sábado, 28 de março de 2009

Poeminho do Poeta Risador, Silas Correa Leite

(Tela Jorge Chuéri)



Poeminho do Poeta Risador


Às vezes acordo de madrugada
Para dar risada
Da anedota que um dia ouvi
Muito antes até, mas à época de inteiro a piada não compreendi

Sou lento como uma tartaruga
E o cérebro enrolado ainda enxuga
Tudo o que eu não entendi
Para ao final ver o mal ou bem que se cabe em si

A mãe quando eu era menino
Achava que eu era meio lerdo em desatino
Quando ainda era bem madrugadinha
E eu acordava para “cerrir” de uma velha historiazinha

Alguma polaca minha namorada
Achava que eu era da pá virada
Quando eu mal no breu da madrugada
Acordava fazendo xixi de tanto dar gargalhada

Meu cérebro detravessado era lento
Não sei o que eu tinha ou não tinha por dentro
Mas muito depois que eu reaprendia tudo de novo era um show
E eu acabava até ensinando quem me ensinou

Amigos ridentes diziam “é um louco varrido”
Minha mulher diz que é só um espírito no vácuo do ar comprimido
Mas meu pai Antenor que muito me conhecia bem
Proseava até muito mais além

Dizia que se de músico, poeta, médico e louco
Todo mundo afinal tinha um pouco
Eu era diferente, um caipora sentidor e perspicaz
Porque de músico, poeta, médico e louco eu tinha um pouco mais

Assim, muito mal de mim mesmo decodificado
Virei um poeta em alvoroço alumbrado
E faço ao derredor sempre estarem rindo
O que para mim é refloração como um bom ser existindo

Mas, ainda assim, numa pré-aurora qualquer
Surpreendo a minha musa-vítima, minha doce mulher
E acordo e rio feito um elefante desengonçado
E então é um pandareco de um sonhador espeloteado

Um dia certamente vou morrer de graceza, bem velhinho
E no Cemitério “Lágrimas do Céu” de Itararé enfim serei enterrado
Num cantinho da terra-mãe ficarei algum tempo bem quietinho
Até lembrar-me de um causo risador pra lá de engraçado...

Então, os vermes me verão todo eriçado
Com meu humor repentino depois de atrasado
E então dirão, “Esse nem depois de findo
Deixou de ser uma alma triste poeticamente sorrindo”

E rirão os meus parceiros do cemitério
Dizendo “Esse poetinha é um caso sério”
Mas até mesmo do meu epitáfio engraçado rirão, os viventes
E anjos, amigos, boêmios, conterrâneos, andorinhas, parentes
E lerão no meu túmulo:


“AQUI JAZZ UM GURI, MENINO, CURUMIM, PIÁ, MOLEQUE

QUE ENQUANTO EXISTIU FOI UMA ANDORINHA SEM BREQUE

FOI MUITO POBRE, ESTUDOU MUITO, VENCEU, TIROU TATUS

POEMAS ACIMA E ABAIXO DO NARIZ

NASCEU ANALFABETO, VIVEU ESTUDANDO

E MORREU APRENDIZ!


Silas Correa Leite, 2009 -
www.portas-lapsos.zip.net
E-mail; Poesilas@terra.com.br - www.itarare.com.br/silas.htm
Poema da Série “Eram os Deuses Itarareenses?”

quinta-feira, 19 de março de 2009

Microcontos de Silas Correa Leite, Inéditos 2009

Arte, Ana Peluso, Sampa



Minúsculos Microcontos de Silas Correa Leite, Inéditos 2009


Separação

Meus pais se separaram. Matei os dois.

Cingapura

Quando chamaram o pai dela que era zelador, ela já tinha perdido a virgindade.

Hitlerismo

Não tenho inimigos. Eles é que me têm.

Mãos ao Alto

Sim, Seu Delegado. Gritei aos ao alto e atirei pra cima. O ladrão se entregou são e salvo, mas eu acertei o professor de paraquedismo que tava se exercitando num vôo rasante.

Acidente de Percurso

-Não quero casar com ele não, Mãe. Tô grávida mas sou tão tonga assim.

Amor em Tempos de Carência

Ele faz mal pra mim, Seu Doutor, isso ele fez. Mas também pra melhor dizer, foi assim também que eu me apaixonei pelo caipora.

