação parece estar sempre no cio – pede a ração sedentária de sempre; rosna pro concorrente com cara de hipopótamo metrossexual, demarca território – cigarro, cinzas, caspas, cabelo caindo (a descompensação hormonal) – e ainda faz cara de enfezado, querendo concorrer com você em matéria de flatulência, demarcando território?. Onde já se viu isso? Proteja-se nessa hora. Evacuem o quarteirão!

-Cuidado com o seu animal. Ele fica cada vez pior com o passar dos anos. Deveria adotar um outro filho, um primo, talvez, um sobrinho pobre, um menor carente. Ajuda mútua. Ele dá bola pra você? Colocou um nome ridículo né não? Ele tem essas coisinhas impróprias lá dele, mas, no fundo o cachorrão está mesmo é querendo provar é o rei do pedaço, quando é um palhaço com juba. Pobre do seu animal. Decadência pura.

-E o canil de estimação dele, então, você acredita? Mal ventilado, tem tantos tarecos; ele tem um mau gosto incrível, você acaba tropeçando naquelas coisas todas, tarecos, restos dele, cacos dele, ácaros dele, pelagem dele, mas ele não sente como você, ele na verdade não tem o seu faro apurado, o instinto dele é mais de ataque irracional, você sabe, afinal, são os labirintos da cadeia alimentar, ele é meio lelé da cuca nessas coisas. Não cheira tudo o que come. Ele precisa é de um veterinário para dinossauro. Já pensou?

-Quando ele chamar você de pulguento querido, não ligue. Trate o seu animal como um bicho de estimação mas, perdoe. Esse é seu jeito todo gentil de ser fiel. Ele acha que vai durar muito, no entanto, se você não o levasse para passear, para correr, para dar voltas no parque, qual seria a desculpa que ele iria dar para morrer tenso, de enfarto, de estresse, de úlcera, de diabetes, de gula, de raiva, de nojo, pois que o lazarento adora carne vermelha e de se empanturrar de rações enlatadas, saturadas, embutidas, destilados, essas porcarias com grife. Ele está se matando e não sabe. E ele não entende os seus sinais. Enxerga e não vê. Pensa que pensa.

-Cuide bem de seu animal. Ele não está com essa corda toda não, mas tá se achando. Dê um tempo. Seja gentil mais uma vez. Pondere. Dê uma trégua. Afrouxe o laço. Faça-o pensar que está no comando. Sacou essa? Não arrebente o laço afetivo, essas relações com animais são assim mesmo, demoradas; é mesmo muito difícil criar vínculo, manter o elo, deixar pra lá as patifarias, o sal grosso das ocasiões, as nódoas de intenções, as gorduras ególatras do comportamento pseudo-racional, as triviais vaidades e os bocós objetos de adorno, bibelôs que nem Freud explica. Na verdade o seu animalzinho não cresceu ainda, não evolui direito a própria espécie desde que descobriu o fogo e a roda, é quase um brucutu ainda. Vai demorar um tempão.

-Cuide bem dele assim mesmo. Como o seu animal é exibido, não é assim? Vai a velório e quer aparecer mais do que o defunto. Carência é só isso. Trate-o bem. Não fique nervoso como ele que é sempre nervoso. Ele na verdade sabe que, quando há perigo, pode contar com você “de grátis”. Não late e não morde, não risca sofá com as unhas mas, às vezes é um perigo por isso mesmo, porque é muito barulhento, topetudo, turrão, medito a sebo. Quando não dissimula, camufla. Relaxe, muita calma nessa hora. Não adquirira a personalidade desse cavalo. Deite perto dele, permita um afago, se preciso, ouse, mie alto, imite um pangaré, dê umas lambidas de veludo nele, cheire, salte sobre migalhas de tremoços de saudades invisíveis, mas, segure a neura dele, a depressão, a crise, o esgotamento, sublimações enrustidas. Ele quer ser leão mas é um piolho. Às vezes um pólem. Ele não foi treinado para existir, é muito ruim de aprender, a sensibilidade dele está atrofiada faz séculos. Você é mil vezes melhor do que ele, mas, por favor, não deixe transparecer a sua superioridade. Seja humilde. A coleira é mais uma insegurança dele. Você é tudo o que ele tem. Quem mandou bancar animal de estimação de uma pessoinha problemática. Você foi escolhido por ser especial para a situação grave dele. Você pode ser a própria salvação dele.

