sábado, 31 de julho de 2010

Leticia Palmeira e o Livro Artesã de Ilusõrios

Pequena Resenha Crítica


Livro “Artesã de Ilusórios” - Um Tremendo Bordado Literário de Letícia Palmeira


A compreensão não é um saber abstrato.

É um saber em ação.

Paulo de Camargo



-Mas, afinal de contas, o que é mesmo que Letícia Palmeira escreve? Como classificar sua primeira obra, a estréia em alto estilo, de salto alto? Conto, crônica, ficção, prosa em verso, prosa poética, derramas subjetivos, criações letrais, pirações, qual a classificação narrativa do exuberante livro “Artesã de Ilusórios”, Editora Universitária, UFPB, 2009? Essa é a questão.

Você começa a ler e, baba baby, fica encantado; acha que está entrando num conto, depois periga ver é ensaio, quando não começa meio croniqueta e vira conto, ou vice versa, para não dizer que não falou de flores, ela entra e sai toda prosa de narrativas mirabolantes que seduzem, cativam, tornam o livro um mosaico de tudo o que ela purga, fermenta, depura; olhar de artista descrevendo a vida, com paradoxos, entraves, janelas abertas de sua alma em jorro letral. Já pensou? Artesã de Ilusórios, é, talvez, mas só talvez, uma heroína insatisfeita buscando-se a si mesma, auditando valores existenciais, momentos, transgressões, tentando a autenticidade num mundo perdido, degradado...

-A mulher e flor-fêmea no exercício exuberante de toda a sua existencialização enquanto alma pensante, transbordando, dando corajoso testemunho, quando retrata, recolhe, registra e diz a que veio. Talvez para pensar a vida em que habita, levita, constrói e resgata peculiaridades em verso e prosa. É a mulher que não se basta, não se contém, não se enquadra. Somos continuações. Letícia Palmeira é a liga. Escrevendo ela se dá inteira, questionadora, a consciência-passageira no viço da vida, buscando a felicidade de participar, enxergar, se inserir inteira na paleta sensível de seu estar em si. A artesã que escreve é isso.

-Artesã de ilusórios tem guardados incontidos, com suas vertentes, feito um rosário de parágrafos, de palavras bem torneadas. O texto sagrando a lida da vida. Romântica e crítica. Com seus conceitos e incompreensões que mapeia, entre afetos e circunstancias de viver e ser. “O mundo de janelas abertas. São palavras em terno e gravata, grávidas, idosos, infantis, famintas e libertas. Palavras são a certeza e a visão concreta das dúvidas”. (Pg. 21, Afeto Literário). Essa é a prosa viçosa dela, formada em Letras pela Universidade Federal da Paraíba.

Fala de bichos, gatos, elefantes, dragões, e também do bicho-homem, o bicho-ser, no olival bem ilógico da vida. Quer o arsenal dos verbos. A vida é crucial? Qual é a imagem de nós mesmos no contexto de uma sociedade adultizada e machista? Não, não podemos fugir do lugar e estar que somos. Ou podemos, no escreviver, os destemperos alucinados? No tear de Letícia Palmeira, de anjos a borboletas, cercando o circo da vida. Compondo ou recompondo. tudo. Flores e árias. Clarões. E ela mesmo também ri-se de si, do que agrega, do que envolve com sua criação “Tabuada decorada para dias de prova – Pg. 47, Flor de Decassílabo.)

-Coletivo de pluralidades. Janelas. A madura escritora Letícia Palmeira pinta o quadro do que registra. “Vestígios de mim em outra face, num disfarce de casa antiga querendo mudar de lugar. Pg. 63, Janelas da Voz. A Mãe de Pedro arde em si, evoca almas, momentos, cicatrizes, faz um espólio de tudo. Como Clarice Lispector, poda-se para permanecer inteira e sempre na florada. O submarino amarelo é mais embaixo. A vida tem seus subterrâneos, de anjos a demônios. O amor também pode ser uma droga? Ela é cheia de questões, feminina e lúcida. Poeta a parir prosa feito artesã de si mesma. Se não nascemos inteiros, vamos nos fazendo. Assim é a escritora Letícia Palmeira.

-Traz as compotas da vida em palavras. Os potes de açúcares literais. Diz do homem desconexo, de filosofias e ervas. A vida o que é? Fala de flores e de sabão em pó, fala de sol e de lua, de madalenas e banheiros. Será o impossível? Que perigo é uma mulher pensadora, sentidora, criadora, na plena posse questionadora de si e do que a cerca? A literatura de pequenos espetáculos resgatados. Ah os origamis dos dias...

