sexta-feira, 28 de maio de 2010

Bob Dylan, o Blues-Man da América Agônica






Bob Dylan, o Maldito Blues-Man Rompendo Sombras e Escuridões


(Improviso para uma Crônica-homenagem)


“Quando ouvi Bob Dylan, pensei:
Então ainda não chegamos ao fim da linha...”

Allen Ginsberg, Poeta dos Beatniks



Robert Allen Zimmerman do Minnesota, oeste Americano, judeu peregrino que cantou suas marés altas e baixas, violão e gaita de boca, alma desterrada do Mississipi, poeta denuncista, humanitário, louco sonhador, chuva varrida pelo vento. As pedras rolarão. As chuvas cairão. Com ele, Bob Dylan, os loucos reaprenderam a sonhar.

Um mito dos Anos 60/70/80/90... E não existe outro. O maior poeta da rica música norte-americana. A verve de Faukner, era determinado e destemido na sua sozinhez de tímido gritante, válvula pulsante, gigante. E nunca lucrou muito com seus trabalhos. Lenda vida, espírito-que-anda do rock, subiu, desceu, foi ateu, cristão, judeu, mirabolante experimentou tudo o que pôde para permanecer ele mesmo, carne e coragem.

Hippye pop com sua metralhadora musicoletral, atacando as guerras lucrativas-infames, contra elas todas, os podres poderes; fugiu de armadilhas e não se assinou dono da verdade, qualquer verdade-vaidade. Não aceitou becos ou guetos, bandeiras. A contracultura não como cofre cheio, mas com seu ascoletral contra totens. Poesia nas letras, obsessão, sarcasmo, regurgitando o que via, fio terra, sacava – a realidade é um revólver quente, (parafraseio The Beatles) - cantava, lia, ouvia, sentia e declinava para permanecer mutante, música braba na corrente sanguínea.

Trabalhava a língua-linguagem. E profetizava enquanto poeta do caos (e pré-caos ou pós-caos) arrancando do enraizado country-folk puro e simples para fazer escalas e escolas, cifras & partituras. Escrever sobre Dylan é um perigo. Benzadeus. Rios, braços, correntes, nosso capitão. Inspirado nele faz tempo escrevi Negredos:


“Negredos e Correntes” (Poema)


Libertar, eles libertaram, pelo menos no papel entre moinhos e arados/
Mas se indenizaram; indenizaram os escravocratas de roubos vezeiros/
Em vez de nos indenizarem; à nós, os trabalhadores afrobrasileiros/
E de alguma maneira ainda estamos a uma coivara Acorrentados/
Os pés presos a terra, os tornozelos, os braços, os punhos cerrados/
Os olhos viajam, a mente abstrai e o espírito nos traz de longínquos degredos/
Mesmo que na nossa negritude de amalgamados/
Sejamos agora os Negredos/
Pobres Negros abandonados/
Depois de levas de escravizados/
Temos nossas memórias, lamentos, banzos e medos/
Dos filhos deste solo de mestiços com seus forcados/
Mas os olhos, a boca, os sentidos, as mãos, os dedos/
Ainda gritam contra os dezelos sociais deste Brasil de acorrentados.

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Nunca teve um sucesso dando lucro em primeiro lugar no hit parade. Não se deu lucro como seu meio. Influenciou Caetano e Belchior, o que por si só diz tudo e mostra a grandeza de ter sido o que foi e é & sempre será. Alma bem alimentada de raízes. Um branquelo judeu cor de mandioca vassourinha descascada cantando musica negra feito um pré-rapper?. A alma! a alma!. Já pensou?

Pretos, pobres, prostitrutas, moradores de rua, lutadores de boxe, gatos pardos, doidos, atirados, todos lavavam a alma no seu cantorio feito um folk-pop-banzo anglo-saxônico norte-americano. A América é um blefe? Deu vida aos miseráveis, feito um Walt Whitman pássaro preto da música em pé de guerra e letramentos contra uma América rica e injusta e amoral. Sentir dói. Testemunha de nódoas cantou-as, pulso a pulso. Um gênio na essência da palavra e também literalmente falando (por isso mesmo) tirou de letra.

Fizeram-no um mito mas ele se humanizou o mais que pôde. Não se perdeu como outros tantos, entre drogas e egos insarados nas insofrências. Não quis aura ou signoficante. Merece e faz tempo um Prêmio Nobel da Paz, da Literapura, qualquer coisa joiada assim.

Seu canto contra a guerra:

SENHORES DA GUERRA
Bob Dylan
"Vós, senhores da guerraQue construís canhõesQue construís aviões da morteQue construís grandes bombasQue vos escondeis atrás de murosQue vos escondeis atrás de secretáriasQuero que saibamQue vejo através das vossas máscarasVós, que jamais fizestes outra coisaPara além de construir para destruirJogais com o meu mundoComo se fosse um brinquedoDais-me uma arma na mãoE escondeis-vos do meu olharE virais as costas e fugis bem depressaQuando as rápidas balas cruzam o arComo o velho JudasMentis e enganaisQuereis que acrediteQue uma guerra mundial pode ter vencedorMas vejo para além dos vossos olhosE vejo para além da vossa menteComo vejo através da águaQue escorre pelo meu cano de esgotoVós preparais os gatilhosPara que outros os puxemDepois recostais-vos e apreciaisQuando o número de mortos aumentaEscondeis-vos nas vossas mansõesEnquanto o sangue escorreDos corpos dos jovensE se mistura com a lamaVós espalhastes o pior pavorQue poderia ser lançadoO medo de trazer criançasAo mundoE por ameaçar meu filhoNão nascido e sem nomeVós não valeis o sangueQue corre em vossas veiasEu sei de muitas coisasPara falar fora da minha vezTalvez me chameis de jovemOu de ignoranteMas há algo que seiEmbora seja mais novo que vósMesmo Jesus jamaisPerdoaria o que fazeisQuero perguntar-vos algoSe é vosso dinheiro que valePara comprar vosso perdão?Se achais isso possívelPenso que descobrirãoQuando a morte vos chegarQue todo dinheiro ganhoNão vos devolverás a alma"
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(Tradução livre de "Masters of War", do álbum "Freewheling Bob Dylan" de Bob Dylan, lançado em 1963, tempo de guerra dos EUA contra Vietnã)
Cortou a carne da América, na sua própria. Era parte branca e opressora dela, como também era filho de imigrantes (russos-lituanos) e sabia a dor da saga, de cada um com sua diáspora, cada ser-ilha com suas mensagens de socorro em garrafas, palavras, sons, enfrentações e enfrentamentos íntimos fechados, ciclais.

Parafraseando o próprio Bob Dylan, quando o ouço, em seu sussurro vento-singer, penso que tudo o mais é sacrilégio e a minha alma voa. Uma forte chuva vai cair?

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Silas Correa Leite, Itararé-SP, Brasil
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design
Site:
www.portas-lapsos.zip.net



