sábado, 18 de abril de 2009

O Mito Elvira Pagã, da Dupla "Irmãs Pagãs"





O Mito Elvira Pagã – Da Dupla Irmãs Pagãs


Elvira Pagã, nascida em Itararé, São Paulo, da dupla Irmãs Pagãs, foi cantora, dançarina e também uma chamada “vedete” dos importantes e populares teatros de revista na década de 50, considerada então um dos”mitos sexuais” do Rio de Janeiro, na década de ouro da MPB em áureos tempos de Noel Rosa. Foi das primeiras artistas brasileiras a explorar o impacto do nudismo, disputando com Luz del Fuego o espaço nos noticiários da época. Tendo um belíssimo corpo para os padrões da época, Elvira Pagã mexeu com a cidade do Rio de Janeiro, promovendo Copacabana no mundo todo, sendo a primeira Rainha do Carnaval Carioca. Elvira Olivieri Cozzolino “Pagã”, como se popularizou, expunha o corpo perfeito e ainda tinha idéias bastante ‘modernas´ para a época, tendo sido a primeira mulher de destaque artístico a usar biquíni no país. Era muito divertida, alegre, como ainda se pode ver nos filmes (chamados chanchadas) em que ela participou com brilhantismo, algumas obras cinematográficas conhecidas como "Carnaval no Fogo", trabalho ousadíssimo para a época. Certa feita, em Copacabana, na praia rasgou o maiô (trabalhado de um tecido come penugem dourada) e o adaptou a duas peças, costume que só usava no teatro rebolado, tendo ficado muito conhecida no mundo todo exatamente por causa disso. Fez oito filmes, como O Bobo do Rei (1936), Cidade-Mulher (1936), Alô, Alô Carnaval (1936), Dominó Negro (1939), Laranja-da-China (1940), Carnaval no Fogo (1949), Aviso aos Navegantes (1950) e Écharpe de Seda (1950). Rainha do Carnaval durante muitos anos ao longo da década de 50, criou o erotismo nos bailes quentes da época, tipo Boate Arpège e Cassino Icaraí. Foi a primeira mulher brasileira a fazer plástica nos seios, tendo posado nua e distribuido a foto como um cartão de Natal. No auge da vida, carreira de sucesso, lançou um livro chamado "Elvira Pagã -Vida e Morte".Casou-se aos 13 anos com um homem de 39, vivendo num apartamento de Copacabana sustentada pela irmã viúva de um grande milionário estrangeiro. Excursionando peplo país, conhecida no exterior como The Original Bikini Girl e The Brazilian Buzz Bomb, Elvira Pagã provocava verdadeiras enchentes nos cabarés e teatros de rebolado que lotavam com seus espetáculos. Por seus atributos físicos e mesmo uma vida polêmica, provocou devastadores romances. O perigoso bandido Carne Seca forrou a sua cela com fotos dela, e numa em que a vedete encosta-se numa pele de onça, lia-se a dedicatória: “Para Carne Seca, um consolo de Elvira Pagã”. Nos anos 60 ela se recolheu, como faria Odete Lara na década seguinte, saindo da vida artística e da vida social, dizendo não precisar de amantes, se intitulando sacerdotisa, e que estaria ligada a discos voadores e à Atlântida, criando então uma espécie de seita, denominada Doutrina da Verdade. Rita Lee, artista do rock-pop brasileiro, a chamada Rainha do Rock, fez uma bela música chamada "Luz del Fuego", no tempo do Tutti Frutti, depois, com o Roberto de Carvalho, fez uma outra canção chamada "Elvira Pagã". Elvira Pagã que nunca retornou a Itararé, faleceu no Rio de Janeiro com oitenta anos em 8 de maio de 2003.

Dela, Antonio Junior, um de seus maiores admiradores, escreveu:

ELVIRA PAGÃ: MINHA GAROTA FAVORITA (Fragmento)

