terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Poeta se Apresenta






“Ser poeta é a minha maneira de chorar escondido/ nessa existência estrangeira em que me tenho havido”.

“Fugi do colégio interno/ fugi do quartel inferno/ fugi da ditadura de gravata/ farda, togas e terno/ e assim poeta moderno/ me descobri/ Ser Humano sem pedigree.”

“Que o bom Deus me proteja/ mas não tem remédio/ prefiro morrer de poesia e cerveja/ mas não de tédio”.

“Fujo de casa/ para o trabalho/ Fujo do trabalho/ para a escola./ Fujo da escola/ para a poesia./ Na poesia sou/ íntima fuga./Ponto de liga/ alma sem ruga. / A casa, a escola, o trabalho/ que fuga me sou? Se sempre me levo comigo/ para onde me vou?/.

“Quando quero estar um pouco a sós comigo /esqueço, desligo/ e tomo uma cerveja gelada…”

“ Nunca amei ninguém/ que fosse parecido comigo/ até porque persigo paz./ e não esconderijos./ nunca amei ninguém/ com medo de ser oásis.”.

“ A luz que me desce agora,/ é luz dentro que não se vê fora./ Fora a sombra cresce, agride, cora,/ enquanto a luz de dentro impera e mora”.

“A carrocinha do padeiro/ tem um buraquinho bem no meio/ e vai semeando andorinhas/ atrás do farelo de pão”

“Minha mãe fritava polenta/ e convidava a aurora para o banquete.”

“A cebola nossa de cada dia/ nos daí hoje/ para que choremos cotidiana poesia/ (nos ninhais de selvagem alquimia)/que sempre nos foge.”

“Sempre fui muito sozinho/ abandonaram-me quando nasci./ Minha pobre mãe deixou/ que eu existisse. / Hoje acostumei-me a ser sozinho/ abandonei-me em mim./ Acho que eu mesmo fui minha mãe./ não sei nunca mais deixar de ser sozinho assim./ Fiquei refém de eterno abandono./ - Mãe, tende piedade de mim!”

“Eu sou assim./ Uma noite mascarada de dia./ E de noite um córrego borboleteando Poesia./Tomo essência das coisas como elas são./ E, relendo-as, completo-me em suprema inteiração.”

“A mosca encontrou um garçom/ cheirando a detefom/ dentro da sopa”.

“O telefone toca/ e eu fico ligado/ preocupado/ assustado. / Em casa não tem telefone/ E eu sou só um número errado”

“ Estive em Itararé/ e não me lembrei de ninguém./ Porque quem não está em Itararé/ está sem.”
“ Deixei meu coração em Itararé/ na periferia cor-de-rosa da Vila São Vicente/ / Ali sob um flamboyant florido/ Ainda pulso, viço e glorifico a vida/ / Deixei meu coração em Itararé/ À beira do rio verde entre pinheirais/ /A criança triste que eu tenho sido/ É essa distância de cavaleiro boêmio./ /Deixei meu coração em Itararé/ Sob a lua caipira da Praça Coronel Jordão./ Deus sabe o quanto tenho sofrido, / procurando uma estrela nova no céu./ Deixei meu coração em Itararé/ e corro atrás de uma estrada que não existe./ Talvez por isso eu seja um poeta triste, buscando a criança que me perdi de ser./”


Os versos foram extraídos de Porta-Lapsos, livro do amigo poeta Silas Corrêa Leite.


Maria Apparecida S.Coquemala (Maria-13@uol.com.br) - Itararé-SP

Um comentário:

Luiz Eduardo de Carvalho disse...

Muito bom! Prazer em conhecer! Rsrs