-Quando escreve é só uma espécie de strip-tease, em que desnuda a vida em toda a sua magnitude? Que labirinto é o pensar/sentir/amar, um quebra-cabeças em que se situa sensual, come e bebe de literatura cozida em vapor de existencialização, feito um fio de Ariadne para ramificar a sua própria contemplação?

No livro, Zélia Farias (Especialista em Língua e Literatura Anglo-Americana pela Universidade Federal da Paraíba) muito bem diz: “Letícia foi Alice um tempo(...). Já era o tempo em que se cercava a Mário Quintana, Clarice Lispector, Virginia Woolf, Ana Cristina César, Lygia Fagundes Telles (...)”. Existir é a arte da paciência sem tédio ou remorso, ou muito pelo contrário? Letícia Palmeira é a busca viva desse entendimento. Mia Couto (in, Último Desabafo de Arcanjo Mistura), diz que esse mundo não é falso. Esse mundo é um erro. Será o impossível? Ah o solilóquio da reflexões depuradas!

-Na sua exuberante literatura, Letícia Palmeira escreve recortes de vida, páginas de angústia e desprendimento, paradoxos e cisternas, olhares plangentes, fragmentos e matizes corajosos, prosa e poesia, um verdadeiro liquidificador de idéias e cobranças a partir disso, feito uma artesã que junta carne e luz, céu e terra, caracóis e pedras, defeitos de fabricação e peças de reposição, coletivos e plurais.

O mundo está dividido entre magoados e inquietos, disse Gabriel Garcia Marques. Nem sempre a lágrima é a medida de todas as coisas. Ler Letícia Palmeira é um deleite. A flor corajosa da arte e da vida, numa linguagem que situa a lucidez e a criatividade. A mulher exercitando a sua plenitude. Daí, a literatura pura.

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Silas Correa Leite – Autor de Campo de Trigo com Corvos, Contos, Editora Design

E-mail: poesilas@terra.com.br
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domingo, 25 de julho de 2010

Geraldo Lima, Romance UM


Romance UM, Geraldo Lima, Editora LGE, Resenha crítica Silas Correa Leite

Pequena Resenha Crítica

Romance “UM”, de Geraldo Lima – O Discurso Amoroso da Dialética Consciencial



“Estou farto de muita coisa (...).
Eu quero a destruição de tudo o que é frágil”

Roberto Piva


O que pode o ser humano, senão, entre seres humanos, AMAR?. Parafraseando o poeta, é isso o que se dá, naquilo que Cazuza chama de sua metralhadora cheia de lágrimas, em Um, o romance de Geraldo Lima, LGE Editora, uma dialética do discurso amoroso em que permeia a consciência, o paradoxo, o ser humano (no caso, sensível), entre seres humanos, AMANDO. E com tudo isso, claro, a narrativa que vai e volta, choca e instiga, se esconde, aparenta, cita, permeia, desce e sobe, sempre sob o pântano da condição humana nas relações humanas. Será o impossível? Geraldo Lima debuta e enlaça narrativas como quadros cênicos dessa relação amarga-doce, bonita-feia, alegre-triste, sensual-bizarra, mas, antes de tudo, como as cartas de amores são ridículos – olha o Fernando Pessoa! – romances de amor nesses tempos pós-modernos também. Pior, se entre o sagrado e o profano, a carne e o sangue, o santo e o convexo, vivenciam diálogos impertinentes, bem costurados com arrojo de criar sem cair na pieguice romântica do quase ou tanto... pode se dizer que o amor acaba mas a saga continua. Ex-amores são para sempre?

Pois é: o amor tem sim, loucura que a própria lucidez desconhece.

Como se descascasse uma cebola de relação que ameaça, explicita, sai de cena, pensa-se, o autor vai retaliando a relação, fatiando sofrências, acontecências, dando tempo ao verbo e o verbo se faz carne, como se faz tensão, solilóquio, espírito e carranca. Olha a consciência como leitmotiv. Ana é o fio de Ariadne ou Ariadne é uma consciência sagrada pesando, fio condutor, para um interlocutor (interlocutora – a consciência?) onde sempre depositamos o pão e o vinho, do que se vem da carne nas relações proibidas/permitidas, só sonhadas, quem o sabe? Crime e castigo? Ah o crime de amor que faculta o existir... A consciência é a serpente que envenena intenções (ou possíveis intenções em treva branca), ou clarificando pensares, ilações/alusões, faz um inventário de partilhas íntimas, abre véus, aponta o que existe e até o que não existe?