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Continhos Da Série: “Quando Um Não Quer Os Dois São”, Safra 2009
Silas Correa Leite – E-mail:
poesilas@terra.com.br
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net

segunda-feira, 16 de março de 2009

POETRIX - Silas Correa Leite - Primeira Parte

Cacau Quebrado (Paralelepípedos) de Itararé
Foto Silas Correa Leite




POETRIX – Outras Palavras
(Quase Pertencimentos)


“De perto ninguém é normal...” (Caetano Veloso)

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01)-Seda

Quando escurece
Sei que o fazer poético
Íntima seda tece

02)-Parafraseando Maiakovski

Não tem remédio
Melhor morrer de cerveja
Do que de tédio

03)-Solo Auroral

De madrugadinha
O choro do recém-nascido
Parece solo de Pixinguinha

04)-Tentativa de Abismo

Eu ainda desconfio
Que não devo cruzar a ponte
Mas me atirar no rio

05)-Holocausto ISO 2001

Nas ruas da amargura
Despossuídos do neoliberalismo
Mirram, sub-seres...

06)-Paraíso

Quando o mundo acabar
Eu volto para Itararé
Meu sagrado lar

07)-Close Outonal

A borboleta creme
Ao relho do alísio sul
Energizada treme

08)-Fim de Caso

Técnica da Separação
Tu não me amas e dizes sim
Eu te amo e digo não

09)-Riquezas Injustas

Gastava com o cão
O que nunca pagava
Ao operário padrão

10)-Onirismo

Quando escrevo, transcendo
Eu de mim mesmo sendo
O que se me dá havendo

11)-Do Fazer Poético

Sobreviver significa
Metáforas (encantários)
Ritmo e rima rica

12)-Pátria Nada

Brazyl Globalizado
Lucro neoliberal
Do crime organizado

13)-Brasileirinha

A história escancarada
Para a escória: -Sem corrupção
O Brasil capitalista pára!

14)-31.03.64

Muitas vezes
Muitas reses
Muitas Fezes


15)-Mãe Solteira

Sonhando, a bailarina
Engravidou – Mas dançou
A tragédia de sua sina

16)-Clássico

(Violento gado
Preso dentro do estádio
-Gol anulado!)

17)-Louca Varrida

Apaixonou-se pelo zelador
Que não zelou seu amor
E fugiu da casa de si mesma

18)-Eu Era Feliz e Não Sabia

Laranja madura
Na beira da estrada
-Fanta Diet


19)-Para Não Dizer Que Não Falei de Flores

Acostumei-me a ser sozinho
Que quando arrumo companhia
A minha poesia Espinho


20)-“Crente” Nos Anos 60

Santinho de pau oco
Eu amava os Beatles
E Tonico e Tinoco

21)-Restos

Vencida a promissória
Da vida – Deus protesta
O que de ti ainda resta

22)-Capricho Noturno

De noite na cama
Você diz que é feliz
Mas não me ama

23)-O Show Tem Que Continuar

Dançando na corda bamba
Sem sombrinha, a cega
Fica mais perto de Deus

24)-Nódoa Refletida

Olhou-se no espelho
Era outro, de si mesmo
Refém, revel. E lesmo.

25)-Lavandas

Trincando o muro, a chuva
Por um canto velho com húmus
Faz xixi verde nas lavandas


26)-Página do Relâmpago Infinito

Flash, relâmpago elétrico
Deus, de bom humor
Fotografa a camada de ozônio

27)-Nau Catarineta

Descobri, de madrugada
Alma Nau do peito em cruz
Que do jazz nasce a luz

28)-Utopia

Condenado à prisão perpétua
O poeta com seu surrealismo
Morreu – E tornou-se livre

29)-Notívago

O Poeta sem um vintém
Filosofia com desdém
-Há bares que vêm pra bem



30)-Domingo

Na sogra, Domingo
Cerveja, baralho
E macarrão com xingo

(FIM)

Primeira Lavra de Quase Poetrix (Ensaio Número UM)

Silas Corrêa Leite
E-mail:
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Trabalhos do autor nos sites
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terça-feira, 10 de março de 2009

Livros, Leituras e Bibliotecas





Artigo/Opinião
Livros, Leituras e Bibliotecas

“Um escritor sente ao mesmo tempo
e mais a dor humana, pois é ao
mesmo tempo celebrante,
testemunha e vítima”
Edna O´Brien