-Quando ele abaixar a cabeça, derrotado, triste como uma lagartixa albina, saiba latir feito um muxoxo, ofereça a patinha num gesto de afeto, de compreensão, feito um ocasional salva-vidas. O seu ser humano de convivência é assim mesmo. Se você não fosse tão importante, essa pessoa não teria nada a não ser você. A troco da parca ração diária dele, ofereça companhia fiel. Isso é da sua natureza. Se o seu ser humano de estimação estiver meio abilolado e querer imitar você, deixe. Ele não tem competência para ser um cão, um gato, uma, girafa. Já andou de quatro e fez feio, até descobrir a condução móvel do cipó. Ame-o e deixe-o amar do jeito limitado dele, mal-e-mal um paquiderme, uma baleia azul. Você, cão, gato é superior a ele. Mas não demonstre. Seja forte sempre como você sempre foi. Segure as barras pesadas dele. As piores garras são a dos homens. Você sabe se ele foi vacinado? Esse reprodutor castrou tantos sonhos leais e nem sabe...

-As relações humanas doem, são complexas como você bem sacou, cheirando problemas. Então eles se amparam em seres como você, mas, verdade mesmo, os piores animais são eles, os homens, as mulheres. Os piores poluidores do Planeta Água. Brinque com ele mas fique com uma patinha atrás, de vez em quando. Anime-o, faça piruetas, leve-o para passear, seja serelepe, assim ele perde o colesterol, a barriga, melhora a circulação e, ainda, você será a bendita proteção dele, apesar dele pensar que é superior, essas coisas. Ele às vezes acha que é o que não é. Não tem limites, nem cercas, nem controle remoto. Faz parte. A vida é assim mesmo Lulu, Rex, Tintim, qualquer nome que você tenha, quer seja Donzela, Esfinge ou Sabonete, sabe, eles arrumam cada nome, não têm noção do ridículo mesmo. Isso é coisa da espécie humana às vezes nem tão humana assim. Você tem que sobreviver entre eles como puder, sem refugar, sempre perdoando.

-Você faz por merecer seu animal, mas, cá entre nós, o homem que pensa é seu Animal de Estimação (mas pensa que é seu dono), faz por merecer você? Cachorrinho, Gatinho, Papagaio, o que quer de precioso que você seja, tenha dó, cuide bem de seu animal de estimação, o egnimático Bicho Homem. Mil Luas pra você!
-0-
Poeta Silas Corrêa Leite – E-mail: poesilas@terra.com.br - Site pessoal:
www.itarare.com.br/silas.htm
E-book (romance místico virtual) ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS
no site www.itarare.com.com.br

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A ALMA DE TOLSTÓI





A Alma de Tolstói

Muito além das montanhas da Rússia
A alma de Tolstói ainda viaja
E se alimenta das impropriedades insanas dos seres
Perdidos como ilhas de nódoas entre tapumes falsos.
A alma de Tolstoi tenta compreender o incompreensível
E quer salvar todos os seres
E alguns pobres seres que são reses entre estátuas e cofres
E ele muito se admira de se perder de si sonhando improbabilidades que não aceita no humanus.

Muito além das montanhas da Rússia
O espectro de Tolstói ainda vaga
Tentando reconstruir a sua terra além da bruma
Que o terrifica no íntimo insarado de pensador.
Porque a alma de Tolstoi é a própria Rússia ferida aberta
E ele procura píer, estação de trem, portos seguros
E alguns outros que lhe vão sendo aberto além
Do que ele de si mesmo deixou como tesouro triste
A vida humana, a besta-fera, o ser desatinado.

Muito além de todos nós que o ainda traduzimos
São tantas as almas penadas que, procuram
Um livro, uma arte, um mudo de regurgitar além do lodo
O que a vida nos dá de horror e neuras e escombros
Como à Leon Tolstoi que escreveu sua guerra sem paz.