Geraldo Lima demonstra isso aqui e ali, teatrizando ora o possível, o entendido como havido, o medo de algo-alguma coisa, resvalando ora na poesia, ora na prosa, ora meio que lispectoriano sem perder a mão (e a ternura) jamais. Gostoso lê-lo.

A Ana que foi (foi?) e já não é. A Ariadne que poderia ter sido e não foi. O entremeio, o intertexto, as citações, o seminário (que aqui vem de sêmen?...); o possível pecado de, o padre e os estudos, o corpo, a devassidão; nunca completam de uma perdição cobra-cega no paraíso do contar. Que consciência é o divã? Divã de idéias; divagar delas, ah o romance como fio de meada, fio de Ariadne, olhar enviesado, tirar de véus, entrecortar, contando, entrecontar, cortando, pinceladas mágicas de ternura, sensibilidade, como se tudo entre quatro paredes, o voyouver, e vai por aí o bolero-(tango-)mixórdia da contação. O castiço a rapariga, o mortiço dos ambientes propositalmente turvos, e o sexismo, o amor e o pudor. UM, o Romance de Geraldo Lima poderia também se chamar Inferno, fosse invocada a consciência como narradora. Tudo bem, é o espírito que ama o espírito, antes do corpo amar o corpo... isso, nas fáceis vidas difíceis, mas, entre uma sedução e um seminarista, tudo ralhado, há bulhas e cismas. Periga ver. Sentir, chocar com o olhar do que conta o vai-da-valsa, com um medo-coisa, uma solidão-embuste, uma aparência que, sim, engana. De propósito?

Depois que conhecemos o amor, em que lugar (de nós) deixamos as asas? Extremos e lumes. Sangria desatada a... de novo, consciência... repigando sentimentos e ressentimentos. Tudo a ler.

Que cenário é a mente, a casa, a história, lugares nenhuns, todos os lugares? Paulo tece os momentos que passou com Ana, a quase fêmea-fatale (não são todas?), a mulher-aranha com quem morou por algum tempo. Fala da amiga Ariadne, tece acontecimentos e pessoas como referências de vida de passagem. E há o padre Artur, que lhe foi uma espécie de mentor. Com o autor caímos na redoma de vidas, além, claro, de uma sua experiência transformadora que nos leva a reflexões ora incabidas, ora insabidas, ora sagraciais. Sim, meus irmãos, cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é, e o que não é. Cada um sabe de que luz faz cruz, de que devaneio faz sentimento, de que santeria interior faz nau insensata, de que atitudes impróprias congela momentos, visões, prismas. Escrever é colocar dúvida em nós mesmos, a partir de olhares novos sobre frinchas revisitadas.

UM é isso: um romance sempre no começo de uma relação que é posterior e anterior ao seu tempo estagnado, mas que viça pela palavra, se alonga, debulha, questiona, avalia e até trinca intenções. Há entrelinhas no ler...

Que milagre é amar e escapar ileso? Escrever é lembrar, lembrar é escrever/ascender (e acender velas na solidão de uma alma em conflito). Depois que um corpo conhece outro corpo, fugir é mergulhar nele, mesmo que seja num palavrear confeitos, contrastes e ramificações do verbo sentir. E pensar é sentir com a alma. A carne é fraca, meus irmãos, o Romance UM foge do cepo da consciência, para cair no labirinto das confrontações. Um romance e tanto. E atual, moderno, nesses tempos em que uma igreja decrépita mostra as vísceras, em que a nódoa da historia nela depositada é remorso, e em que os que passam pelo genuflexório têm que rezar defeitos, lamúrias e resignações de fugas ainda não depuradas. Há um Deus? Periga ver.

A correnteza da narrativa é o contra-fluxo do medo de amar até a página tal, o lado b do que se passou. Há coisas no ar. UM é apenas o começo do zero ao infinito. Tudo pode ser, como também não. Tudo pode ter acontecido, como pode ser um delírio bem orquestrado entre o que houve e o que se coube na relação até o limite do provável.