Os maiores seres humanos do mundo de todos os tempos, passaram a vida inteira literalmente pendurados em livros importantes. Várias conquistas históricas – curas, descobertas, buscas, vitórias, prêmios “nóbeis”, invenções, artes, ciências, etc. – passaram necessariamente pela enormidade de livros de qualidade que leram, releram, pesquisaram, buscando habilidades e conhecimentos vitais. Livros e leituras. Relembrando a minha doce infância na Estância Boêmia de Itararé, sul de São Paulo, divisa com o Paraná, das descalças ruas cor-de-rosa, dos vendedores de pirulito premiado aos vendedores de dolé de groselha preta, do afiador de facas ao vendedor de bananas, do mascateiro de bugigangas aos entregadores de leite e pão (A carrocinha de padeiro/Tem um buraquinho bem no meio/Que vai semeando sanhaços e colibris/Atrás do farelo de pão), recordo que tinha também o simpático Vendedor de Livros: bibliotecas, enciclopédias, Bíblias, dicionários, romances, clássicos. Já pensou? Bons tempos aqueles em que eu era feliz e não sabia.
Você pesquisa a história de um herói, de um aventureiro famoso, de um personagem histórico de quilate, de uma personalidade fora de série para o mundo, e sente o que é realmente fato: a leitura, a educação, a cultura, a sensibilidade, a família estruturada dando amor e cobrando com sanções formaram a verdadeira base. E os livros, que plantaram idéias em corações e mentes. Pois era um tempo em que um vendedor treinado e bem vestido batia palmas no portão de tabuinhas da casa de gente humilde e ofertava coleções de livros a preços módicos. E as pessoas atendiam curiosas, interessadas. Ficávamos serelepes, de butuca, e víamos aquele monte de livro, de Jorge Amado, J. G. de Araújo Jorge, Érico Verissimo, Leon Tolstoi, Cecília Meireles, Monteiro Lobato, e o vendedor afirmando com convicção que o homem que lê vale mais.
Os pais, sabidos, compravam fiado, em suaves prestações mensais, aquelas enciclopédias que facilitavam a vida da gente, abriam mundos, punham pingos nos is das dúvidas e das quireras de questionamentos precoces. Em casa estudar era obrigação, quase sagrada, e ler mesmo, e na marra, virou castigo. E líamos de tudo: dicionários, a Bíblia, revistas como Fatos e Fotos, Realidade, Seleções e, ainda, Contigo, Intervalo, Palavras Cruzadas, fotonovelas do Sétimo Céu, Cruzeiro e tudo mais. E quando pairava a dúvida, gritava a sábia Vó: -Vá consultar o Pai dos Burros!. Eu, quando aprontava (e aprontava muito e sempre) tinha que ler os Salmos de Davi. Mas gostei da prazeirança e contenteza do verbo LER. E depois, convenhamos, era muito melhor do que sova de vara de marmelo. E toma Música ao Longe, Clarissa, Solo de Clarineta, Vinicius de Morais, Guerra e Paz, Pablo Neruda e tantas outras janelas para o céu de mim mesmo encantado, com aquele ninhal de prazeiranças letrais.

Se quem lê vale mais, imagine que lê muito, pois vale muito mais, assim como quem lê coisa difícil ou complicada pensa melhor, abre a cabeça. Quem tem sensibilidade lê poesia então, vira poeta a apronta sabenças e contentezas por atacado. E naqueles tempos o professor que ganhava igual a um juiz, dava um Machado de Assis na aula da sexta-feira, para o aluno trazer trabalho de resumo na segunda. Normal. E tínhamos aulas de redação, gramática, literatura brasileira e literatura portuguesa, além de uma semana de verbos. Os livros nos salvavam. Os dicionários eram quase santos. As enciclopédias valiam ouro. Quem pensava num futuro promissor para os filhos, tinha uma em casa. Livros, leituras, bibliotecas, tudo isso tinha a ver com cultura, educação, evolução, investimento no ser humano.

Assim como nos arrumávamos bem para ir à igreja, ficávamos chiques segundo o figurino, também estávamos embonitados para ir à escola. Para entrar numa biblioteca então, era quase um lugar sagrado, eu adentrava ao prédio todo trancham. Bendita filosofia a dos que confiam na educação e no amor como melhor remédio. –O que você foi fazer na biblioteca, guri? Era um piá entojado querendo saber da acontecência que nos levara até lá. E a resposta – um rapaz que amava os Beatles e Tonico e Tinoco - fazia panca e mostrava o volume do livraço espetacular: -A professora deu o Escritor de renome João Guimarães Rosa para lermos até a prova. E tínhamos orgulho do livro, da escola, da professora. Os pais sabiam: esse menino vai longe, lendo assim. Longe é um lugar dentro da gente no devir?