domingo, 23 de maio de 2010

Pelé 70 Anos, Ídolo de Barro






A Mídia Esportiva e o Ídolo de Barro Pelé, em Seus Setentas Anos

“Pelé jogando é uma coisa.
Falando deveria ter uma
chuteira na boca (Romário)
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-Faz tempo que um ídolo da Mídia Esportiva está envolvido numa série de problemas, para dizer o mínimo, mas a Mídia Esportiva estranhamente o deixa em paz, não provoca um jornalismo investigativo. O Pelé julga-se impune, imune ou a Mídia é suspeitamente conivente? De vez em quando a chamada Mídia Esportiva inventa um craque de ocasião, e lá vai um Kaká da vida pro podium dos disparates especulativos, a ser supervalorado salarialmente, superestimado nos enfoques do meio, e as inocentes torcidas, coitadas, do mesmo modo que acreditavam que o São Paulo Futebol Clube era o melhor time do Brasil, também acreditaram que Kaká era um novo Pelé branquelo com olhar alto-relevo de lambari defumado. Agora que ele já foi vendido pro exterior por alto preço e lá amadureceu, mostrou seu valor, claro, o São Paulo não ganhou nenhum título com ele mas mostrou que além do Kaká que deu certo, por outro lado, Luiz Fabiano e Reinaldo foram, no mínimo, canelas-de-vidro (no bom português, Pipoqueiros - sob pressão de importantes finais), ao mesmo tempo que vem a tona os rastros deixados pelo sr. Edson Arantes de Nascimento, o Pelé, nos suspeitos e exóticos paraísos fiscais. Claro que, a mídia esportiva (agora em minúsculo) deu uma notinha aqui e ali, mas, estranhamente os jornalões e colunistas do meio esportivo nem deram isso como manchete em letras garrafais, pois, afinal, parece que o nosso maior ídolo esportivo tem duas caras: uma, a do craque, para mim, junto com Garrincha, Zico, Sócrates e Rivelino, um dos maiores do mundo. De outro lado o mau empresário que estranhamente valeu-se de laranjas ocasionais, sócios suspeitos cooptados ( entre amigos do alheio?). Inocente inútil ou nem tão inocente assim?Pelé em campo era conhecido como esperto, malandro (até quebrou a perna de um brucutu que caçou seus colegas do Santos), mas - como desculpa, vá lá - não sabe escolher amigos nos negócios, ou, aí que a moeda revela a outra face, saquem o lance, proposital e curiosamente "escolhe" realmente alguns pangarés de caras lavadas, para exatamente dar seus golpes e mostrar que, grosso modo, é mesmo um ídolo de barro, e, pior; a sua personalidade verdadeira é aquela que renegou uma filha porque ela é mais inteligente do que ele, mais bonita do que ele, mais estudada do que ele, e, claro, tem caráter e não se sujeitou ao seu burocrático cerca-lourenço nos trâmites forenses, nem se deixou chapelar por suas pomposas firulas extra-tribunais, muito menos aceitou suas embaixadas de más intenções ou seus ataques de ego ferido em flagrante de comportamentos inidôneos, para dizer o mínimo. Claro que ninguém é cem por cento perfeito. Claro que o futebol no dizer dos hilários locutores e narradores (ou boleiros) é mesmo uma caixinha de surpresa até em jogos de casados contra solteiros, mas, entre o Gerson que fazia o mote publicitário de levar vantagem em tudo; do Luisão que pipocou aqui e ali em vários times grandes, pererecando (como diz o Fiore Gigliotti) sem nunca cumprir contrato in totum com todos eles, e os craques verdadeiramente limpos como Tostão, Zenon e Ademir da Guia, só para citar alguns dos maiores também, há uma grande distância, uma grande diferença. Eu era ainda era jovem de tudo, e fiquei sabendo por intermédio do Jornalista e Promotor Cultural, Paulino Rolim de Moura, de Itararé-SP, no Trombone (imprensa marginal que atacava a tudo e a todos com seu mosaico alternativo de imprensa), as tramóias do ídolo de barro, Pelé, indo e vindo do exterior em suas excursões pouco auditadas, inclusive pelo fisco. E as farinhas(...) encontradas numa vitamina que ele veiculou com alarde e pouca consequência resultante.
Pois o tal tablóide O Trombone publicou esses comentários-denúncias em edições bem distribuídos pelo Brasil todo, e entre governos militares (que fizeram vistas grossas - o Brasil tinha sido campeão no México com Pelé, Dadá, Paulo César Caju e outros), e, por isso mesmo, claro, ninguém quis pôr o dedo na ferida inteira, até porque, diz um ditado antigo, mexer em águas paradas vai trazer o lodo do fundo, e vai sobrar pra muita gente, até alguns emperiquitados totens da mídia e várias sombras palacianas em regime de arbítrio, de tempos tenebrosos. Novamente agora, em tempos de Lula Light e alguma transparência nos três poderes (a imprensa em tese continua antipetista pois é neoliebral, a Polícia Federal já sentiu o fedor das arapucas internacionais tramadas por empresas fantasmas do Rei Pelé, e já tem muitos sócios dele com as barbas de molho, quando não, citando o Elio Gaspari, tungados. Mas, o pior - e esse é o tema central desse artigo-desabafo - são as fanáticas viúvas de Pelé, agora ídolo de Barro, de Milton Neves a outros (e até amigos de ocasião), escondendo esse lado "pouco humano" do Rei, que revela a sua verdadeira cara. E ele, sempre ameaçando jornalistas de coragem que dizem verdades a seu respeito, ou então, Pelé estranhamente foge do país na hora de dar obrigatórias explicações. Viaja. Numa boa vai passear alhures no exterior, para ver tudo cair no esquecimento especulativo, e assim ele poder voltar, de cara lavada, ainda fazendo mídia para remédio contra impotência, como já fez propaganda para vitaminas feitas com farinha de trigo e na ocasião tudo foi abafado, apesar de fartas denúncias nesse sentido.
Quando, aqui e ali, prum "Louro José" da vida (isso é, jornalista-escada pra levantar a sua bola dialética), aceita operacionalizar uma entrevista babaca de ocasião, parecendo maduro, casado com crente, sereno, dando lição de moral ou de oportuna falsa humildade, ele logo posa tranqüilamente de bom moço, mesmo nunca tendo feito nadica de nada em favor de sua raça negra (até a esconjurou); jamais batalhou pelos seus colegas de estrelato (e depois, ocasional anonimato), tendo até abandonado o popular Garrincha em decadência e outros craques de talento quando precisaram dele. Mais recentemente, a melhor filha que teve - de uma relação com uma ex-empregada doméstica negra (como ele poderia assumir isso, se gosta de falsas louras?) - contou o estilo operacional do comportamento dele com ela, fugindo da responsabilidade provada com reiterados exames de DNA. Assim, fazendo o jogo do bate-bola com o repórter marionete, indo ao ar, aqui e ali, uma entrevistazinha, o Atleta do Século se esconde atrás da fama, contra as graves acusações que pesam contra ele, além de processos em trâmite legal e mesmo denúncias de ex-sócios que foram lesados por ele e deram com a língua nos dentes. O homem Edson Arantes do Nascimento é um e o Rei Pelé é outro? Falso. Tudo corresponde a um ícone só. Que virou ídolo de barro, mas, por incrível que possa parecer, do Juca Kfouri ao Flávio Prado, ninguém quer mesmo ir a fundo na investigação, e, é bem possível que, após um levantamento geral da Polícia Federal, algum diretor do chamado Clube dos Treze, fazendo jogo de cena, ou algum sindicato de ocasião comprometido, em conjunto de interesses suspeitos tentem acionar deputados babaquaras neoliberais em Brasília, e tudo acabe indo pro baú do esquecimento, pois, afinal, tem um desembargador e um ministro de tribunal superior aí, campeões em arquivamento de processos contra pessoas importantes e personalidades de destaque de nossa sociedade encardida, com seu fundo falso e histórica caixa preta camuflada no Caixa Dois dos lucros impunes, riquezas injustas, como cantou São Lucas. Por isso cobro que a imprensa em geral, dê a atenção devida e ampla que o caso merece, o enfoque que o fato requer. Por que seria diferente com o Pelé? Não atacaram o Dida por causa do tal passaporte falso? Não reclamaram algumas eventuais suspeitas de maracutaias do Zico no Japão? Não atacaram o Dr. Sócrates quando ele teve uma separação litigiosa? Não colocaram o Campeão Marcos do Ex-Verdão sob suspeita de corpo mole em clássico? Por que perdoar o homem público Pelé então, um ìdolo de Barro? Isso é hipocrisia. Ou falta de ética jornalística na mídia esportiva. Quero esses programas tipos "mesa redonda" do Cartão Verde ao Terceiro Tempo, mostrando a verdadeira cara de um rei que não está com essa bola toda, principalmente fora do gramado.
Até porque, se dentro das quatro linhas ele foi genial, por outro lado, realmente seus negócios deram com os burros nágua, e ainda tem muito podre para vir a tona, quando, então, finalmente o mito cairá definitivamente por terra. E será um golaço da imprensa investigativa, denunciadora, imparcial. Para o bem de todos e a felicidade geral da Verdade propriamente dita.


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-Silas Corrêa Leite, Poeta, Educador,

Santa Itararé das Letras

E-mail:
poesilas@terra.com.br

Autor do Romance ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS no site

sábado, 22 de maio de 2010

A Poética de Jorge Elias Neto, Médico e Escritor


Rascunhos do Absurdo, Poemas de Jorge Elias Neto


Os Variados Corpos da Poesia Cor de Carne de Jorge Elias Neto
Rascunhos dos Absurdos da Dicotomia Vida/Morte e Seus Subterrâneos Letrais


“... A literatura é revanche de ordem mental
Contra o caos do mundo” Jorge Luis Borges



-Já recebi livro de aluno universitário, de professor, de jornalista, de profissional liberal, de publicitário e de livre pensador, até um que me assustou, no bom sentido, as páginas de rostos contristados de um juiz de direito, e até mesmo de um professor de medicina, ele mesmo médico e sonhador mexicano, mas, agora, recebi um livro de poemas de um médico cardiologista do Estado do Espírito Santo, o também poeta Dr Jorge Elias Neto. Será o impossível?