A mão que oferece a maçã, oferece o delírio do corpo, da carne, do afeto trocado. Amou tem que rezar? A cartilha do amor é o corpo do êxtase levado ao destempero. Amar e sofrer. A corrupção do corpo. A delação da mente. Turvamos o historial para sentirmos a transparência de nós mesmos? Mia Couto dizia que a melhor maneira de mentir é ficar calado. E narrar o questionável? Si, sem o prazer não podemos parecer humanos. E o humano em nós desmonta o falso-sagrado em nós. Escrevemos para medir o destino, ou o amor é um erro?

Geraldo Lima é professor de literatura, e conhece do oficio de romancear. Tem outras obras, alguns prêmios, retrata as relações humanas levadas ao extremo, entre o zelo, entre a mancha; do achado entre o perdido, das neuras e dos perigos letrais das relações amorosas, feito um discurso da posse de, da libertação de, dos atropelos de.

Amar se aprende amando, diria o poeta. Há muita poesia no Romance UM de Geraldo Lima. Ler a obra é desnudá-lo. Ficamos cegos de tanto sentir, ou ler é tirar as tintas e panos do que ele conta, para sentirmos na pele que o livro vai além da experiência mística que inventa de contar?

Que hamster é o ser humano para o suplicio do conviver entre desiguais? Primatas querendo ser divinizados experimentam os horrores das contundências.

O Tibete talvez seja descobrir o humano em nós, depois que passamos tanto tempo no piloto automático da vida infame. E aí entra o amor na sua mais pura devoção, mesmo que paralelo ao medo do fotógrafo que retrata em nós a entrega despudorada, o inominável da submissão à carne, a tarja preta e o código de barras feito sermos todos nós ainda e assim, por isso mesmo o Número UM, introspectivo ou não, daquilo que sabemos de nós, entre o defensor e o algoz, a consciência e a circunstancia de.

O escritor é o que, com uma lanterna, procura o número que somos, que parecemos, que multiplicamos em silêncios, palavras, moinhos de ventos, filtrações e sagradas escrituras. Sagradas?

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Silas Correa Leite – Poeta, Ficcionista, Resenhista
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design
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Escritor Geraldo Lima







segunda-feira, 5 de julho de 2010

SAMPARAGUAI, Regurgitando Roberto Piva






Samparaguai, Regurgitando o Escárnio


E para que ser poeta em tempos de penúria?

Roberto Piva

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A grande metrópole de Sampa entregue a tantos demônios
De máfias e quadrilhas do crime organizado paraestatal
(Inclusive o miolo formal das privatarias, privatizações-roubos)
Pela falsa lei de oferta e procura com subornos no entorno
O mercado-cadela parindo monturos de rejeitos sociais
O narcocontrabando informal e os new-richs da terceirização
Prostitutas, travestis, e os excluídos sociais entre favelados
E marginais baratos rendidos ao jogo de aparências e ao crack
Na cidade grande o núcleo do charco iluminado pra consumo
Entre estátuas e cofres e restos de seres entre tantas vendas
A consciência-formiga querendo o açúcar das noites efêmeras
Entre a tecnologia cabritada e a sensibilidade hollywoodiana
Numa augusta sampa que cria modelitos para o resto do Brazyl
Embrutecida urbe de escarros e dejetos entre abraços de palhas

Totens, bancos, catedrais - e parasitas de todos os estilos
Personagens bizarros, decrépitos; revistarias de novidades sórdidas
O álcool-íris das cirroses letrais como furos de labirintos e panelas
Arames-fariseus, lamúrias com discórdias consentidas
E jugos superiores no status-quo a preço de vidas descartáveis
E a cidade grande feito Samparaguai sitiada entre guaritas
Pelo cinturão verde da muamba chinesa entre parasitas
E o dólar neoliberal do neoescravismo inconsequente

Tabletes de felicidade química em pó marmóreo sulatino
Ah Geração Teflon que esquenta mas não quer aderência
Cérebros-barrinhas-de-cereais com esquisitices exóticas
O bordel excelência da Avenida Paulista de liberais escrotos
As máfias da expropriação et caterva por atacado
Os cérebros nanicos de aluguéis gerando lucro com a fome
As proust-trutas de uma peregrinação miserável para a sobrevida
O câncer social via Pinóquio de Chuchu e outros leprosários
Tudo um gigante Carandiru a céu aberto com bandeiras do Brasil