Você imaginava o futuro de um cidadão pelo livro que tinha embaixo do braço, pelas notas que ele tirava nas provas. Era quando sabia falar bem, escrevia bem e tudo isso somado à bendita leitura dos clássicos brasileiros ou mesmo internacionais. Os tradutores eram do nível de um Manuel Bandeira, Érico Veríssimo e outros. Ler era questão de sabedoria. E daí, pegando gosto, íamos lendo de tudo, de gibis – Kit Carson, Flecha Ligeira, Mandrake, Fantasma, Tarzã, Príncipe Valente, Pato Donald – a jornais, pessoas, autoridades, seres humanos, vivências, referenciais; como livros abertos. Muitos deles com um final feliz pelo que fizeram de bem ao povo, à sociedade, à imprensa, à cultura. E com os livros enfrentávamos viagens, estradas de tijolos amarelos, Sangri-lá, Terra do Nunca, Dublin.

Com oito anos, no primário do Grupo Escolar Tomé Teixeira, mal-e-mal alfabetizado (vogais, consoantes, hinos e declamações, mais os causos que meu pai Antenor, tocador de acordeão contava com sabedoria letral de bubuia), e não foi muito tempo de aulas vivas e surpreendi a Professora Jocelina Stachoviach de Oliveira: pincelei umas quadrinhas pueris. Dia da Pátria, Dia do Índio, Dia da Árvore, Dia da Bandeira e lá estava eu, todo pimpão, declamando e impostando a voz que se formava. Aos 16 anos já colaborava com o jornal O Guarani da cidade. Crônicas, humor, trocadilhos. O castigo de ler - e ler bem e ler alto e ler muito – livros, jornais (as brigas do Lacerda com o Brizola ou o Jango) virou bagagem, conteúdo, soma. O rapaz de botinha sem meia, cabelo na testa, calça calhambeque, tinha vindo de um letramento em casa e no entorno; livros de qualidade. E ainda o vizinho que tinha – Há um Deus – todos os clássicos russos. Um tesouro. O menino, criado depois de seis irmãs, quando é lembrado por elas, a imagem que ficou foi das calças curtas de morim-cambraia com suspensório, queds ou ki-chute, tomando crush ou tubaina de tutti-fruti (as irmãs de saia ban-lon), com um caderno, uma revista, um livro da mão. Quem procura acha?

Virou poeta, sem lenço e sem documento. Enfrentando os rocamboles da vida, com labirintos, releituras, tristices, cursos e ganhos. Aprendeu com Castro Alves que “Viver é lutar/A luta é renhida...” Migrou para Sampa, voltou a estudar, aprendeu que escrever era colocar a alma feito nau para respirar, virou escritor, foi premiado, lançou livro virtual, estudou, e, na parede da memória ficou a lembrança de todo mundo lendo em casa. Do pai juntando a família para prosear causos em frente à vitrola Semp; da barulhança que era a chegada de um livro novo, uma novela, um romance. E também do vendedor de livros, da estadia na biblioteca que era o céu de todas as sabedorias. A importância do livro. A importância das leituras. Vencer ficou fácil. Enfrentar a barra pesada de viver também. Meus livros, meus maiores tesouros. –Como lê esse guri, reclamava a Vó Maria tempos depois. –Ainda vou viver de ler e escrever, eu respondia, rascunhando um poema, relembrando mestres escritores. Meus livros, meus mestres. Minha vida é um livro aberto, mesmo que na página errada? Imagine só: páginas de rostos, páginas da vida, histórias, baladas e blues. Minha vida é um livro aberto. Espero que o final feliz dê certo. Como Deus é sábio, mandou os poetas e escritores registrarem sabenças, prazeiranças e contentezas. Iluminuras de paletas letrais. Vivências-salmos. Vidas-livros. Hoje tenho duas almas: uma dela é o prazer da Leitura. Como a vida é um eterno aprendizado e o saber é infinito, compreendo melhor que disse Soren Kierkegard “Ai daquele que sabe: há de pagar pela culpa de ter sabido pouco”. Quem mexeu no meu livro?
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Silas Corrêa Leite –
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E-mail: poesilas@terra.com.br