-Eu mesmo, poeta por acidente de percurso e exílio de existir, sempre sonhei ser médico. Sendo de origem humilde, pois não é que acabei poeta, trabalhando, por assim dizer, o bisturi da alma. Fiz tantos cursos, li feito um condenado à vida, até que achei, literalmente, um médico que, sim, trabalha o bisturi da alma, o bisturi da dicotomia vida/morte com a qual ele lida, escrevendo a poesia cor de carne; rascunhos de tantas vivências e subterrâneos desse rol de escreViver a vida por trás e por dentro da máscara de oxigênio, tirando a parte carbonária do ser sensível. Sobreviver é ser livro?

-O Poeta Gustavo Felicíssimo, pesquisador, ensaísta, já no prefácio muito bem articulado diz do Poeta Jorge Elias Neto: “Sua obra poética é marcadamente filosófica, metafísica e existencialista (...). Constrói seus poemas tateando o indizível, em busca da ciência de desinventar (...). Trabalhar a idéia da morte e entender a multiplicidade de atitudes do homem diante dessa locomotiva (a morte – grifo nosso). O homem passa a ser o criador de suas verdades e realidades(...) e se lança na investigação identitária de si mesmo e no descortinar do sentindo da vida (...).

-Jorge Elias Neto é isso: um médico que labuta entre o sangue e a luz, na sua poesia cor de carne põe a razão, porque o coração arrebata estados de ânimos e ele mergulha na ciência de palavrear o ritmo alucinante da vida que tem em mãos; que órbita como se um médico a coagular momentos irados, versos que saltam como vidas sendo paridas do seu lado pensador, sentidor, gravitando entre a própria alma nau e as acontecências do entorno. Em que submerge tentando salvar vidas, mesmo que expondo sua alma ferida, questionadora. Poeta é feito de escamas das quais tenta se livrar, criando... “Na perspectiva da ponte/O pássaro solitário nunca volta” (Solo, in pg. 21). Eis o poema em vôo de libertação/arrebentação(?). Mais:

-“Levem-me as horas
Para os caprichos mundanos!

Já destaquei a etiqueta.

Tomei posse do individuo.

Será que não vêem
No meu antebraço
O carimbo de pago”

(A Prazo, pg 63).

-O escritor que se fez médico sabe que não nascemos prontos. Vamos nos fazendo (refazendo) entre agulhas e clichês - em cada escolha, cada corte, cada parto, cada vida que erramos, cada espectro que enfrentamos; a foice da morte, o rebento da vida, a dicotomia paz/horror, amor/dor, sensibilidade e declínio. Seus poemas mostram o homem moderno condenado a pensar-se. Como poeta assume esse compromisso além da lente, do bisturi e da máscara de oxigênio, numa sensibilidade ilimitada e numa desconfortável sentição do que é a bruta vida errada, do sistema bruto que é a saúde corporativada, barateada, do que é significante e do que gratifica o ser no servir, sentir, além de bulas e receitas, de achar-se acima das aparências e satisfações pessoais. É líquido e químico: viver também dói. Sentir é um retirada de etiquetas das coisas abomináveis com os quais nos defrontamos. Não há pílulas de existir a seco, que nos façam passar em branco os desafios, enfrentações íntimas e nódoas do cardume delicado da existencialização. Jorge Elias Neto rascunha de próprio punho as temperaturas do que mapeia. O DNA da alma não tem enredo do que capitular na criação. A Poesia é exigência; o resto é palavrório” nos diz Pierre Bertaux, in Holderlin, ou “le temps d´un poéte.

-O autor poderia simplesmente recolher-se no seu canto e se aproveitar do cargo, da posição profissional. Mas prefere ainda assim campear rascunhos e dizer-se também gerador de palavras, do fogo das palavras. Tem carapaça mas tem um organismo sensível. O poeta-médico sonha um ninho em que as palavras contenham a morte. “O poeta é um verdadeiro ladrão do fogo", disse Rimbaud. Resistir é fogo.

“Herdei de meu pai/Esse Cristo forjado em miolo de pão” (Cristo de Pão) é um dos melhores poemas do livro (pg 79). A morte permeia a obra, mas não uma morte-fim, mas uma morte continuação de algum modo. Poetar é plantar sonhos entre arames e muros. “Deixarei para as ondas decidirem/Sobre a imortalidade/Do meu nome na areia. (Epitáfio Desejado, in, pg 89). Lidar com a morte é questionar a vida. E questionar a vida é uma espécie de rascunho de morrer de algum modo; feito a canção de Fátima Guedes que proseia e pontua a dor: “Flor-de-ir-embora/É flor que se alimenta/Do que a gente chora”.

-A poesia de Jorge Elias Neto é exatamente isso: flor-e-cultura-de sobreviver. O absurdo de. Muito mais do que rascunhos, são poemas à flor da pele, porque escrever é também uma forma de estar Vivo, muito além dos pólos do vale da sombra da morte para onde toda alma caminha. Mas o autor, sabe sim, com alumbrada visão, transformar sapatos em borboletas...

-Os parênteses de sua existência/resistência doem em nós pelos seus versos que celembram além das lágrimas, as areias do tempo na soleira das idéias. Seu escrever é um testamento moral da sensibilidade guardiã de todas as esperanças. A dor existe, e estamos cercados dela. Mas ainda assim há aroma nos aluviões do seu poetar.

-Bendito seja o poeta que sabe o corte e sabe o ungüento da palavra para sempre, e de novo, e outra vez, e de levantar-se, argüir, continuar, pelos que se foram, pelos que se perderam no caminho, pelos que partiram antes de nós. Escrever pegadas. A crueza das letras respira vida, apesar de todas as perdas. Rascunhos Poéticos do Absurdo é isso. Um livro e tanto. Uma obra respirando a vida no seu fulgor. O universo de Deus deixa poemas suspensos no ar. Escrevê-lo é de quem enxerga além da vida, o píer do barqueiro e sua leva de estrelamentos. Paradas cardíacas não são fins em si mesmos? Escrever poemas clarifica os santos suspensos nas tábuas de esperanças sentidas, frutos de ocupações. De médico e poeta o Jorge Elias Neto tem a iluminura enlivrada.

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Silas Correa Leite – Santa Itararé das Letras/Augusta Sampa

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Romance Terra Vermelha de Domingos Pellegrini




Pequena Resenha Crítica

O ESTUPENDO ROMANCE “TERRA VERMELHA” DE DOMINGOS PELLEGRINI

A história é infinita. Podemos interceptá-la em
qualquer ponto(...) Era uma vez uma cidade onde
os habitantes sabiam tanto do sofrimento humano
que quando acordavam deitavam-se logo.
Ana Hatherly, in "351 Tisanas

De vez em quando recebo livros para formatar, corrigir, fazer prefácios, orelhas, quando não, para fazer resenhas críticas dentro da medida do possível. E me chegam obras até do exterior, como Portugal e México. Como adoro ler e escrever, e sempre leio vários livros ao mesmo tempo, é sempre um prazer esse oficio que me toma o pouco tempo que tenho entre trabalhar, estudar, pesquisar, sobreviver entre Itararé e Sampa. Ainda assim, compro sempre bons livros, entre os famosos e clássicos, naturalmente que os chamados top de linha não, os mais vendidos deixo para depois, tendo um certo distanciamento deles, até passar um certo tempo e, raras vezes tenho alguma surpresa ao tentar lê-los, como tive com o belo A Menina Que Roubava Livros. Além disso, claro, tropeço num aqui e ali, de daí me vem a surpresa.

Foi o que me aconteceu ao topar com o livro de 470 páginas, o romance Terra Vermelha do Domingos Pellegrini, Geração Editorial, edição 2009. Um dos melhores romances que li de autor brasileiro em língua portuguesa nos últimos anos. Entrei no romance para vadiar, por assim dizer, passando o tempo no surpreso desfrute, quando me dei conta, estava cativado, seduzido, entregue à leitura, e só larguei o clássico de literatura contemporânea quando caí em mim e a obra estava acabando em gran finale de obra-prima. E saí da leitura com terra vermelha nas mãos, nos olhos e no coração.