-0-

Silas Correa Leite – Poeta, Ficcionista, Ensaísta
Itararé-SP – Prêmio Ligia Fagundes Telles Para Professor Escritor
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design - E-mail: poesilas@terra.com.br - Blogue: http://www.portas-lapsos.zip.net/


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Porque Sou Professor




Por que Sou Professor


Para a Mestra Nancy Penna (Itararé-SP)


Sou PROFESSOR porque...amo a vida, amo as pessoas, amo servir e trocar confeitos de sonhos e esperanças.Sou PROFESSOR porque creio na fé, no conhecimento, e no saber que provoca mudanças essenciais para todos.Sou PROFESSOR porque... o amor também move moinhos além de remover montanhas, e é pra frente que se anda, é para cima e para dentro que se evolui espiritualmente.Sou PROFESSOR porque... pássaro que sabe que pode voar mais longe, tem que partir primeiro...Sou PROFESSOR porque...acredito na distribuição do pão e da água, além da vontade de viver intensamente tecendo somas de vivências e iluminuras.Sou PROFESSOR porque...confio na beleza da produção de conhecimento e da pesquisa em parceria dinâmica salutar.Sou PROFESSOR porque...a alma da ciência é a perseverança e o dinamismo da dedicação uma missão como soma pelo viés plural-comunitário.Sou PROFESSOR porque...a palavra é luz, o livro é estandarte e a troca de bagagens (Ave Paulo Freire) um elo de exortação à vida infinita que é uma eterna busca.Sou PROFESSOR porque...a união vale o esforço, faz a força do grupo docente e discente irmanados; a união de propósitos em comum faz o acervo ético, e a amizade é uma escada para o alto, para a essência vital do divino amor cósmico.Sou PROFESSOR porque...sempre me encontro comigo mesmo, a cada aula, cada situação-problema, e quando estou em sala de aula eu me sinto dentro do meu próprio coração.Sou PROFESSOR porque...lecionar é uma lavra de humanismo de resultados, arados e a estrelas no mesmo canteiro sideral da espécie que é energia, calor e luz.Sou PROFESSOR porque...dar aulas é oferecer a mão estendida, o ombro amigo, o afeto que se encerra num abraço terno à procura de uma boa mensagem sementeira para o futuro.Sou PROFESSOR porque...a pedra bruta para se tornar diamante de valor precisa da estima, da lucidez e do fogo da forja que é primordial no caminho do estágio evolutivo seqüencial. Sou PROFESSOR porque...a docência é missão, é dádiva, é semeadura de tantas estradas que vão dar muito além desse planeta geóide.Sou PROFESSOR porque... de uma maravilhosa mestra me fiz poeta precoce, de uma educadora meiga me fiz Crusoé, de uma pedagoga diferenciada me fiz baladeiro a oxigenar seixos íntimos, sonhando - nos estudos, no livros, nas aulas - um lugar ao sol e o pote de ouro atrás do arco-íris.Sou PROFESSOR porque...me respeito e gosto de fazer o que faço, amando para ser amado, me modificando (e moldando-me sempre para melhor) a cada dia, descobrindo sempre novos horizontes pelo olhar do aluno-filho, cada um deles com perspectiva especial de uma alma cidadã.Sou PROFESSOR porque...faço parte da orquestra dos sensíveis, e me dou, livro aberto, para a biblioteca universal dos dias que são páginas de rostos de seres puros buscando apreendências e letramentos...
Sou PROFESSOR porque...ensinar é levar o aluno enquanto ser e enquanto humanus, para uma viagem ao reino encantado da palavra, do saber e até do conhecimento científico.Sou PROFESSOR porque...como diz o poeta, o aluno é como a madeira, se for devidamente "tocado" - INSPIRADO! - pode tornar-se flauta.


Sou PROFESSOR porque...minha maior rebeldia é querer mudar o mundo pra melhor, plantando ideais nos corações e mentes de meus canteiros cíclicos que, certamente levarão minha mensagem de amor e fé para o futuro da espécie, uma vida melhor, mais justa.
E, por fim, sou Professor porque assim sou feliz, pareço feliz, semeio sentidos de grandes buscas, com parcerias e vivências de inclusões, e sei que, com certeza, há muito mais luz no processo do ensino-aprendizagem do que no átomo. E sei também que o aluno é uma árvore que tem que ser bem cuidada, bem regada, bem preparada, solidificada com carinho, bem adubada até, para, serenamente crescer e dar flores e frutos. E assim sei da responsabilidade que, com meu trabalho, tenho com a sociedade, com a vida, com o mundo, por isso mesmo espero ser um dia um belo fruto na seara desses alunos que amo tanto.


Poeta Prof. Silas Corrêa Leite


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Poema do Circo Mandorová





Circo Mandorová




“Quando eu era pequena

Queria ir embora com os circos que passavam

Hoje, ainda o mesmo, mas piorado

Quero ir embora com qualquer coisa

Que venha de longe e tenha gosto de circo.