Estatuto de Poeta, Silas Correa Leite

Poeta Silas e Amigos na Universidade de Palmas, Pr


ESTATUTO DE POETA

Primeiro Rascunho Para um Esboço de Projeto Amplo, Total e Irrestrito

Silas Corrêa Leite
Artigo Um

Todo Poeta tem direito de ser feliz para sempre, mesmo além do para sempre ou quando eventualmente o “para sempre” tenha algum fim.
Artigo Dois
Todo Poeta poderá dividir sua loucura, paixão e sensibilidade com mil amores, pois a todos amará com o mesmo prelúdio nos olhos, algumas asas nas algibeiras e muitas cítaras encantadas na alma, ainda assim, sem lenço e sem documento.
Parágrafo Único
Nenhum Poeta poderá ser traído, a não ser para que a ex-Musa seja infeliz para todo o resto dos dias que lhe caibam na tábua de carne desse Planeta Água.
Artigo Três
Nenhum Poeta padecerá de fome, de tristeza ou de solidão, até porque a tristeza é a identidade do Poeta, a solidão a sua Pátria, sendo que, a fome pode muito bem ser substituída por rifle ou cianureto. E depois, um poeta não precisa de solidão para ser sozinho. É sozinho de si mesmo, pela própria natureza, com seus encantários, mundo-sombra e baladas de incêndio.
Artigo Quatro
A Mãe do Poeta será o magno santuário terreal de seus dias de lutas e sonhos contra moinhos e erranças de gracezas e iluminuras.
Filho de Poeta será como caule ao vento, cálice de liturgia, enchente em rio: deverá adaptar-se ao Pai chamado de louco por falta de lucidez de comuns mortais ou velado elogio em inveja espúria.
Artigo Quinto
Nenhum Poeta será maior que seu país, mas nenhuma fronteira ou divisa haverá para o Poeta, pois sua bandeira será a justiça social, pão, vinho, maná, leite e mel, além de pétalas e salmos aos que passaram em brancas nuvens pela vida. E depois, uns são, uns não, uns vão, uns hão, uns grão, uns drão – e ainda existem outros.
Artigo Sexto
A todo Poeta será dado pão, cerveja, amante e paixão impossível, o que naturalmente o sustentará mental e fisiológicamente em tempos tenebrosos ou de vacas magras, de muito ouro e pouco pão.
Artigo Sétimo
Nenhum Poeta será preso, pois sempre existirá, se defenderá e escreverá em legítima defesa da honra da Legião Estrangeira do Abandono, à qual sabe pertencer, com seu butim de acontecências, ou seu não-lugar de, criando, ser, estar, permanecer, feito uma letargia, um onirismo.
Artigo Oitavo
A infinital solidão do espaço sempre atrairá os Poetas.

Artigo Nono

Caso o Poeta viaje fora do combinado, tome licor de ausência ou vá morar no sol, nunca será pranteado o suficiente, nem lhe colocarão tulipas de néon, dálias aurorais, estrelícias de leite ou dente-de-leão sob o corpo que combateu o bom combate. Será servido às carpideiras, amigos, parentes, anjonautas e guardiões, vinho de boa safra por atacado, mais bolinhos de arroz, pão de minuto e cuque de fubá salgado.


Artigo Décimo

Poeta não precisará mais do que o radar de seus olhos, as suas mãos de artesão sensorial no traquejo do cinzel interior, criativo, sua aura abençoada e seu halo com tintas de luz para despojar polimentos íntimos em verso e prosa, como pertencimentos, questionários e renúncias.

Artigo Décimo-Primeiro

Poeta poderá andar vestido como quiser, lutar contra as misérias e mentiras do cotidiano (riquezas impunes, lucros injustos), sempre buscando pela paz social, ou ainda mamando na utopia de uma justiça plural-comunitária. Quem gosta de revolução de boteco é janota boçal metido a erudição alcoólica e pseudo-intelectual seboso e burguês. Poeta gosta mesmo de humanismo de resultados. De pegar no breu. A luta continua!


Artigo Décimo-Segundo

Poeta pode ser Professor, Torneiro-Mecânico, Operário, Jardineiro, Fabricante de Bonecas, Vigia-Noturno, Engolidor de Fogo, Entregador de Raposas, Dono de Bar ou Encantador de Freiras Indecisas. Poeta só não poderá ser passional, insensível, frio ou interesseiro. Ao poeta cabe apenas o favo de Criar. O poeta escreve torto por linhas tortas (um gauche), poesilhas (poesia rueira e descalça) e ficção-angústia. Escreve (despoja-se) para não ficar louco...para livrar do que sente. O Poeta, afinal, é um “Sentidor”

Artigo Décimo-Terceiro

Se algum Poeta for acusado levianamente de alguma eventual infração ou crime, a dúvida o livrará. E se o Poeta dizer-se inocente isso superará palavras acima de todos e sua fala será sentença e lei. A ótica do Poeta está acima de qualquer suspeita, e ele sempre é de per-si mesmo o local do crime da viagem de existir. Mas pode colaborar com as autoridades, cometendo um crime perfeito. Afinal, só os imbecis são felizes.



Parágrafo Único

Poeta não erra. Refaz percursos. Poeta não mente. Inventa o inexistente, traduz o impossível, delata o devir. Poeta não morre. Estréia no céu.

Artigo Décimo-Quarto

Aos Poetas serão abertas todas as portas, até as invisíveis aos olhos vesgos e comuns dos mortais anônimos, serão abertos todos os olhos, todas as almas, todos os caminhos, todas as chamas, todos os cântaros de lágrimas e desejos, todos os segredos dessa dimensão ou fora dela, num desespelho de matizes.