Do autor é bom que se diga, há muito na net, critica otimizada pelo excelente trabalho e currículo dele. De Londrina – terra vermelha – Paraná, surgiu para a literatura em 1970, já nos meios universitários entre tantos que combatiam a funesta ditadura militar, ao lado de Luiz Fernando Emediato, Caio Fernando Abreu, Jéferson Ribeiro de Andrade, entre outros, e firmou-se como o melhor da geração dele. O autor, premiado com O Homem Vermelho (Jabuti 1977), voltou a ganhar o prêmio em 2001 com O Caso da Chácara Cão.

Já no Prefácio o literato de peso Affonso Romano de Sant Anna muito bem sinaliza: “(...)A história mantém um dialogo com a historia. A peripécia ficcional de José e Tiana se mistura com a do cotidiano do Brasil neste século. Vem das primeiras décadas, da subida de Getulio Vargas, do revolucionarismo de Prestes, das querelas entre a esquerda e a direita, passa por Juscelino, por 1964 e faz menção até ao 10 de Novembro de 1989, quando caiu o muro de Berlim. O autor ficcionaliza a realidade e constrói um romance que pode também ser chamado de “roman à clef”, uma narrativa onde se tem a chave para se identificar os personagens com tipos que realmente existiram na colonização de Londrina(...). Pellegrini está recriando a “terra vermelha” do Paraná, o “eldorado” para onde foram colonizadores das mais variadas etnias e nacionalidades(...). Em obras anteriores, muitas delas traduzidas para outras línguas, Domingos Pellegrini mostrava um estilo pessoal de tratar dramas e perplexidades de adultos e adolescentes, agora une o cotidiano à História, a memória à ficção e nos dá um painel rico de informação sobre uma das mais ricas e complexas regiões do Brasil (...)”

Fundado na história de José e Tiana, entre tantos josés e manés da população miscigenada, migrantes que como tantos outros foram para o norte do Paraná em busca de leite e mel, os pioneiros desbravadores que colonizaram a região de terra vermelha aqui enlaçam a historia entre tantos outros tipos comuns, estrangeiros, fugitivos, aproveitadores, sonhadores, todos atravessando o rio Tibagi e vivenciando a saga de formarem um núcleo populacional a partir de um aldeamento, enfrentando geada e intempéries da natureza, derrubando a mata, erguendo casa de tabuinhas, abrindo poços, e assim inicia-se o romance que em narrativa gostosa conta a historia do casal que sai de Capivari a Rafard, região sudeste, para a região sulina, em busca de oportunidades e, metendo os pés e as mãos (e a cabeça e o coração) no sagrado coração da terra, fundam, esse Paraná altaneiro de hoje, celeiro do Brasil, não só de grãos mas também de arte e cultura de primeiríssima qualidade, como o próprio autor, aliás. E entre o escopo da brilhante criação em alto estilo, fatos da historia do Brasil interligados, da produção do café à estrada de ferro com infra-estrutura dos ingleses, de uma passeata de putas a Claude Levi-Strauss, de pés-vermelhos a imigrantes de todas as origens, ideologias, cores e religiões, de João Saldanha (então João Sem Medo) à guerrilha de Porecatu, décadas ilustres sendo retratadas, valores morais, acertos e contendas, a floresta como uma hiléia verde, códigos de condutas, a sobrevivência possível, uma obra fora de série com uma bela visão do mundo local e mesmo regional, ainda a dicotomia destruição/preocupação ambiental; literatura épica, um dos melhores livros escritos nos últimos tempos, lançado em 2009 e que não fez todo o alarde que merece, apesar de até resenhado no jornal O Globo pelo melhor critico do Brasil, Wilson Martins.

A história de amor e luta de José (descendente de italianos) e Tiana (descendente de negros), mais fracassados e fugitivos, gente de todo mundo, explorado e exploradores, os latifúndios, os sem terra, as novas oportunidades, as precárias condições, crimes, doenças, tudo retratado numa saga que, sim, certamente daria um belo filme, uma bela minissérie, tal a maneira com o que o autor bota o coração no que conta de seu tempo, de seu povo, de seu lugar de origem-raiz. A dicotomia sofrimento, conquista.

E a ótica narrativa, numa dicotomia também, um velho, o Nono morrendo num hospital, e sua saga sendo contada desde o nascimento, entrecortada de poesia, esperança, luta, ele mesmo ali lutando contra a morte, seus descendentes humagente brigando entre si, inclusive pelos pertences, e o livro flui, encanta, abre páginas de sangue, suor e lágrimas. A verdadeira historia do Brasil ali, o macro espaço num micro espaço, a história que é remorso, que é amor e dor, mas que também exige determinação, bravura, porque é da luta que nasce o verdadeiro caráter do homem. Então o herói José se revela, um José que poderia ser qualquer um, mas que o autor define como um belo personagem, junto com a mulher Sebastiana, e assim somos todos belamente envolvidos, entramos de espírito historial-letral nessa terra vermelha que, depois de lida a obra, um clássico, as contendas entrelaçadas, o romance, tudo fica conosco em palavras, acontecências, esperanças, conquistas, e, claro, a terra cor de sangue, cor de nós, dos filhos deste solo, como também cor da aurora, a terra vermelha do Paraná.
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Silas Correa Leite - Santa Itararé das Artes/Augusta Sampa
Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Conselheiro em Direitos Humanos
Pós-graduado em Literatura na Comunicação (ECA/USP) – Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor - E-mail:
poesilas@terra.com.br
Blogue premiado do UOL: www.portas-lapsos.zip.net
Autor de Portas-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos, a venda no site: www.livraricultura.com.br



quarta-feira, 19 de maio de 2010

ROMANCE DEUS DE CAIM de Ricardo Guilherme Dicke




Pequena Resenha Crítica


Livro ‘DEUS DE CAIM” - Estágios Escuros de Vivências Romanceadas com Estilo e Furor
Ricardo Guilherme Dicke, Prêmio Walmap, Magnífica Literatura Arrojada em seu Esplendor Literário


As batalhas nunca se ganham. Nem
sequer são travadas. O campo de
batalha só revela ao homem a sua
própria loucura e desespero, e a vitória
não é mais do que uma ilusão de
filósofos e loucos.