Antes do escurecer, num verão quente de 1949 na carioca Avenida Rio Branco, uma multidão delirante não tirava os olhos de um carro alegórico decorado com cachos de bananas. No topo, como uma deusa do pecado, a Rainha do Carnaval, Elvira Pagã, nome profano de Elvira Olivieri Cozzolino, que exibia um corpo fenomenal num ousado traje de banho dourado, depois que sua capa estilo toureiro fora arrancada pelos fãs. Ela rasgara um maiô, adaptando o modelo "duas peças" usado no teatro rebolado, lançando oficialmente o biquíni num Brasil repressor e moralista. Gritava-se por todos os lados: "Olha a Elvira Pagã! Olha a Elvira Pagã!". Um show de coxas, seios e umbigo. Morena de cabelos longos e sedosos, 90 cm de busto, 55 de cintura e 90 de quadris, mostrava sem inibições o lado “fora-da-lei” feminino. Um corpo celebrado que provocou histeria, brigas, prisões e até um suicídio, o da jovem Wanda Eichner, que antes de partir dessa para melhor deixou um bilhete: “Declaro que o motivo de meu suicídio é a paixão que sinto por ela. Sou uma invertida sexual. Eu gosto de mulheres. Apaixonei-me loucamente por ela. Disse que a amava, não pude mais suportar, declarei-me. Mas Elvira Pagã recusou-se terminantemente a cooperar comigo. Desiludiu-me totalmente e tomou uma atitude que me fez perder a esperança por completo. Amá-la-ei eternamente. Por ela darei a minha própria vida”. Reinando no Teatro Recreio, na Boate Arpége e no Cassino Icaraí, no Rio, ou no Nick Bar paulista, de 1949 a 1962, Elvira Pagã fazia parte da popular lista das certinhas de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, ao lado de mulheres exuberantes do teatro de revista como Virgínia Lane, a queridinha de Getúlio Vargas, Luz del Fuego, Anilza Leoni, Mara Rúbia e Angelita Martinez. Dora Vivácqua, a Luz del Fuego, ganhava a vida enrolando-se nua em cobras e desafiando quem as matasse sem esmorecer o porrete. Em 1956, na Ilha do Sol, a 15 minutos de Paquetá, ela criou o primeiro clube de nudismo do país, onde muitos anos depois foi assassinada a machadadas. Nos anos 80, Lucélia Santos, dirigida por David Neves, protagonizaria a história de sua vida no cinema.A paulista de Itararé, Elvira Pagã, ainda não teve a sua escandalosa e corajosa biografia filmada, mas participou de oito comédias ingênuas: O Bobo do Rei (1936); Cidade-Mulher (1936); Alô Alô Carnaval (1936); Laranja-da-China (1940); Carnaval no Fogo (1949); Dominó Negro (1949); Aviso aos Navegantes (1950); e Écharpe de Seda (1950). Um dos mais populares, a chanchada Aviso aos Navegantes, se passa num luxuoso navio, onde uma companhia teatral, com Eliana e Adelaide Chiozzo, retorna ao Brasil depois de apresentações em Buenos Aires. Na embarcação está um príncipe e um perigoso espião internacional. No poderoso elenco da produção da Atlântida, Oscarito, Grande Otelo, José Lewgoy, Zezé Macedo, Dalva de Oliveira e Emilinha Borba. Morando num quarto luxuoso no Hotel Glória, com as pernas elogiadas por Errol Flynn, manchete de jornais e capas de revistas, ela começoucantando com a irmã Rosina na dupla As Irmãs Pagãs, na década de 30. Mas não tardou a iniciar sua carreira-solo. Em dezembro de 1944 estreou Paganíssimo, na Rádio Nacional, e no Teatro Recreio fez musicais como Moulin Rouge e É Rei, Sim.Comandou também os shows noturnos Isso Faz um Bem, E o Negócio...Tá de Pé, O Pecado em Sete Véus e Muita Máscara e Pouca Roupa, entre outros. Filha de pai norte-americano e mãe paranaense, foi raptada pela própria mãe aos 4 anos de idade e, aos 13, casou-se com um homem rico, Theodoro Eduardo Duvivier Filho, de 39 anos, no que afirmava ter sido o segundo rapto de sua vida e o primeiro estupro. Depois foi para o mundo artístico, transformando-se num símbolo erótico. Sua vida privada continuou marcada pelo tumulto. Em 1951 foi presa pela primeira vez, envolvida numa briga no famoso Nick Bar, freqüentado por artistas do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). “Os homens não me deixavam em paz, provocando confusões. Que culpa tinha eu de ser tão boa?”, disse numa entrevista. Em 1956 realizou uma exposição na Galeria Nagasawa, em Copacabana, com 20 telas a óleo de sua autoria. Escreveu alguns livros, entre eles Revelações e Vida e Morte, chegando a ocupar a cadeira de número 12 da Academia Paulista de Letras. Um deles escreveu com o pulso enfaixado e o braço esquerdo paralisado após tentativa de suicídio, datilografando com a mão direita: “O mundo é éter! O éter é vida! E a vida é o gozo final!”. Depois de uma de suas prisões, gravou um samba-canção de grande sucesso, Cassetete, Não, no qual denunciava e ironizava os maus-tratos infringidos pelos policiais, e popularizando-se de tal forma que até os cômicos travestidos o cantavam imitando-a:

Eu que nem bem conhecia Aquele estranho rapaz... Me viu sentada com outro, ai! (bis) Cassetete, Não! Cassetete, Não! Não adianta tu não terás meu coração...ai! Vendo que não conseguia Me derrubar o cartaz Pra que eu ficasse marcada...ai! (bis) Mandou-me aprisionar Cassetete, Não! Tu não terás meu coração...(bis) Cassetete, Não!

Excursionando por todo o Brasil e conhecida no exterior como The Original Bikini Girl e The Brazilian Buzz Bomb, Elvira não desistia de afrontar a moral, provocando verdadeiras enchentes nos cabarés e teatros de rebolado. Depois de operar os seios, posou nua e distribuiu a fotografia como cartão de Natal, reafirmando-se como sinônimo de escândalo, atentado ao pudor, imoralidade. Por seus atributos físicos e audácia provocou incontáveis e devastadoras paixões, confessando numa de suas últimas entrevistas: “Foi uma orgia só”. O perigoso bandido Carne Seca forrou a sua cela com fotos dela, e numa em que a vedete encosta-se numa pele de onça, lia-se a dedicatória: “Para Carne Seca, um consolo de Elvira Pagã”. Desesperado, o marginal tentou fugir da prisão inúmeras vezes. Nos anos 60 ela se recolheu, como faria Odete Lara na década seguinte. Saiu da vida artística e da vida social. Dizia não precisar de amantes e se intitulava sacerdotisa, ligada a discos voadores e à Atlântida, criando uma seita, Doutrina da Verdade. Morreu em 8 de maio deste ano, aos 82 anos, de falência geral dos órgãos, na Clínica Santa Cristina, em Santa Teresa. Não teve filhos. Sua família levou o corpo para uma estância hidromineral do Sul de Minas e a manteve escondida até a morte. (Antonio Júnior )
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Elvira Pagã (nome artístico de Elvira Olivieri Cozzolino) nasceu em
Itararé, interior de São Paulo, cidade de divisa do o Paraná, em 6 de setembro de 1920 , foi atriz, cantora, compositora e a maior vedete brasileira. Mudou-se ainda pequena, com a família Itarareeense, para o Rio de Janeiro, onde estudou em colégio de freiras chamado Imaculada Conceição. Ainda estudante organizou junto com a irmã Rosina (com a qual depois fez a dupla de sucesso chamada “As Irmãs Pagãs”, diversas festas onde travam relações com o meio artístico carioca, sobretudo com os integrantes do Bando da Lua. Ainda na década de 30 realizam um espetáculo de inauguração do "Cine Ipanema", junto com os Anjos do Inferno, ocasião em que recebem de Heitor Beltrão o apelido de "Irmãs Pagãs" - que então adotam para o resto da vida, tanto para a parceria, que dura até 1940, ano em que Elvira se casa e termina a dupla, como nas respectivas carreiras solo. As irmãs realizam um total de treze discos, juntas, além de filmes como Alô, Alô, Carnaval, em 1935, e o argentino "Tres anclados en París", de 1938. Elvira torna-se uma das maiores estrelas do Teatro de Revista, A beleza e sensualidade fizeram-lhe a fama, sendo uma das "sexy symbols" mais cobiçadas da época. Foi a primeira Rainha do Carnaval carioca - inovação nos festejos momescos, mantida até o presente. Foi responsável direta por uma das tentativas de suicídio do compositor Assis Valente, ao lhe cobrar, de forma escandalosa, uma dívida. A partir da década de 70 torna-se pintora, adotando um estilo esotérico, sem grande destaque nesta nova iniciativa. Com a maturidade foi se tornando misantropa e temperamental, evitando qualquer contacto com as pessoas, sobretudo a imprensa e pesquisadores. A morte somente foi divulgada após três meses da ocorrência, pela irmã, que morava nos Estados Unidos.

Silas Correa Leite
E-mail:
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