Artigo Décimo-Quinto

A primeira flor da primeira aurora de cada dia novo, será declarada de propriedade do Poeta da rua, do bairro, do país ou de qualquer próximo Poeta a confeitar como louco, como ermitão ou pioneiro, de vanguarda. Em caso de naufrágio ou incêndio, poetas e grávidas primeiro

Artigo Décimo-Sexto
Não existe Poeta moderno, clássico, quadrado, matemático como pelotão de isolamento, ou só aleijado por dentro, pois as flores e os rios não nascem nunca iguais aos outros, sósias, nem os poemas são tijolos formais. Nenhum Poeta poderá produzir só por estética, rima ou lucro fóssil. Poesia não é para ser vendida, mas para ser dada de graça. Um troco, um soneto, uma gorjeta, um haikai, um fiado pago, uns versos brancos, um salário do pecado, um mantra-banzo-blues. E todo alumbramento é uma meia viagem pra Pasárgada.

Poeta é tudo a mesma coisa, com maior ou menor grau de sofrimento e lições de sabedoria dessas sofrências, portanto, com carga maior ou menor de visão, lucidez, sensoriedade canalizada entre o emocional e o racional, de acordo com a sua bagagem, seu vivenciar, seu prisma existencialista de bon vivant. Poeta há entre os que pensam e os que pensam que pensam. Entre os que são e os que pensam que são. A todos é dado a estrada de tijolos amarelos para a empreita de uma caminhada que o madurará paulatinamente. Ou não. Todo poeta é aprendiz de si mesmo, em busca de uma pegada íntima, e escreve para oxigenar a alma. Afinal, são todos sementes, e sabem que precisam ser flores e frutos, para recriarem, para sempre, a eterna primavera.

Todo aquele que se disser Poeta, assim o será, ou assim haverá de ser

Parágrafo Um

O verdadeiro Poeta não acredita em Arte que não seja Libertação. Saravá, Manuel Bandeira!

Parágrafo Dois

Poeta bebe porque é líquido. Se fosse sólido comia.

Parágrafo Três

Poeta é como a cana. Mesmo cortado, ralado, amassado, ao ser posto na moenda dos dias, ainda assim tem que dar açúcar-poesia

Inciso Um

Poeta também bebe para tornar as pessoas mais interessantes.

Parágrafo quatro

Poeta não viaja. Poeta bebe. E todo Poeta sabe, que o fígado faz mal à bebida.





Artigo Décimo-Sétimo

Poeta terá que ser rueiro como pétala de cristal sacro, frequentador de barzinhos como anjo notívago, freguês de saunas mistas como recolhedor de essências, plantador de trigais amarelos como iluminador de cenários, cevador de canteiros entre casebres de bosquíanos, entre o arado e a estrela, um arauto pós-moderno como declamador de salmos contemporâneos entre extraterrestres.

Parágrafo Único


Poeta rico deverá ainda mais amar o próximo como se a si mesmo, ajudando os fracos e oprimidos, os Sem Terra, Sem Teto, Sem Amor, para então se restar bem-aventurado e poder escrever cânticos sobre a condição humana no livro da vida. Poeta é antena da época. E o neoholocausto do liberalismo globalizador é o câncer que ergue e destrói coisas belas.

Artigo Décimo-Oitavo

A todo Poeta andarilho e peregrino como Cristo, São Francisco ou Gandhi, será dado seu quinhão de afeto, sua porção de Lar, seu travesseiro de pétalas de luz. Quem negar candeia, azeite e abrigo ao Poeta, nunca terá paz por séculos de gerações seguintes abandonadas entre o abismo e a ponte para a Terra do Nunca. Quem abrigar um Poeta, ganhará mais um anjo-da-guarda no coração do clã que então será abençoado até os fins dos tempos.

Parágrafo único
O sábio discute sabedoria com um outro sábio. Com um humilde o sábio aprende.

Artigo Décimo-Nono

Poeta poderá andar vestido como quiser, com chapéus de nuvens, pés de estrelas binárias ou mantras de ninhos de borboletas. Nenhum Poeta será criticado por fazer-se de louco pois os loucos herdarão a terra e são enviados dos deuses. “Deus deve amar os loucos/Criou-os tão poucos...” - Um Poeta poderá também andar nu, pois assim viemos e assim nos moldamos ao barro-olaria de nosso eio-Éden chamado Planeta Água. E a estética para o poeta não significa muito, somente o conteúdo é essência infinital.