Wiliam Faulkner, O Som e a Fúria



O cavernoso romance (novel?...) “DEUS DE CAIM” do surpreendentemente estupendo escritor Ricardo Guilherme Dicke, agora muito apropriadamente relançado em alto nível pela LetraSelvagem, na coleção Gente Pobre, sob a organização do escritor-editor Nicodemos Sena, bem faukneriano e contemporâneo ainda, destila verbos, venenos, e inventaria brumas da relação ser/sociedade, vida/morte, amor/dor, fantasia/frustração, carne/espírito, dilemas/sentido e percepção, moendas (interiores)/engenhos (de almas atribuladas), tormentas pertinentes/insanidades comportamentais arrazoadas, Deus e o diabo no húmus entre Pasmoso e a profunda cauda narrativa que flui com densa liquidez expressionista/existencialista, e os cárceres das tentativas. A prosa do espaço, a dialética do exterior e do interior “as geografias solenes dos limites humanos”(Paul Éluard) e a porção carbono-C rusoé de cada ser. E Nelly Novaes Coelho (crítica literária, USP) já no início do livro ricamente editado já muito bem levanta panos e tintas:
“O homem interrogante; aquele que sonda o vazio existencial (...); em Dicke predomina a sondagem dos escuros do homem (...); Deus de Caim escava fundo um dos interditos que alicerça a civilização cristã ocidental (...); tempo de caos; romance labiríntico (...)”.
Toda arte de alto nível é cheia de pontos de interrogações como se propositalmente desinterligados. A arte de escrever nos leva a afirmação da vida em nós. Lágrimas não ficam para sementes, senão na arte? É melhor ser triste do que arrogante. Quatrocentas páginas de puro deleite que, explorando o fluxo narrativo (em júbilo?) do autor, vai de casa a casa, de ambientes a embustes, de fachadas a desfrutes, do historial ao fabuloso, entre o espanhol ao francês, nacos de poesia propositalmente semeadas, levantando lebres, apontando sítios letrais e escavando horrores quase que impossíveis de serem silenciados. Escrever é teatro de ocupação?
Artista plástico e filósofo, de pai alemão, Ricardo Guilherme Dicke pintou sua literatura de tintas brilhantes, novíssimas para a época em que foi inventada, um épico com cargas humanas, demasiado humana, como diz, fragmento de ensaio a respeito do livro (Ronaldo Cagiano):
“Nos 21 capítulos da obra a história da família Amarante vai se desdobrando numa colcha de retalhos de situações conflituosas e metaforizam a própria historia do Brasil (...)” (In, Carlos Herculano Lopes, Caderno Pensar, Estado de Minas, 06/02/10).
Aliás, Hilda Hist o considerava “um gigante”. Caim, Abel, Lázaro; personagens desbiblificados entre sombreados com querelas, acontecências, traições, taras; a vida nua e crua revelando sinais de pânicos e disfarçando conflitos, neuras. A par disso, bem pintados, filosofados, livros bons acabam joias preciosas. O medo nos delimita? Existe mais insanidade do que sensatez na vida, nas cargas dos ombros dos homens, no mundo. Somos todos espécies transfiguradas de paisagens com passagens de agonias, sonhadores ao extremo, não moscas-de-frutas. O Deus de Caim soma tantos pontos de interrogações até sobre palavras não ditas; dadas a entender.
“Romance capaz de abalar a nossa ficção” - (Guimarães Rosa). O âmago das crueldades destrinchadas em núcleos cênicos e traços existenciais carregados de ferramentas de crueldade e características psicológicas. Os arquétipos da fantasia e de uma loucura surda, enviesada, tudo em DEUS DE CAIM, a partir do mote de um irmão atentando contra o outro. A realidade é mais embaixo.
A consciência, a inconsciência, o que afinal resta dos refinamentos de uma ótima ótica para ver/sentir/; escrever com domínio da pena. Dicke naturalmente arrasa quarteirões, expõe as vísceras de momentos retratados, mas, ainda assim, com a ótica apurada de um pintor, desqualifica e expressa o horror (de viver?); teatro de ocupação reinando o tempo todo, num vareio de linguagem. Você só acredita porque está lendo. Como é que pode? No mundo da fantasia os monstros engordam parágrafos; na verdade, sangue/suor da dura e inominável vida real. Real?
Contundente, impoluto, altamente criativo, perspicaz, denso, e ao mesmo tempo de uma fineza extraordinária. É difícil ler Dicke e ficar indiferente. Não há neutralidade na sua leção. A atônita realidade captada em parágrafos que vão embora... Realidades sentenciadas com estilo e alto pendor estético, num talento literário surpreendente, agora reconhecido. Quem sairá do labirinto do livro sem se impressionar com as virtudes?
A história fala de nós, segundo Horácio, em sua sabedoria latina. Às vezes temos demônios e anjos à flor da pele. Nas dissonâncias há mais pureza do que no estojo linear das ideias. A arte de buscar o incompreensível nos leva à afirmação da vida. É o paradoxo de sobreviver além da sentição, e campear o lado pensador do humanus. A meditação não é escrachante quando aponta o humano vagando em suas erranças existenciais e sublógicas. Pode isso?
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“(...) Lembremos que toda pessoa tem o direito à vida, não é? Mas de onde lhe advém esse direito? Da Bíblia. E tirá-la, é claro, equivale a tirar um direito fundamental que constitui, desde o tempo de Moisés, violação à lei (...). O problema é este – chegar-se a um plano utópico em que não haja necessidade de leis e necessariamente todos os preconceitos se tornarão cinza inútil, relegada aos museus da morte e das coisas extintas. Imagine o que é não existir nem poeira desses preconceitos de agora que tanto nos martirizam, imagine uma cidade futura e ideal, em que todas as aspirações e inibições que jazem em nós sufocados, reprimidos e inexprimidos, aliadas à técnica elevada à perfeição, o que não seria! Por enquanto só algo mui longínquo disto se delineia em algumas obras de artes. Aliás, toda obra de arte é utópica” (Pg 135).
Você lê se palpitando no entressombreado do livro Deus de Caim e as cinzas aqui e ali soturnas das horas, relações e desmontes de significâncias, e reserva para a sua surpresa seduzida, um lugar para uma nova releitura ainda mais significante a seguir, e quiçá compreenda melhor, inteiro, se isso for possível, como a obra que vale o peso, a fama, a própria paixão de ler e de escrever. Obra única, feito um Cem Anos de Solidão, O Perfume, Baudolino, Invenção de Onira, A Espera do Nunca Mais, Vidas Secas, Grandes Sertões: Veredas. A narração é a redenção?
“Lidando com uma simbologia a que ele dá um sopro vital, fora do comum, Dicke não deixa coisa alguma de fora (...). O homem de fora está cercado de outra mundologia, as realidades violentas e subversivas da narração de Dicke envolvem com rapidez. Sexo e morte são evidentes (...). (Antonio Olinto, da Academia Brasileira de Letras). O ser humano precisa sentir sua exata sensação de estar e ser no mundo. Dicke tira pertencimentos das trompas da cólera, do desamor, da vida fugaz em sua saciadade de aproximação com estados calamitosos. Nada é impossível para ele. Desde Caim e Abel, a história nos fez acorrentados a culpas e sentimentos de medo e opressão.
A irrazão humana. A emoção humana tão desnaturada. Surpreende-nos Dicke em cada parágrafo, mesmo quando a narração ou enfoque vara páginas de limbos. A invisível esquizofrenia costumizada da apática sociedade decadente e falsificada para consumo. O biscoito da vida não é da sorte, não é de vida plena. Lágrimas não são guloseimas. Sentir dói. Em que lugar ficamos livres de tantos nós, senão nas asas da literatura? Bruce Hood dizia: “Nascemos com o cérebro desenhado para encontrar sentido no mundo. Esse desenho às vezes nos leva a acreditar em coisas que vão além de qualquer explicação natural.”
Uma obra clássica como Deus de Caim não se explica, mas se justifica pela excelência do autor. Em esmerada edição agora pela LetraSelvagem, Ricardo Guilherme Dicke é resgatado no auge do que a sua historicidade criativa congrega e vem-nos assim reeditado em sua maior obra-prima. Os porões da alma clarificados. Os subterrâneos da vida distinguidos com sua pena distinta, singular. Os sótãos de cabeças e sentenças nominados. É incrível a “lógica” funcional do escritor extremamente crítico, irônico, criativo e, claro, agora mais do que nunca, cult.
Literatura pura, de primeiríssima qualidade. Não há babel, bezerro de ouro ou cepo de Abrahão que esconda o sortilégio e o trágico fruto de Caim que vem enlutando a história da humanidade desde os primórdios. Escrever é pagar um preço? Escrever não é apenas cutucar onça com vara curta, é soltar todos os bichos. E Dicke faz isso muitíssimo bem, assustadoramente muito bem, liberta os seus (os nossos?), abre as comportas de seus próprios diques criativos interiores. Ah os escuros recônditos das almas embrutecidas com a fúria de ter que comparar, sobreviver, parecer que é o que não é.
E o Deus de Caim - que paira sobre todos nós – acode para uma leitura a altura, exige atenção pontuada, ao mesmo tempo olhar de remanso, para deguste e assim se poder sacar o esconderijo das ideias que ventila, ramifica, aponta e crava com o crivo de uma criação única. E quem sai ganhando é o leitor que se envolve dele, surpreso com a qualidade que custa assentar. Não é fácil. A vergonha, o incesto, a mentira, a dissimulação, o que pode parecer bizarro ou sexista. Quer mais humano do que tudo isso?
O estado decrépito do ser enclausurado em suas mesmices, masmorras e memórias cênicas, filosofando sobre conjecturas ou o que poderia ser e não foi, muito além das fronteiras das almas e seus estágios vivenciais estarrecedores. Ou seja, a humanagente no seu viveiro de contrastes. Vejamos a pintura literária:
“(Considerações, entretexto) O vermelho é a paixão e a força telúrica do Sol Matrogrossense, o azul são as paixões da noite e o negro a melancolia do sangue remotamente flamengo. O amarelo é a ânsia, o ouro, o desejo e as outras coisas nunca alcançadas. As formas que lembram labirintos e meandros ora são vegetações, ora caminhos, ora nervos em expansão, ora o ideal de um laboratório em que busco as equações de um mistério, de um nepentes ou de um descobrimento perfeito. Quero que quem os veja sinta uma contração pulsar e repulsar. E ao mesmo tempo, indague o que é o mundo – com múltiplos e infinitos signos estranhos – o que é o mundo, estas linhas, estas cores, esta massa, este movimento, este ser. Rilke disse que uma obra de arte é de uma solidão infinita. Quero pois que quanto mais solitário melhor. Cada qual encontre um pouco de seu eco que se perd e. É a natureza que recrio – e se fosse Deus – assim a recriaria – e é a relembrança dos países que não fui, no tempo das harmonias. É minha alma e a sua capacidade de entender alguma coisa que em mim não se perde para sempre, como as outras coisas que se perdem para jamais. É a poesia que não fui. As cores que eu amo e minha intenção de buscar entender o efêmero (...)”. Pg 251.
A extravagante literatura caudalosa (e por isso mesmo ocasionada de parágrafos em narrativas angustiantes) de Dicke; uma pintura extravagante de situações sociais em ermos e fugas, estados espúrios, de decomposições da efêmera vida social e sócio-familiar, quase árido, ou, como diz João Ximenes Braga (In, Dicke: o vôo da eternidade): “Dicke realiza uma estranha alquimia de política com metafísica na temática, e de realismo social como barroco no estilo (...) E ainda há intervenções de personagens místicos que o aproximam do realismo mágico (...)”. Pois Deus de Caim é uma soma disso tudo, e surpreende nos entremeios, na narrativa, nos belíssimos enfoques que o autor destaca e desenvolve com a paleta da escrita que mistura tintas de situações e aparências entre cores de convergências sociais apontando embustes; tirando etiquetas do armário, uma espécie as sim de romance-ensaio se reportando a conflitos, traumas e sequelas da natureza humana em decadência.
Um dos maiores romances escritos no Brasil, e mesmo tendo sido inicialmente lançado e premiado há cerca de quarenta anos atrás (Prêmio Walmap 1967), permanece muito atual, como toda obra de arte que se supera superando o tempo real, indo além de sua época como consagração de vanguarda e reconhecimento de talento e estilo próprio. Ricardo Guilherme Dicke, assim, escreveu um épico num estilo raro, único, onde concilia fluência e domínio absoluto da linguagem e da criação em seu esplendor, a verdadeira arte romancesca. Bravo!
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Silas Correa Leite
E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net