(Jeane Hanauer)


Quando eu era pequeno me assustavam

Que o homem-pássaro do circo me roubaria

E me venderia para ser menino-carvoeiro


Eu ouvia os risos do Circo Mandorová

Ouvia os aplausos do Circo Pasárgada

E ficava cismando um reino encantado


O palhaço que pintava lá em Itararé

Era bem risador e ladrão de mulher

Quando eu cheirava cueiros e estrelas


Cresci e fui vendedor de capilé nas ruas

O meu circo foi de lágrimas e tristices

Meu coração sonhava uma Shangri-lá


Hoje que sou um quase velho-menino

Tenho um Circo Mandorová em mim

A infância e a dor numa lona em polaroid


-0-Silas Correa Leite


E-mail: poesilas@terra.com.br

ANTES DE ATRAVESSAR A PONTE






Dentro de nós existe uma coisaque não tem nome.Essa coisa é o que somos… José Saramago

Você precisa acreditar.Antes de atravessar a ponte, pare um pouco, pense bem, lembre-se que o fim é apenas o começo, respire fundo, alimente a sua alma de luz e, finalmente, tome a mais importante decisão de toda a sua vida.
É tudo ou nada. A tinta da travessia é feita de películas de sonhos impossíveis.
Reveja os projetos, pense nas possibilidades, reestime as estimativas, some emoção e cálculo, não vá só assim de cara lavada, ligue-se no plug-vetor do universo (você é parte desse todo, lembra-se), e então Vá! Como dizia a balada de Raul Seixas: “Faça o que tu queres/Pois é tudo da lei!…” A lei cósmica se cumpre. Conquistas e riscos fazem parte do kit básico de todo empreendimento.
Você precisa dar-se crédito. Antes de atravessar a ponte, prepare-se como se fosse para entrar em órbita: ver o céu lá de cima, já pensou?: O céu pode ser você, quem sabe?
Às vezes toda a sua vida inteirinha – ou todas as vidas que se somam na sua vida agora – são condensadas de mil fragmentos, mil páginas de rostos, mil pergaminhos e manuscritos, para, apenas agora, ter esse seu definitivo momento importantíssimo íntimo e pessoal. Você carrega o seu próprio mundo todo para esse seu momento que é único, inevitável. Prepare-se muito bem, portanto, para atravessar a ponte.
Anatole France já muito bem dizia, num belo texto:
-Venham para a beira do abismo.Mas Eles diziam: -Nós temos medo.E ele insistia, determinado, impondo-se:-Venham para a beira do abismo, vejam o enorme e belo desfiladeiro!Eles finalmente foram.Então ele os empurrou…e Eles VOARAM!
Esse é o seu momento sublime agora. Desse momento depende a sua vida. É um pit stop entre o passado, o presente, o futuro.
Você está no foco, no alce de mira, dentro de você mesma. É agora ou nunca.
Claro, sei, não é fácil. Nunca é. A última palavra – livre arbítrio – é sua.Mas você está nos braços de Deus. Tudo é possível ao que crê. A morte não é tudo. Viver não é só aqui. Antes de atravessar a ponte, perca lastro, largue mágoas, deixe ressentimentos, tristices, nódoas, escolha-se no melhor do ser de si, e colha renovada paz para o alto, para cima, técnicas para atravessar a ponte. São quatro letras: AMOR.
Você precisa pensar bem, decidir por você mesma, evoluir a roupa epidérmica da alma. Crer é ser; e ser para CRER. E crer para ir em frente, claro.
Se você não acreditar em você, quem vai acreditar? Se você não fizer por você mesma, quem vai fazer? Se você não passar pelo buraco de agulha, que átomo você é na composição do universo todo? Confie sempre em você.
Você é o espírito que você tem. Vai pipocar agora? Grandes viagens começam com o primeiro passo lá atrás, muito além do farol do fim do mundo, muito além do fim. É dar o primeiro passado e correr para a galera comemorar o placar a seu favor. Já pensou?
Você precisa atravessar a ponte. Deus está mais perto de você do que a sua jugular, diz a lenda.
A ponte liga o antes ao depois. Reparou nos sinais?. Você é exatamente o durante; você está na plenitude de si. Não titubeia agora. Cresça e apareça.Deus só está dentro de nós, se estamos limpos na presença dele. Não pense no que você vai fazer, mas no que Deus está fazendo em você. Em toda tentativa de evoluir, és uma pessoa livre com total controle de tua alma. Mas num desejo inanimado, és escravo de tua insegurança.
Tudo está sendo muito bem preparado. Tudo foi escrito há milênios. O reencontro, o salto, a busca, a cura, a reciclagem; o teu átomo é muito importante no contextual de zilhões de galáxias.
Deus cuidará de ti. Na hora da nossa hora, acreditar no Maravilhoso é preciso. Você é quem faz a diferença. Lembre-se, a ponte também pode ser um milagre.
-0-
Silas Corrêa LeiteEstância Boêmia de Itararé-SP



Texto da Série NÃO DEIXE QUE TE TIREM A PRIMAVERA

E-book ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS no site www.itarare.com.br

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Poema ENTE (E.T.)