Artigo Vigésimo

Poeta gosta de luxo também, mas deve lutar por uma paz social, sabendo a real grandeza bela de ser simples como vôo de pássaro, simples como pouso em hangar fantástico, simples como beira de rio ou vão de cerca de tabuínha verde. Só há pureza no simples.

Artigo Vigésimo-Primeiro

Nenhum Poeta, em tempo algum, por qualquer motivo deverá ser convocado para qualquer batalha, luta ou guerra. Mas poderá fazer revoluções sem violência. Poderá também ser solicitado para ser arauto da paz, enfermeiro de varizes da alma ou envernizador de cicatrizes no coração, oferecendo, confidente, um ombro amigo, um abraço de ternura, um adeus escondido feito recolhedor de aprendizados ou visitador de bençãos, ou ser circunstancialmente um rascunhador clandestino de alguma ridícula carta de suicida.


Artigo Vigésimo-Segundo

Mentira para o Poeta significa cruz certa. Aliás, poeta na verdade nunca mente, só inventa verdades tecnicamente inteiras e filosoficamente sistêmicas...

Artigo Vigésimo-Terceiro

Musa-Vítima do Poeta será enfermeira, psicóloga, amante, mulher-bandeira, berço esplêndido, Santa. Terá que ser acima de todas as convenções formais, pau para toda obra. No amor e na dor, na alegria e na tristeza, até num possível pacto de morte.

Artigo Vigésimo-Quarto

Poeta não paga pensão alimentícia. Ou se está com ele ou contra ele. Filha e sobrevivente de uma relação qualquer, ficarão sob sua guarda direta e imediata. Ex-Mulheres serão para sempre águas passadas que não movem moinhos, como velas ao vento de uma Nau Catarineta qualquer, como exercícios de abstrações entre cismas, ou como aprendizados de dezelos íntimos de quem procura calma para se coçar.


Artigo Vigésimo-Quinto

Revogam-se todas as disposições em contrário

CUMPRA-SE - DIVULGUE-SE

Brasil, Cinzas, 1998, Lua Cheia – Do jazz nasce a luz!

Poeta Silas Corrêa Leite, Educador e Jornalista – Membro da UBE-União Brasileira de Escritores

(Texto traduzido para o espanhol pela Poeta Dr. Antonio Everardo Glez, de Durango, México) - Breve tradução para o inglês, francês e italiano.


E-mail: poesilas@terra.com.br – site com obras: www.itarare.com.br/silas.htm

Primeira Antologia de Prosa de Itararé





Artigo


Antologia de Prosa de Itararé


Ser Itarareense é, acima de tudo, um estado de espírito. Trazemos o DNA de Itararé na alma, nos sangue, no jeito “Itarareense” de ser. Conheceu, papudo? O Artista de Itararé é mais artista. O homem mais bonito do Brasil, Carlos Casagrande, é de Itararé. Um dos melhores arranjadores (premiado) do Brasil é de Itararé, Maestro Gaya. Um dos maiores cartunistas do Brasil é de Itararé, Luiz Antonio Solda. E tem muito mais. O mais importante e portentoso artista do interiorzão desses brasis gerais é o Jorge Chuéri, de Itararé, Cidade Poema, Santa Itararé das Letras. Vá vendo, quero dizer, vá lendo. “Se Deus é brasileiro/Jesus Cristo também é/Deus do Rio de Janeiro/E o Jesus de Itararé”. Já pensou? O paulista de Itararé é mais paulista. Aliás, até o Paranaense Ferreira era um paulista de verve, porque era orgulho e honra de Itararé. Itararé é isso: Bonita Pela Própria Natureza.

Por essas e outras, está pintando mais um livro para o acervo da chamada BRITA-Biblioteca Real de Itarareenses Andorinhas. O Livro ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES, Primeira Antologia de Prosa de Itararé, com a Coordenação e Revisão Geral da Mestra Maria Apparecida S. Coquemala, Especialista em Lingüística, e deste vate que vos fala, quero dizer, escreve, está em fase final de formatação, antes de ir pro prelo. Convidamos todo mundo que escreve da Santa Terrinha, divulgamos a idéia-projeto por atacado e nos meios sócio-culturais, muitos foram chamados e poucos escolhidos, já que requisitos mínimos teriam que ser cumpridos, como qualidade da obra, bibliografia, prazos, atendimento às solicitações da Comissão Coordenadora. Cobranças que fizeram alguns se perderem pelo caminho, outros se esqueceram ou não responderam devidamente ao chamado. Sentimos a falta de alguns, claro, mas, no frigir dos ovos, Aleluia!, 14 nomes foram agregados finalmente e numa boa, com muita criatividade.