domingo, 16 de maio de 2010

A ESPERA DO NUNCA MAIS, Romance de Nicodemos Sena

Mais que um Romance: A ESPERA DO NUNCA MAIS de Nicodemos Sena
Nelson Hoffman

Segundo o crítico gaúcho, a leitura de "A espera do nunca mais" é um mergulho até as raízes da gente brasileira e navega pelos meandros da vida nacional até os dias que vivemos. "Poucas obras vão tão longe, abrangem tanto, são tão completas. E tão romanescas e verdadeiras." (Resenha publicada no jornal "Poiésis", nº 103, outubro/2004, Petrópolis e Rio de Janeiro)
Li, certa vez, em Otto Maria Carpeaux, uma afirmação de Thomas Mann: Hoje em dia, um romance precisa ser mais que um romance. Em sequência, vinha a explicação do próprio Carpeaux: O romance do século XX tem de ser, ao mesmo tempo, romance, ensaio, tratado científico, também obra de história e reportagem.

Pois esta foi a lembrança que me veio, há pouco, quando li A espera do nunca mais, de Nicodemos Sena.

Quem me apresentou Nicodemos Sena foi o poeta Aricy Curvello. Um dia, mandou-me este uma cópia do texto “O mar de nomes de Aricy Curvello”, de autoria de Nicodemos Sena e saído no jornal “O Estado do Tapajós”. Nele era eu citado e o nome do autor não me era estranho: trazia-me ressonâncias que eu não identificava. Não sabia de onde, perguntei. E o Aricy Curvello apresentou-nos.

Soube, então, que Nicodemos Sena nasceu em Santarém, Pará, na Amazônia brasileira. Grande leitor desde pequeno, foi estudar em São Paulo. Formou-se em Jornalismo pela Pontíficia Universidade Católica (PUC) e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Residiu em São José dos Campos, SP, foi diretor de redação do jornal “A Província do Pará” e, hoje, vive em Caraguatatuba, no litoral paulista. É romancista, ensaísta, jornalista. Seu primeiro romance, A espera do nunca mais, de 1999, recebeu o Prêmio Lima Barreto/Brasil 500 Anos, outorgado pela União Brasileira e Escritores (UBE/RJ). Outro romance seu, A noite é dos pássaros, está pronto e em vias de lançamento. Colabora em jornais e revistas e, às quintas-feiras, assina coluna em “O Estado do Tapajós”.

Em nossa troca de informações e livros, do Nicodemos Sena e eu, aos poucos fui descobrindo que eu já tinha lido muito sobre ele, embora não lhe conhecesse a obra. Isto é, não lhe conhecia o único romance, esse A espera do nunca mais. Eu lera aplausos da crítica, vira até reproduções da capa, mas não conseguira o livro. Muito menos, lera. Daí, os ecos da memória.

Quando recebi o meu exemplar de A espera do nunca mais – Uma Saga Amazônica, autografado pelo autor, quedei-me embasbacado. Pesei, sopesei o volume, folheei. Voltei-me para as prateleiras de meus livros e fiquei a considerar A pedra do reino, de Ariano Suassuna. Logo, passei-me para Os tambores de São Luís, de Josué Montello, e vislumbrei Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado. Havia o Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. Alcancei o Érico Veríssimo, com o seu Incidente em Antares e descortinei o Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Até Plínio Salgado chegou-me aos olhos com o Vida de Jesus. Mas nenhum se equiparava, em volume, ao A espera do nunca mais. De jeito nenhum!

Parecia-me um absurdo, isso. Hoje, em tempos de tanta pressa e tão pouco tempo, surgia-me um autor com um calhamaço desses?! Inacreditável! Pra ser exato, 876 páginas, nesta segunda edição. Quem leria?

Eu li. E vou dizendo logo: foi uma das melhores coisas que eu li, nesses últimos anos. Há muitos anos, neste e deste Brasil. Com gosto e prazer, eu li. Do começo ao fim, da primeira à ultima linha. Mergulhado. E valeu a pena. Emergi com o sentimento gostoso da mais pura satisfação: eu tinha lido um grande romance.

A espera do nunca mais divide-se em três partes, cada parte beirando as trezentas páginas. O todo alcança quase cem capítulos. Tudo isso espanta e amedronta o leitor menos avisado. Mas, pode-se garantir, uma vez iniciada a leitura, não se para mais. A leitura é um mergulho, eu já disse, e vai às raízes da gente brasileira, navega pelos meandros da vida nacional e está à tona em nossos dias que vivemos. Poucas obras vão tão longe, abrangem tanto, são tão completas. E tão romanescas e tão verdadeiras.

Basicamente, o cenário é a Amazônia e a história acontece dos anos 50 aos anos 70 do século XX. Mas aí não se fixa. Avança, recua, desvia, penetra, divaga, reflete, espairece, imagina, reflexiona, demonstra, narra e traça um painel completo da Amazônia, desde seus primórdios até a atualidade e sua agonia. Não é um romance histórico, mas a História está presente; não é um romance geográfico, mas a Geografia está presente; não é um romance folclórico, mas o Folclore está presente; não é um romance mítico, mas o Mito está presente; não é um romance religioso, mas a Religião está presente; não é um romance psicológico, mas a Psicologia está presente; não é um romance sociológico, mas a Sociologia está presente; não é um romance político, mas a Política está presente; não é um romance econômico, mas a Economia está presente; não é um romance ideológico, mas a Ideologia está presente.

Sonho, fantasia e realidade perpassam a história de ponta a ponta. Os personagens são humanos e fortes, a gente acompanha as peripécias de cada um e quer ver o desfecho. Gedeão, Julião e Dora são emblemáticos, junto com Estefano, o protótipo do conquistador branco. Destacam-se estes, sem diminuir os outros, que são muitos. Estes, porém, conduzem o fio da narrativa, sempre tenso, até o desenlace. Cabe à Dora, em final traumático, manter a chama acesa e assegurar que o sonho continua: Ela faria diferente; daria aos tapuios algo que ninguém ia poder tomar. Ensinaria as crianças tapuias a lerem e escreverem, (...), plantando, assim, na mente das crianças, a semente dos sonhos, para que elas, ao crescerem, não ficassem como seus pais: À ESPERA DO NUNCA MAIS.

Este final lembrou-me o final de outro livro famoso, o Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Com um detalhe, uma gratificação mais forte: a seta apontando o caminho. Utopia?Isso depende de nós.