E.(N)T.(E)


Aquele piá do filme de Chaplin Carlito
Que corre a quebrar espelhos, vidraças
Sou eu - sou eu, de olhar triste e boné

Aquele guri humilde do Cine Paradiso
Sou eu; um curumim sofrido e pobrinho
Vendendo pirulito pelas ruas de Itararé

Mas, aquele “Ser” apontando para o céu inteiro
Dizendo “Terra”, “Casa”, “Lar”
Com a pontinha do dedo indicador todo iluminado

Sou eu! Sou eu! – um peregrino estrangeiro
Á espera de virem me resgatar
Pra eu voltar para a minha casa que é do outro lado.

-0-

Silas Correa Leite
www.portas-lapsos.zip.net
E-mail: poesilas@terra.com.br
Poema da Série “Eram os Deuses Itarareenses?”



quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Poeta Trabalhando em Biblioteca


Silas Correa Leite, na Biblioteca

Thomázia Montoro, Vila Sonia, São Paulo


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Resenha Campo de Trigo com Contos, Livro de Contos do Silas Correa Leite




Campo de Trigo Com Corvos, Contos, o Livro do Silas Corrêa Leite


A ciência é grosseira, a vida é sutil

É para corrigir essa distância

Que a literatura nos importa


(Roland Barthes)


“CAMPO DE TRIGO COM CORVOS”, Contos, o que realmente é? Primeiro: é um livro de contos, ficções, histórias, causos, narrativas e as chamadas acontecências, todas no belíssimo palco histórico e boêmio de Itararé. Segundo: a maioria dos contos premiados em concursos literários de renome, ou mesmo no próprio Mapa Cultural Paulista, representando Itararé. Terceiro: a prosa poética do autor, sua linguagem típica do “Itarareês” com o peculiar e todo próprio surrealismo e mesmo o realismo fantástico, para não dizer de, aqui e ali, um chamado transrealismo. E, o melhor de tudo: papo de bar. Na calada da memória, as bebemorações (ou rememorações) e um piá...o guri Silas contando, como se trazendo a sua infância consigo na linguagem, nos parágrafos. Para não dizer dos finais hilários ou, ponhamos: encantados. Bela capa, com autorização do Museu Van Gogh da Holanda. Orelhas bem trabalhadas. O autor tem o que se dizer dele. Prefácio arrebatador. De um poeta, ficcionista e ensaísta premiado de Portugal, o Prof. Dr. Antero Barbosa, acadêmico e professor universitário. Descasca literalmente o estilo do Silas, técnicas, vôos, criações, enlevos, símbolos de perplexidade. E valoradamente dá nomes elogiosos aos criames diferenciados do autor. Última capa, as citações de lugares midiáticos em que o Silas saiu, foi reportagem, ou entrevistado, da Folha à Jovem Pan, por exemplo. Depois e finalmente, o conto Anistia. Premiado. O macro espaço-Brasil trazido à Itararé e um menino contando. Da ditadura ao fim dela com a Era Collor e suas carroças coloridas. O muro como símbolo, metáfora. Lembra J.J.Veiga mas vai em veio próprio. Guardação. Um baita causo de Itararé. Bem construído, costurado, com um final pra lá de feliz e risador, ridente, sei lá. Boêmio...um continho joiado...lindo. Mimo. Caso de notívago. Câncer... então é um papo rueiro, de bar risca-faca, de roda de contadores de palha. O Anão é tão bonito que pinta virar filme, pelo que soube. Gente de arte (teatro, rádio, música) em Itararé de olho. Mágico. Justiça, então, tem um final altamente criativo, quase um achado fora de série. Escrever é um ato de sobrevivência, disse Eduardo Subirates (filósofo espanhol). O Apanhador de Cerejas, quando revela o que está realmente havendo (narrador direto), você sofre e chora e volta a reler para compreender a dor do narrador. A pior coisa é não sentir absolutamente nada, diz o rock do U2. Campo de Trigo Com Corvos é o melhor conto do livro. E o final se revela na última palavra. Você vai lendo, seguindo na contação do menino, quando se vê? Corvos, trigais, campos e, loucura-lucidez. Azul e amarelo, como a capa. O Inventor é cênico, fílmico, e um final que arrebata, literalmente. Endoenças é conversa de filha pra pai. Tudo em Itararé, chão e estrelas. E lágrimas. Congonha (ko goy – do tupi: o quê mantém o ser?), o conto mais premiado do autor. Como é que pode um final desses? Depois vem o Causo do Gibão e você tem ali uma graceza impressionante, andando com o autor pela narrativa e sua tessitura. O Enterro, então, é o melhor “causo” do livro. Por si só daria já um romance e tanto. Um pandareco, como volta e meia diz o autor, entre maleixo, cainho, guaiú, morfético, caipora lazarento (beirando um regionalismo sulino até), etc. Quando você pensa que já está bom, a mimese do O Osso. De novo você fica pensando: como pode escrever isso? Onde acha isso tudo? Técnica, estilo, domínio, condução, talento. Coió é triste, duro, o conto mais pungente do livro maravilhoso. O causo O Velho Martinho é bem contado em Itararé, o autor recupera pessoas, falas, expressões, dando registro à voz do povo, vox dei. E bota gente real: Tepa, Jorge Chuéri, lugares, bares (principalmente). Quando a Tragédia Bate à Sua Porta, foi elogiado e considerado belo e fílmico quando em debate online, pelo João Silvério Trevisaan. E O Silas Já foi premiado no Concurso Ignácio Loyola Brandão, Paulo Leminsky, Ligia Fagundes Telles, Salão de Causos de Pescadores da USP, etc. e tal. Então o conto de amor que faz você chorar. Ele Ainda Está Esperando. Um final que relembra kafka mas sem deixar de enlevar a leitura em prosa poética e ficar pensando no estupendo processo de criação com suas lógicas e ilogicidades maviosas, plangentes. Quando você pensa que acabou, um continho quase que meio infanto-juvenil, e o menino de novo que, na maioria das obras narra, conta, detalha, especifica, volta inteiro e completo com o conto sobre a bicicleta de um tio. Marquesinha, Periquitada. Você não leu? Não sabe o que está perdendo. Cada um arrasta um corpo atrás de si, debaixo do sossego das estrelas, disse Fernando Pessoa. Isso tudo e muito mais é CAMPO DE TRIGO COM CORVOS. Jóia rara.

