domingo, 7 de março de 2010

Vacas no Céu do Interior, Livro de Poemas de Ari Marinho Bueno




Pequena Resenha crítica


Livro de Poemas “Vacas no Céu do Interior” de Ari Marinho Bueno



Não era para eu ler esse livro, eu não estava nem aqui, não estava previsto, fora de contexto, aliás, a bem da verdade, esse livro me assustou quando as “Vacas (Poemas!) Do Interior” caíram em minhas mãos de sentidor de uma urbe desvairada S/A, aliás, a bem da verdade, falando sério, VACAS NO CÉU DO INTERIOR (Editora Scortecci, SP) nem era para ter sido escrito. Será o impossível? Como é que pode?

Escrito? Pode ser. Vamos por parte, por pactos, por sentições. Disse. Isso. Que loucura gente-humana. Poemas nada em linhas retas, poemas como as bandeiras de VOLPI, soltos amiúde, dando o que pensar, captar, sentir, ralar no tácito. Perigas ler. Havemos de senti-los... Tudo tem a forma de poesia pura.

Nunca gostei de poetas que escrevem em linhas nada lineares, mas quando li a poesia exuberante de Ari Marinho Bueno capitulei, claro. Arquibaldo Luiz de Oliveira Filho, bacharel em Letras que orelhou o livro, termina a apresentação do autor altamente criativo dizendo que não há impunidade na poesia, nem para o poeta, nem para o leitor. Senti firmeza. É por aí...

Fui abduzido. “Na roça minha mãe enxugava o suor/Do rosto com as palmas das mãos/Diz que era pra não criar calos/A pele sempre fina e macia/Mas era pra não machucar os filhos(...)” – in pg 13, Vívidas.

Os poemas em linhas retas avacalham a estética gráfica e, feito twitter-poeminhos (poemaços) encurtam pavios nada lineares.

I
POVO em as ruas é coisa que não passa: leva
BEM PRA LONGE O FIO-DA-MEADA

(pg 19, sem título, fragmento)

Escutem (leiam) esse achado-pérola rara:

NA
VOCÊ
A HOMEM

O MULHER
NO
MIM

ATÉ
QUE
ENFIM

NÓS
QUATRO
A SÓS

.....................................................................................Lindo! – Bravo!


(! penso eu lendo as Vacas no Céu do Interior:)

Poemas, eu vos leio-vejo. “Respeitas o rude do Concreto?” (pg 23, Catequese do Alegre Plagiador)

Os poemas de Ari Marinho Bueno ins-piram, cobram, desfocam, alardeiam, sugerem, cutucam, instigam, bagunçam o coreto e dizem os veios do poetaço que os enredou, ele mesmo. Irônicos, tristes, alegres, rudes-bonitos, salpicantes (sangue, suor e lágrimas...)

Saquem esse: “O poeta não quer mais saber o porquê/O estupefato que não se afeiçoa/Que não se preza a razão/De um qualquer avanço cataclísmico;/Tsunamis, tornados, manadas de búfalos, enchentes, vá lá, estourou de balcões em festa de aniversário”

Fui pego pela palavra, quero dizer, pego pela poesia?

OU, o haiquase:

boi no pasto
estou contigo
e não abro

Ari Marinho Bueno dá de comer ao poema (citando Murilo Mendes), dá a sua ração de amor, horror, dor, estertor – olhares significativos para poemas cascalhados da vida/morte/sobrevivência (inclusive no sensível dele, ave césio).

Ari com Vacas clareia a poesia. Sorte nossa. E por agora chega. Vão a cata do livro com labiriscas pungentes. Ainda estou abalando com a maravilhante poética dele.

-0-

Silas Correa Leite
www.portas-lapsos.zip.net
E-mail: poesilas@terra.com.br

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