As veredas do romance de Nicodemos Sena são muitas. Justamente por isso, por serem quase infindas as veredas, é que me surgiu com tanta insistência a lembrança da afirmação de Thomas Mann: Hoje em dia, um romance precisa ser mais que um romance.

O romance de Nicodemos Sena é bem mais que um romance: é a própria Amazônia. E é o Brasil e é o Mundo.


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*NELSON HOFFMANN é professor, escritor e crítico gaúcho; autor, entre outros, de Onde está Maria?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

As Fichas Sujas e a Tucanalha Blindada Pela Midia Amoral




Fichas Limpas, Fichas Sujas, e a Impunidades Por Atacado da Tucanalha

De vez em quando algum suspeito nicho midiático redescobre a pólvora, por assim dizer, ou algum antro de escorpiões inventa de inventar o inexistente, com propósitos sempre suspeitos, de ocasião que seja, a rapsódia babaquara cai no olho nefasto do furacão midiático e, vá saber, todo mundo repete sem sacar o exato sentido por trás, o que rola de fato nos bastidores, qual o escuso interesse espúrio, quando se vê, estamos batendo palmas pra nada ou assinando embaixo do que nem sequer sabemos direito o que é exatamente. Já pensou?. Acontece.

Pra começar, conheço muita gente finíssima e de alto gabarito mesmo, que tem ficha suja. Só que é de tanto atacar corruptos e ladrões, de tanto discordar com atos e dialéticas – a nossa justiça incompetente (tendenciosa e parcial) corrupta, que tarda e falha – e essa gente fichada tem orgulho mesmo de dizer que tem a ficha suja, bater contra os rochedos, remar contar a maré, destoar da manada. Eu mesmo, já tive ficha na policia, e certamente sempre fui e sou mais honesto do que policial, delegado, promotor, militar, empresário, profissional liberal....

Falando sério meus concidadãos: ACM morreu com ficha limpa. Já pensou? Pois é. Maluf, eternamente inocente e loquaz para enganar a gregos e baianos, já foi pego em passant até na Inglaterra e França, aqui, no Brasil S/A d.C. (Depois de Collor), vive sendo muito bem defendido, e gostosamente impune, bancado livre e impune por estranhos juristas literalmente saindo pelo ladrão, juizes, ex-juizes, desembargadores, ex-desembargadores, todos regiamente pagos e sem o mínimo de qualquer quarentena ética. Vá sacando quem é quem e o que é o quê. Quando você ainda vê o Maluf na propaganda eleitoral, você nessa década nunca pensou a respeito, votou nele, como no Collor, FHC et caterva? Pois é.

O ególatra do FHC por exemplo, só para citar um elemento bisonho, que nunca trabalhou e se aposentou muito cedo, com o funesto plano real trocou nossa grana pau a pau pelo dólar, para depois não valer nadica de nada, e, além de ter inventado o mensalão; ter dado alta grana pública a fundo perdido pros banqueiros amorais (PROER); ter propiciado as privatarias da privatizações-roubos (principalmente em Sampa que depois virou Samparaguai), tem uma ficha limpinha da silva, esse mesmo, o poliglota que o José Simão da Folha chama de FHNstão e eu tacho de o Pai da Fome, pelos quase dez milhões de desempregos que gerou com o “sucesso” do plano que deu no que deu. Vá sacando. Nem tudo que é legal é moral?

Ah, sei, no Brasil, a justiça é só para quatro pês agora: Pretos, Pobres, Prostitutas e Petistas. Para os demais é um hipócrita “Salve Geral” por atacado, imunidade parlamentar, a mídia corrupta blindando e uma justiça paulista-paulistana que tem uma relação promiscua com a tucanalha, pois, em todos os estados os promotores competentes e transparentes agem com firmeza, determinados, objetivos, doa a quem doer, aqui em Sampa – da força que ergue e destrói coisas belas – os promotores de araque se filiam à quadrilha, quero dizer, se filiam ao PSDB decrépito e não investigam nada do meio. São Paulo cada vez melhor? Só na propaganda enganosa do Serra, o pior governador que SP já teve. Aqui, professor ganha trinta por cento a menos do que no Piauí, e o PCC deita e rola nos presídios, para não dizer da corrupção no Metro, da ASLOM, do CDHU, do Denarc, do Detran, e ainda na alta grana federal desviada do Rodo-Anel, que o mesmo jornalista e crítico Zé Simão da Folha de São Paulo chama de Roubo-Anel e tal do jornalismo investigativo não faz nada, tudo é glosa, fica por isso mesmo. Ah, todos os envolvidos têm fichas limpas... Você certamente votou em alguns deles em algum tempo por algum motivo. Ou não?

Pior. Quer saber? O Pinóquio de Chuchu abortou mais de 70 CPIs na Assembléia Legislativa em SP – o mensalão paulista? – e tem sim sor, ficha limpa. São Paulo é o estado tucano-neoliberal do DEMO mais corrupto do Brasil. Como é que pode? E as privatizações que ele gerenciou, cadê a alta grana que deveria ser faturada? E o quantum da venda referente ao valor que valiam as empresas estatais perdidas a preço de banana com moedas podres? Pois é, ninguém sabe, ninguém viu. Cadê a ficha suja do incompetente Rei dos Pedágios mais caros do que nos Estados Unidos? Você votou nele, foi enganado, e quer falar de ficha limpa agora? Ele foi preso? Acredite se quiser.

Falando sério: conheço gente legal, honesta, cidadãos do mais alto nível, éticos, exercendo a cidadania, que são fichados e respondem a processos intimidatórios ou de ocasião, apenas, porque colocam os dedos em feridas que a mídia alega não vê, em beneficio próprio. E conheço tanta gente podre e suja de direita e bem garbosa que tem ficha limpinha da silva, a justiça em um preço, poses e status quo enganam, as aparências elegem arigós e coiós. Você votou em quem mesmo? Sacou o lance ou quer um mapinha com imagens, índices, estatísticas, desenhos, prismas, informações não oficiais? Assim, caras pálidas, numa inversão de valores mesmo. Não caia nessa. Numa listagem dos podres poderes, dados exatos, os que mais têm ficha suja mas nunca acabaram em nada, são do PSDB e do DEMO que foi PFL, foi ARENA, foi marionete dos militares incompetentes, corruptos, violentos e senis, etc. Já pensou que caterva? Eu por mim, conhecendo a historicidade de cada político, o que fez de contra ou a favor, o que aprontou não apenas porque diz a mídia – a mesma que elegeu Collor, protegeu Maluf e protege os corruptos do PSDB em Sampa – prefiro ver pra crer. E não leio – como não acredito em - mídia suja, marrom, como a rastaquara Veja, a boba Folha, o manjado Estadão, a amoral Rede Globo. Sou do lado bom da força. Leio Fórum, Caros Amigos, Revista Imprensa, por aí... Você foi contra quem antes? Foi contra quem depois? É contra quem agora? Só agora? Periga ver... você antes era omisso, conivente, eleitor corruptor, insensível ou virou oposição de ocasião feito embuste, aceitando o open-doping da mídia reacionária, feito um eleitor mané ou falso pensador à quem fizeram a cabeça...?

Cada um acredita no que acredita, claro. Muitos são chamados e poucos escolhidos. Cada um crê de acordo com seu índice de politização. Pensar acima da média pode. Aliás, falando sério, se toda a vida pregressa do eleito fosse passado a limpo, talvez TODOS fossem cem por cento de ficha suja na vida pregressa. O povo que elegeu? Cada povo tem o governo que merece? No mais, a impunidade da tucanalha, principalmente, considerando que eles ainda arrotam uma oposição pífia e rastaquara, a falácia de ficha limpa/ficha suja é para inglês ver, mote da oposição de corruptos e ladrões, a pior oposição da história da república. Você caiu nessa? Você vai votar em quem? E São Paulo Cada vez Pior! As empresas estão indo embora de SP. O Estado mais corrupto e caro do Brasil. São Paulo é um lugar seguro? Claro, pergunte aos bandidos, ao narcotráfico, aos contrabandistas, ao neoescravismo da terceirização... ou seja, Sampa é um Paraguai bem pior do que o Paraguai, com impunidade por atacado, os maiores corruptos e ladrões estão aqui, as piores máfias e quadrilhas, inclusive do capitalhordismo americanalhado. Só não vê quem não se enxerga. Os podres dos tucanos-do-DEMO não saem na grande mídia. Você reparou, sacou isso? Você sabia disso ou você só acredita naqueles que fazem a sua cabeça porque você é alvo fácil? Tucano não voa, não nada, não canta, não governa. Mas faz uma propaganda enganosa federal que é uma beleza. Você vendo o falso horário eleitoral se sente em Genebra, na Suíça. A vida real é só pra quem saca o óbvio ululante. O Juiz Lalau está livre em casa. Quércia, Fleury, Kassab, Pitta, você viu falar neles? Todos têm a ficha limpa. Suspeito? Mais do que isso. Você acredita em santos, papai noel, mula sem cabeça, OVNI? Eu só acredito naquilo que sei, não naquilo que sorrateiramente ou em mensagens subliminares querem me fazer acreditar. PSDB e seus antros podres?. Vampiro Serra, Pinóquio de Chuchu? Vade retro!