-0-

L.C.A – Professora, Área de Designer Gráfico




Autor: Silas Correa Leite

E-mail: poesilas@terra.com.br

Poema da Segunda-Feira Santa de Peão




Segunda-Feira Santa de Peão


Sábado é Dia de Jejum
O Sabat sem trabalho algum
Domingo é Dia do Senhor
Cerveja, macarrão, aspirador
Mas segunda-feira santa meu irmão
É dia de marmita e de peão
Do operário em construção
De começar tudo de novo
Do arroz, feijão, salada e ovo
Segunda-feira é sempre assim
A semana a recomeçar do fim

O Sabat exige concentração
Guardá-lo é luz e condição
Mas logo viça o belo domingo
Macarrão na sogra e xingo
E a esperança viça e abunda
E o ruflar auroral da segunda
Trânsito, fila, péssima condução
Trabalho, suor, holerite, patrão
Que um salário nos redunda
Mas tem valor a segunda-feira
Ela será santa a vida inteira

Domingo é pipa com cerol
Bebemorar de sol a sol
Escola dominical, cunhado
Ainda tem jogo de futebol
Mesmo o Corinthians derrotado
Esperança ainda sempre há
Torcer para o Guaratinguetá
Mas segunda-feira o bicho pega
A faca não é amolada, é cega
Mas o peão tem que trabalhar
Se não o bicho vai pegar

Segunda-feira é sempre assim
Você se alegra por trabalhar
Mesmo com Sampa tão ruim
A herança maldita do Alckmin
Pra sobreviver tem que se virar
Ser peão, honrado trabalhador
Tem a família, emprego, amor
Que segunda-feira é mesmo santa
Prover o almoço, a janta, a fé
E o sonho preso na garganta:
Aposentar, voltar pra Itararé
-0-
Silas Correa Leite
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(Poema da Série “Verás Que Um Filho Teu Não Foge a Luta”)