domingo, 5 de julho de 2009

Homenagem ao Poeta Rodrigo de Souza Leão, In Memoriam




Para Onde Vão os Poetas Quando Morrem Cedo

Para Rodrigo de Souza Leão, In Memoriam

“Começar o escrever era descrever/
Descrever era desmanchar o que está escrito/
O que estava à vista parado/
No pensamento, no jardim/
E reescrever, de outra forma/
Em outra fôrma/
O novo curso e rasgo./
Escrever é desespera e espera...”/

Armando Freitas Filho
In, Lar, Poemas, Companhia das Letras



Para onde vão os poetas quando morrem jovens?
Para uma Terra do Nunca muito além de Pasárgada?
Para uma Shangri-lá das esferas letrais
Um desmundo na órbita das sensibilidades apuradas?
Para uma cidade fantasmas de sígnicos humanos
Em que há uma toda nova preparação para um revisitar-se?

Para onde vão os poetas quando morrem cedo?
O que é cedo ou tarde para o macadame das almas literais
E o espírito dos atribulados no caos telúrico
Entre o esquizofrêmito de criar um novo céu e uma nova guelra
Porque a insatisfação generalizada reina e viça
Nas infovias efêmeras que disparam solidões em concreto
Tirando impurezas do teclado e rangendo o rancor além da rede?

Para onde vão os poetas quando piram letras
Ferindo-se para escreverem com sangue dívidas e dúvidas
Muito além das cantagonias urbanas e das saciedades liriais
Quando tudo é só um grito de horror e os sonhadores sofrem
Como zumbis numa sociedade bizarra de bezerros com chips
Mais os sem-nome, sem-terra, sem-teto, sem saída, sem amor?

Para onde vão os poetas que se escrevem em dolorosos banzos-blues
E disparam torpedos de uma geração-teflon entre placas-mães
Tentando recuperar estimas que são lágrimas a seco
Num Brasil Sociedade Anônima em que a cultura é nicho
De neomalditos, de excluidos da mídia, de sonhadores sem grife?
Porque escrever é resistir; é dar forma a uma não-formalidade
Como se cada um gritasse seu grito individual, solitário, feito um indigente
Que procurasse pólvora na poesia, fósforo na fé, carbono nas tintas íntimas
Tentando refazer o próprio mundo muito além das placas de captura
E onde a própria realização é morrer para dar-se a ouvir como um eco num abismo?

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Para onde vão os poetas quando jovens e quando e morrem cedo?
Talvez um silêncio explique a perda, o vazio, a dor de existir
Entre regras falsas, deturpações sociais, tristes vazios culturais
Porque a morte é um protesto, uma fuga, o mais triste poema que existe
E sendo a saudade a mais pura forma de amor que resiste também é
Um grito contra as dilacerações transformadas em linguagens contra a própria indiferença...

-0-

Silas Correa Leite, Itararé-SP
E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net
Autor de O HOMEM QUE VIROU CERVEJA, Crônicas, no prelo, Giz Editorial, SP

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