Ficha suja “nelles”!

PS:

Aprovado o Projeto Ficha Limpa, sancionado pelo presidente Lula, quem você acha que vai ficar “limpinho” com a ficha suja, e sujo com a “ficha limpa” senão os mesmos de sempre, os privilegiados da pequeno-burguesa, os ricos, estrangeiros, empresários, poderosos, enquanto a justiça é só para os quatros pês? Pois é. O Projeto Ficha Limpa não vai mudar nada. A impunidade por atacado viça e isso desde 1500. Uma justiça incompetente e corrupta, que ainda tarda e falha, e parte da mídia vendendo os amigos do alheio como neoliberais, modernos, promovendo privatizações-roubos (privatarias), promovendo o neoescravismo da terceirização (como em Samparaguai) – lotando a pior oposição da história da república (oposição de corruptos e ladrões todos com fichas limpas) - foi um projeto apenas para agradar a mídia e iludir os incautos e vampirizar os votos dos que acreditam que pensam. Você caiu nessa? Os que vão fazer e desfazer das tais fichas sujas e fichas limpas serão os mesmos de uma sociedade hipócrita e de uma justiça incompetente, corrupta, que tarda e falha. Já pensou? Pensar pode.



Silas Correa Leite
Conselheiro em Direitos Humanos, Jornalista Comunitário, Poeta e Ficcionista, autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design
E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net


domingo, 2 de maio de 2010

O POETA - Poema de Jeandro C. Pereira






O POETA

Uma noite triste! Mas brilhosa e silenciosa,
tudo se transforma nos confins da noite,
Como se conduz um solitário pensante?
Poeta desista de mudar os sentimentos alheios, viva sua vida,
Cuide-se aos insultos impuros das delicadas infâmias.

O talento é a ironia do segredo,
Se tiveres medo morres,
Se enfrentares o desafio teu crânio não more vazio,
O poeta e a noite:
Dos pesadelos aos sonhos,
Das visões imaginarias à realidade,
Dos templos aos prostíbulos,
Do poço ao firmamento,
Poeta tudo podes.

O poeta é um gênio ou um ignorante,
Um demônio ou um anjo,
Oh poeta! Fosses rude e soberano,
Subistes no esplendor de tua loucura e jogastes o amor no fundo do abismo,
Depois tua alma ouvia vozes de desespero
Hoje o poeta é uma estrela pensativa,
Com a’lma sedenta por novos ideais,
O poeta lança suas idéias numa orgia longe das vozes zombadoras,
E da luto aos seus ouvidos,
Mesmo quando sentir-se sozinho estarás chorando aos pés do anjo da guarda,
Respirando fundo na madrugada fria bem abaixo da lâmpada sombria.

Vai poeta deixe murmurar de teu espírito a eterna poesia,
Mesmo que para os homens seja delírio de momento,
Para os anjos suas palavras ecoaram pelo firmamento,
E se os homens te zombam na terra,
Deus acolhe poetas nos céus.


“Jeandro C. Pereira”

sábado, 1 de maio de 2010

Silas Correa Leite, Questionário de Uma Vida Interior





Questionário de Uma Vida Interior


Série Primeiros & Primordiais


01)-O meu Primeiro Beijo
( )-Foi para sempre
( )-Foi inocente
( )-Foi docemente
( )-Foi inconseqüente
( )-Todas as alternativas anteriores

02)-O meu Primeiro Amor
( )-Foi de repente
( )-Foi meio valente
( )-Foi sem semente
( )-Foi imprudente
( )-Nenhuma das alternativas anteriores

03)-O meu Primeiro Choro
( )-Não me lembro
( )-Foram tantas as primeiras vezes
( )-Foi íntimo e escondido de mim
( )-Ah vida besta que me tirou da Barriga do Céu (Mãe)
( )-O meu primeiro choro é toda a minha vida, tudo o que sou

04)-O meu Primeiro Para Sempre
( )-Acabou
( )-Não foi longe
( )-Não foi para sempre
( )-Não houve
( )-Só o amor é para sempre?

05)-O meu Primeiro Silêncio
( )-Eu não me cabia em mim
( )-O silêncio era o punho severo de Deus
( )-A paz de espírito
( )-O espírito fora do corpo era luz
( )-Como explicar o inexplicável?

06)-O meu Primeiro Poemazinho
( )-Doeu
( )-Tristeza e solidão
( )-Não me lembro
( )-Eu era feliz e não sabia
( )-O sonho acabou

07)-O meu Primeiro Adeus
( )-A morte
( )-A viagem (fuga de casa)
( )-O emprego
( )-Minha vó
( )-Meu Deus!

08)-O meu Primeiro Ídolo
( )-Meu pai
( )-Meu anjo (Minha Mãe)
( )-John Lennon
( )-Garrincha
( )-Elis Regina

09)-O meu Primeiro Medo
( )-Xixi na cama
( )-Surra de cinta
( )-Escuro dói
( )-A morte
( )-Nunca se lê/Lágrimas no escuro

10)-O meu Primeiro Emprego
( )-Marcenaria: eu era o burrinho do presépio
( )-Carregar madeira, cortar toras de árvores nobres
( )-O cheiro de cedro e pinho
( )-Eu aprendi a profissão do pai de Jesus
( )-Eu só tinha onze anos (cortei minha infância pela metade)

11)-O meu Primeiro Pecado
( )-Gula
( )-Cinta (erros nas apreendências)
( )-Palavrão (secreto)
( )-Tristeza tácita
( )-Duvidar da existência de um Deus que castiga

12)-O meu Primeiro Castigo
( )-Deus
( )-Medo de Deus
( )-Medo do inferno
( )-Medo da noite
( )-(Censurado)

13)-O meu Primeiro Sonho
( )-Comida
( )-Pastel, coxinha, empadinha, maria-mole queimada
( )-Ser feliz
( )-Ser eterno
( )-Ser

14)-O meu Primeiro Documento
( )-Certidão de Nascimento
( )-Carteira de Identidade
( )-Diploma
( )-Pobreza
( )-Poesia

15)-A minha Primeira Viagem
( )-O amor
( )-O ponto de interrogação do abandono
( )-O céu
( )-Mundo da Fantasia (Menino-lobo, Espantalho, Cusarruim)
( )-O sonho impossível (ser poeta)

16)-O meu Primeiro Artigo pra Jornal
( )-16 anos
( )-O Rapaz da Moto
( )-1968
( )-Pseudônimo Sil Córley
( )-Todas as anteriores

17)-A minha Primeira Transa
( )-Ela era mais velha
( )-Eu era inocente, puro e besta
( )-Conheci o céu aqui mesmo
( )-Foram sete dias encantado
( )-Todas as anteriores e mais algumas

18)-Os meus Primeiros Criares
( )-Exercício de libertação do ser de mim mesmo
( )-Sensibilidade à flor da pele
( )-Todos os dias
( )-Exercícios de solidões
( )-A alma respirando luz para eu não ficar louco

19)-Os meus Primeiros Inimigos
( )-A miséria
( )-O inferno
( )-A morte dos entes queridos
( )-Não poder proteger minhas irmãs bonitas
( )-Eu mesmo

20)-Os meus Primeiros Fins
( )-Antes de mim
( )-Comigo
( )-Dentro de mim
( )-Para sempre
( )-Amei e fui amado/Bem-aventurado? (Juízo Final)

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Primeiro Rascunho Para Um Questionário de Pertencimentos
(Uma Vida só é Pouco)

-Silas Corrêa Leite – E-mail: poesilas@terra.com.br
-Site Pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm
-Romance ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS no site
www.itarare.com.br

(Texto da Série: Ponte Sobre o Rio Cinzas – Primeiros Apontamentos Para um Livro de Memórias Inventadas)