Nós que somos fãs do Poeta Pedro Ribeiro Pinto – por incrível que pareça nenhum livro com os trabalhos do mesmo foi lançado por descendentes do Clã - o homenageamos nessa obra, como tambem a Paulo Rolim, talentoso artista, visionário, valente coração de ouro, além do Patrono da Antologia e convidado de Honra Especial, o Artista Plástico Premiado Jorge Chuéri, maior patrimônio cultural de Itararé. Com o JC Itararé é mais bonita, mais graciosa, mais estupendamente de alto astral, pois o Jorge, claro, significa o espírito Itarareense, agrega valores, representando muito para as artes de Itararé Centenária, já que é simpático, brincalhão, bem-quisto, vencedor com as mãos limpas e o talento brilhante; muito querido por atacado nessa cidade de tantas andorinhas sem breque em que ele, o Jorge Chuéri é uma grande andorinha, um verdadeiro Taperá!



Se demorou tanto, como alguém pode achar que está demorando, foi exatamente porque tivemos que insistir nas cobranças (às vezes fica chato insistir), ora pedindo a foto 3 X 4 colorida devida, currículo, obra digitada com uma correção básica primordial. Lamentavelmente alguns não deram o retorno devido em tempo hábil, pré-estipulado. Queríamos alguns outros nomes, descobrir talvez alguns novos valores, mas o essencial por fim, é o que ficou, o que rendeu. Dificuldades. Vários atrasaram a viabilização do projeto como um todo. Como sei da historicidade quase inteirinha de todos os participantes, ficou fácil aqui e ali dar um arremete final, sempre com a revisão e representante local, em Itararé, a Maria Apparecida Coquemala, Rua Itaporanga, 52, Fone 015(15) 3531-2065, e e-mail
maria-13@uol.com.br – Também posso ser contatado em Sampa pelo fone (011) 3726-9780 ou mesmo pelo e-mails poesilas@terra.com.br ou ainda silascorrea@bol.com.br

O livro terá em média 12 pgs por autor, uma página ou pg e meia para currículo, a idéia é ter tb na última página uma foto de cada autor com seu nome embaixo, estamos já pensando uma montagem de capa que agregue valores simbólicos e estéticos de Itararé, como Pinheiros, Andorinha, cacau quebrado (paralelepípedo), etc. Aceitamos sugestões, estamos sempre abertos para composições legais, porque uma andorinha só não faz verão, a bem dizer, uma andorinha só não faz nem outra Andorinha. Queremos tudo num mosaico da chamada Literatura Itarareense: Somas. Bem exatamente dentro do chamado espírito Itarareenses, quando somos todos um, visamos o congraçamento lítero-cultural.

Os participantes (14) a priori são: Dorothy Jansson Moretti, Jorge Chuéri, José Rodolfo Klimek Depetris Machado, Lazara Aparecida Fogaça Bandoni, Luís Carlos Ferreira da Silva, Maria Aparecida Melo, Maria Apparecida S. Coquemala, Maria de Lourdes Luciano Nonvieri, Moacyr Medeiros Alves, Sebastião Pereira Costa, Silas Corrêa Leite, Terezinha Mello Martins, Zunir Pereira de Andrade Filho. Como observam, importantes nomes da nossa terra-mãe, alguns deles com um livro editado, muitos com mais de um livro, alguns premiados, inclusive com prêmios no exterior. Como diria o Gonzaguinha “Gente mais maior de grande”. Bonito. Gracioso. Um amor por Itararé, afinal, a prosa de Itararé é afiada, um encanto mesmo, de causos a ficções, de crônicas a memórias, de narrativas a inventários letrais com garbo. Afinal, Itararé tem muita história pra contar, já que a própria história do Brasil passa por aqui. Sempre haverá Itararé!

Capa, estilo, cores, orelhas, prefácios, análise crítico-literária do conjunto da obra pela Mestra Coquemala, troca de idéias, mudanças, acertos, um pandareco. Cada trabalho trazendo a personalidade do autor, suas características, das contações de palha do Ze Maria (de Santa Cruz), a memórias de Terezinha Iluminada e Irmã Cida, passando por enfoques surrealista, micro-contos e outras criações. A Antologia ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES será bancada em regime de cooperativa, cada autor pagando o quantum de páginas constar, com todos os trabalhos sendo avaliados; eventualmente aqui e ali acertado a forma estética ou mesmo corrigido pela revisora oficial Coquemala. Afinal, feliz é o povo que produz e consome sua própria cultura. Bem-vindo a bordo. Estamos de vento em popa. E quem quiser que conte outra.

Silas Correa Leite, e-mail:
poesilas@terra.com.br
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net

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