Os beco-hambúrgueres ardis, estacionamentos-cidades hostis
Os guetos-tubainas, cortiços e a sofrida periferia S/A
As oxige-nadas da alta sociedade num podre pop-star
A tevê que esconde a senzala mas se mostra cloaca
O governo paralelo do crime organizado nutre e viça
As propinas estatais pró-partidárias de tucanos insanos
Professores ganhando salário de mendigos na exclusão proposital
Quadrilhas em praças de pedágios entre brucutus fantasmas
E o cogumelo do self; a sopa de egos-bandeirantes, assaz sina
Tudo putrefetado em modus operandi ordem e progresso
A nova mpb que não é nova não é popular e não é brasileira
A cultura pindorama miojo-nojo de almanaque de ocasião
A sazonal oposição caça-níquel à república de Brasília

Os operários da web com barrrigas de tanquinho e links dúbios
Na esquina da Ipiranga com a São João a máfia dos transportes
E Samparaguai prevaricando improbidades públicas
O minimo estado cínico corrupto e inumano e amoral
O patê de víboras na sala vip das autoridades histéricas
O som jeca com grife, na orgia pagã-pirata, a elite branca
O cadafalso do rodo-anel que foi um tremendo roubo-anel
O cassino estaiado superfaturado para agradar a gregos e baianos
Sociedade hipócrita de sampa e seus universos paralelos, primatas
A midia-nódoa, o crime de obras inúteis sem castigos sonhados

O lucro fóssil, o poder camarão, os caras de pau
Marginais engabelando capos de surubas com erário público
As tecnologias de cipós entre regimes de exceção e arbítrio
O turismo lepra, pedofilias e tráfico de influências sistemizadas
Ongs de araque em campus minados de consciências com glosas
O centro velho entre velhacos de porões e arranha-céus decadentes
Nas periferias mutantes com machadinhas de raps mandorovás
As tetas do capitalhordismo americanalhado e circo e pão e brioches
Descarregos-pivôs entre o boi-bumbá e os migrantes com ódio-ópio
E os orientais chegando... chegando... para o futuro chino-brasilis
Depois do afrobrasilis-tupídavidico e suas orgias natividades...


Os nóias filhinhos de papai em clãs falsos como notas de três reais
Os seres-reses em situação de rua - não constam em estatísticas
O morumbi (se gritar pega ladrão não fica um na geografia-beronha)
As importações insensíveis e o medo de mudanças que mudem mesmo
A mágica do dezelo público impune re-elegendo quem rouba e diz que faz
Discórdias sindicalizadas com pelegos no flanco querendo levar vantagem
Caras pintadas subjugados com medo da cota dos negros aos brancos
Condomínios sitiados por favelas, enchentes e ladrões de faróis
A Máfia do Lixo em contratos que cheiram mal e se consumam

(Trombadinha é a fome)

A bela prostituição generalizada de grosso calibre
As pegações-ping-pong dos estábulos entre jecas e rodeios criminosos
A manada de parangolés embrutecidos pela cidade desmiolada
Futebol-marionete entregue ao deus-dará da lavagem de dinheiro
A antimateria, a antipoesia, a marginália querendo gangrenar miolos
Tecnologias efêmeras, assédios de consumos em amebas com grana
Uma espécie de sub-rota para uma fuga em massa pra Miami-Esgoto
Alckmin, CPIs abortadas, bem parecendo um genérico de Collor-cover
O ladrão municipal e o ladrão estadual no mesmo antro cordial
Criticando uma Brasília federal com seus asnos e seus sonhadores
A justiça caolha e canalha de uma elite sem pudor em falsos credos
A imprensa marrom de um caostólico que cheira a formol
O padre-circo, o pastor-bunker, o espírita flanelinha num bat-macumba
E os jumentos da espécie entre universiotários e o sertãonojo
De brasis gerais em sépias de gruas entre o cimento armado

Os demônios do lucro amoral, riquezas injustas, propriedades-roubos
Lucros impunes - e os emo – ai de ti paulicéia desvairada
O rei rói a roupa do rato do maracatu atônito
Alguma brega parada suspeita, ou balada ou rave
O luxo-fusco: compram e gastam para saciar rebeldias inócuas
Lexotam: tomam coke zero e arrotam poses com flatulências sonoras
As tetas da vaca sampa suga sangue suor e a alma
De crianças e jovens, entre grades e aparelhos no dente como gps

E somos todos engabelados pelo corvo do consumo vil, na volúpia
Um Samparaguai sujo pela marginália de tantos num cardume
Entre fracassos-drops e casagrandes de oprimidos

Não conduzimos: somos conduzidos

Basta ver

No poder

De terno, gravata, túnica, toga, farda

E colarinhos brancos, os bandidos!


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Silas Correa Leite
E-mail:
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