sexta-feira, 16 de abril de 2010

Livro de Histórias de Sanxer Lacerda





Pequena Resenha Crítica

Belíssimo Livro de Historias “Olhos D´Agua”, de Sanxer Lacerda


A vida não é o que a gente viveu
Mas sim o que a gente recorda
E como recorda, para contá-la

(Gabriel Garcia Marques)



-As histórias todas de nossa vida, os encantados campos de nossas infâncias distantes, os lares de fogões de lenha e quintais alumbrados, as cidades, vilas e periferias dos sertões, tudo que com sensibilidade temos que literalmente viver para contar, assim como plantar uma árvore, gerar um filho e escrever um livro é sempre o dever sagrado de todo ser que está em travessia nesse mundo de meu Deus. Pois Sanxer de Lacerda acertou no livro de fio a pavio. Escrevemos para celebrar as vivências. E Gonzaguinha já cantava:

“Há um menino/Há um moleque/Morando sempre no meu coração/Toda vez que o adulto fraqueja/Ele vem para me dar a mão”.

-Pois o livro “Olhos D´Água é gostoso de ler, entrete feito remanso, salpicando de estrelas e memoriais o nosso peito. Causos, histórias, croniquetas, acontecências de um tempo que não se perdeu nas paredes da memória, e que Sanxer de Lacerda muito bem recuperou, dando testemunho de si, continuando o pai, a contar seus causos com beleza de detalhes tão ricos. A vida que se foi ainda no letral reflorindo em palavras, amor e humor. Doces Memórias.

-Os sertanejos, essa humana gente forte do Vale do Piancó, retratados nesse livro, falam de terras e contações desses brasis gerais. Entre ruas, fazendas, muçambês e beiras de rios, o autor vai debulhando o seu falatório que prende, encanta, arrebata, e nos sentimos andando com ele pelas ruas de sua meninice pueril, porque, como ele mesmo diz no livro (pg 9), é um escritor que descobriu que metade dele é aquilo que já foi e a outra metade é aquilo que ele será.

-Gostei do historial todo, um almanaque do modo que ele proseia, que no escrever entoa causos engraçados, belamente humanos, datados, como fotogramas letrais que ele certamente recupera como um contador que aqui os enlivra para nosso deleite. Ri muito com as brilhantes contações dele. Uma espécie de Tom Sawyer do sertão da Paraíba, como diz Amanda Lacerda no prefácio.

-Detalhes, expressões peculiares, dizeres afins, lugares, cisternas, contos, personagens populares, finais hilários, contentices e prazeiranças narrativas, José Sanxer Paulino de Lacerda realmente tem talento pra contar do ser de si e do entorno que muito bem captou. A alma-menino dele continua ativa e ainda preserva a bucólica e maviosa tez chã. Uma obra ainda bem editada, com bela capa, fotos, orelha e prefácio, tudo de primeira qualidade (Factash Editora-SP, 2010).

“Dona Joana era rezadeira das boas. A reza de dona Joana era tão forte que ela rezava pra dor de dente e o dente caía. Contavam lá pela região que ela rezou certa feira num dente de um cavaleiro de Vage Comprida e caíram até mesmo os dentes da espora (...)” (Pg. 107/Amancebado).

Esse é o linguajar de Sanxer Lacerda. Um belo livro diz a que veio: entreter, fazer rir, historiar, datar registros. Vinicius de Moraes disse: "A infância é uma gaveta fechada, numa antiga cômoda de velhas magias" Pois nesse livro OLHO D´ÁGUA o autor deixa a magia de seu tempo, das doces memórias, reinarem nas contações plangentes.

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Silas Correa Leite – Santa Itararé das Letras, Cidade Poema, São Paulo, Brasil –
E-mail: poesilas@terra.com.br – Blogue: www.portas-lapsos.zip.net
Autor de Porta-Lapsos, Poemas e Campo de Trigo Com Corvos, Contos, à venda no site: www.livrariacultura.com.br


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